Cuidados paliativos na pandemia Covid-19: além dos ventiladores e salvando vidas

Quais os principais desafios envolvidos na prestação de cuidados paliativos na pandemia de Covid-19? Confira o plano de manejo e outros desafios.

No final de março foi publicado um artigo na revista canadense CMAJ falando sobre os desafios envolvidos na prestação de cuidados paliativos na pandemia de Covid-19 com o título adaptado acima.

médico levando paciente para UTI para cuidados paliativos na covid-19

Cuidados paliativos e Covid-19

Seguem abaixo alguns pontos-chave:

  • Haverá sobrecarga do sistema de saúde além da capacidade e os serviços de CP serão necessários na maioria dos cenários de atendimento como: unidades de terapia intensiva (UTI), enfermarias, departamentos de emergência e instituições de longa permanência;
  • A tomada de decisão compartilhada entre médicos e pacientes é central principalmente no final da vida, porém no contexto da pandemia a autonomia do paciente para escolher medidas que prolonguem a vida ou o local de morte será afetada por diretrizes de saúde pública e disponibilidade de recursos;
  • Epidemias anteriores ensinaram muito sobre melhor forma de triar pacientes que necessitam de cuidados, e parte desse trabalho pode ser adaptada aos cuidados paliativos; mas pouco foi escrito sobre como gerenciar aqueles que não recebem medidas de sustentação da vida;
  • Aconselha-se agir logo para armazenar medicamentos e suprimentos usados em cuidados paliativos, treinar a equipe para atender às necessidades de cuidados paliativos, focar em populações marginalizadas para garantir que todos os pacientes são tratados de forma equitativa;
  • A pandemia tem sido trágica para muitas pessoas em todo o mundo. Deixar de fornecer cuidados paliativos eficazes aumentaria essa tragédia.

Leia também: Por quê Cuidados Paliativos na pandemia de Covid-19?

Manejo

É destacado também um plano de CP de manejo do Covid-19:

  • Disponibilizar medicamentos utilizados no manejo de sintomas (morfina, haloperidol, midazolam e escopolamina);
  • Suspender regras que limitam a disponibilidade e prescrição de morfina injetável;
  • Disponibilizar materiais para administração de medicações, incluindo agulhas/jelcos para acesso subcutâneo (hipodermóclise), além de bombas infusoras, equipos…
  • Disponibilizar equipamentos de proteção individual (EPI’s) para profissionais de cuidados paliativos em ambientes de cuidados prolongados e comunitários;
  • Identificar e mobilizar todos os clínicos com experiência em cuidados paliativos;
  • Capacitar/ educar profissionais da linha de frente sobre o manejo de sintomas para doenças respiratórias agudas, enfatizando a segurança dos opioides direcionados a sintomas como uma opção precoce;
  • Envolver profissionais de saúde aliados para fornecer apoio emocional aos pacientes e apoio à tristeza e luto aos membros da família;
  • Identificar enfermarias separadas e áreas não clínicas em locais agudos apropriados para aqueles que se espera que morram, ou seja, unidades de cuidados paliativos para pacientes com Covid-19;
  • Adotar um sistema de triagem para determinar quais pacientes necessitam de consulta especializada em cuidados paliativos e quais pacientes podem ser vistos virtualmente;
  • Os profissionais devem revisar os planos de cuidado quanto à instituição de medidas avançadas de suporte à vida em pacientes doenças crônicas avançadas (ex.: câncer avançado, DPOC/ICC/IR estágio final, síndromes demenciais) É improvável que sobrevivam e se recuperem após a admissão em uma UTI;
  • Maximizar o uso de telemedicina, tanto para eficiência quanto para reduzir infecções;
  • Os profissionais de CP devem atentar para pacientes marginalizados. Quando o sistema de saúde está sobrecarregado, a desigualdade sistêmica piora;
  • Protocolos para triagem de cuidados intensivos podem ser implementados. Pacientes que não recebem cuidados críticos devem ser a principal prioridade dos cuidados paliativos. Todos os pacientes devem ser atendidos.

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Encaminhamento para cuidados paliativos

Há sugestão de uma ferramenta de triagem para encaminhamento aos CP.

Médicos que não são especialistas em CP (hospitalistas, médicos de família, intensivistas, enfermeiros) devem:

  • Identificar e tratar: dor, dispneia, delirium hiperativo e hipersecreção respiratória;
  • Abordar o luto do cuidador do paciente;
  • Discutir sobre prognóstico, objetivos do tratamento, medidas avançadas como ressuscitação cardiopulmonar.

Médicos especialistas em CP devem dar suporte:

  • Pacientes com sintomas complexos ou refratários;
  • Pacientes que tiveram acesso negado a UTI devido a uma triagem, protocolo, apesar de querer cuidados intensivos;
  • Gerenciamento de depressão complexa, ansiedade, tristeza e sofrimento existencial;
  • Necessita de sedação paliativa;
  • Transtorno pré-existente de uso de opioides;
  • Pacientes com crianças pequenas;
  • Pacientes pertencentes a populações marginalizadas (sem-teto, encarcerados, indígenas, que correm o risco de ser mal atendidos pelo sistema de saúde).

Take-home message

O artigo conclui que os cuidados paliativos devem ser uma parte essencial de qualquer resposta a uma crise humanitária, incluindo a atual pandemia. Uma abordagem multifacetada pode orientar o planejamento e garantir que as necessidades de CP dos pacientes e de seus familiares sejam atendidas.

Qualquer sistema de triagem que não integre princípios de cuidados paliativos é antiético. Pacientes que não devem sobreviver não devem ser abandonados, mas devem receber cuidados paliativos como um direito humano.

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