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Independentemente do tipo de tratamento recebido, o comprometimento auditivo grave em sobreviventes de câncer infantil está associado a déficits neurocognitivos, segundo o estudo Association of Hearing Impairment With Neurocognition in Survivors of Childhood Cancer, publicado na JAMA Oncology. O objetivo foi avaliar a associação de comprometimento auditivo com a função neurocognitiva e os fatores de deficiência auditiva que mediam os resultados neurocognitivos em pacientes que sobreviveram a um câncer infantil.
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Método do estudo
Foi realizado um estudo transversal cujos dados foram coletados no período de 25 de abril de 2007 a 30 de junho de 2017. A análise dos dados foi realizada de 22 de março de 2019 a 5 de março de 2020. Os pesquisadores analisaram dados de sobreviventes elegíveis que participam do estudo denominado St. Jude Lifetime Cohort Study (SJLIFE), um estudo de acompanhamento institucional em andamento, desenvolvido para quantificar os resultados de saúde em longo prazo de pacientes sobreviventes de câncer infantil. Esses participantes incluíram indivíduos tratados por câncer na infância no St. Jude Children’s Research Hospital, em Memphis, Tennessee, Estados Unidos, e que sobreviveram 5 ou mais anos após o diagnóstico inicial e que eram elegíveis para testes audiológicos e neurocognitivos.
Características
Foram identificados 1.678 sobreviventes elegíveis. Destes, 137 não participaram do presente estudo, 17 tinham deficiência auditiva não induzida pelo tratamento e 4 não possuíam dados audiológicos avaliáveis. Foram analisados 1.520 sobreviventes de câncer infantil, dos quais 814 eram do sexo masculino (53,6%). A idade mediana (intervalo interquartil [IQR]) foi de 29,4 (7,4-64,7) anos e o tempo mediano (IQR) desde o diagnóstico foi de 20,4 (6,1-53,8) anos.
Os pesquisadores observaram que a prevalência e o risco de deficiência auditiva grave entre os sobreviventes foi maior no grupo de pacientes expostos a agentes da platina (n = 107 [34,9%]; risco relativo [RR], 1,68, intervalo de confiança de 95% (IC 95%), 1,20-2,37]) ou a radioterapia coclear (n = 181 [38,3% ]; RR, 2,69 [IC 95%, 2,02-3,57), comparados àqueles do grupo sem exposição (n = 65 [8,8%]). Os sobreviventes com comprometimento auditivo grave apresentaram risco aumentado de déficits neurocognitivos, como habilidades de raciocínio verbal, fluência verbal, velocidade visomotora e habilidades matemáticas. Este efeito foi independente de o paciente ter sido exposto à terapia neurotóxica, quando comparado aos sobreviventes com audição normal ou perda auditiva leve. Cabe destacar que, neste estudo, os sobreviventes com deficiência auditiva leve também demonstraram déficits na execução de tarefas neurocognitivas em comparação aos sobreviventes com audição normal, embora em menor grau do que os sobreviventes com deficiência auditiva grave.
Resultados
Os achados desse estudo indicam que a deficiência auditiva grave após terapia ototóxica parece estar associada a déficits neurocognitivos. A deficiência auditiva é uma condição clínica preocupante, principalmente se não for detectada ou tratada. Dessa forma, uma triagem e uma intervenção precoces para comprometimento auditivo, incluindo adesão a aparelhos auditivos e implantes cocleares, consulta neuropsicológica e acomodações educacionais, podem facilitar o desenvolvimento e a manutenção da função neurocognitiva. Além de poderem identificar aqueles que estão em risco de deterioração futura. Todavia, os pesquisadores ressaltaram a necessidade de estudos prospectivos que investiguem a associação entre a adesão ao uso de aparelhos auditivos e os resultados neurocognitivos em sobreviventes de câncer infantil.
Autor(a):
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências bibliográficas:
- Bass JK, Liu W, Banerjee P, et al. Association of Hearing Impairment With Neurocognition in Survivors of Childhood Cancer [published online ahead of print, 2020 Jul 30]. JAMA Oncol. 2020. doi: 10.1001/jamaoncol.2020.2822.