Dengue ou Covid-19? Como diferenciar e principais recomendações

Dores, cansaço, febre. Dengue ou Covid-19? Com o verão os casos de dengue sobem e com eles a dificuldade em realizar o diagnóstico correto.

Dores no corpo, cansaço, cefaleia, febre. O que o paciente tem? Dengue ou covid-19? Com a chegada do verão os casos de dengue voltam a subir e com eles a dificuldade em realizar o diagnóstico correto. É importante destacar que os sintomas causados pelo novo coronavírus também são comuns a outras doenças, como zika e chikungunya.

E o cenário da pandemia também preocupa os especialistas, uma vez que a dengue também causa um pouco de falta de ar, assim como a covid-19 e pode trazer manchas ao corpo.

Esse diagnóstico é muito importante para o paciente saber o que fazer, principalmente porque os infectados com o novo coronavírus precisam ficar de quarentena em isolamento social. Em algumas situações existem pessoas que contraíram as duas doenças simultaneamente, fazendo com que os sintomas ficassem mais graves.

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Dengue ou Covid-19 Como diferenciar e principais recomendações

Como realizar a anamnese

“Um dos aspectos mais importantes é manter um alto nível de suspeição para ambas as condições. Em meio a uma epidemia, é comum que outros diagnósticos diferenciais sejam esquecidos. Portanto, nesse momento em que outras doenças tendem a ter aumento no número de casos, é importante manter em mente a possibilidade de outros diagnósticos. No caso da diferenciação de dengue e Covid-19, pontos importantes na anamnese como histórico vacinal, presença de sintomas gripais, presença de casos semelhantes no peridomicílio, história de contato com casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 e pesquisa de sinais e sintomas mais característicos de cada doença não devem deixar de ser investigados”, explicou a infectologista do Hospital Clementino Fraga Filho, Isabel Cristina Melo Mendes, que também é colunista do Portal de Notícias PEBMED.

Como diferenciar ambas as enfermidades

A presença de sintomas gripais é possivelmente um dos principais diferenciais entre as duas condições, uma vez que é característico dos quadros de Covid-19, pontua a especialista, que complementa que sintomas de mialgia e astenia são comuns a ambas as condições, podendo ser intensas nos dois casos.

“Classicamente, a dengue está associada a cefaleia retro-orbital de forte intensidade, mas esse sintoma também tem sido observado com a Covid-19, embora de forma menos frequente”, ressaltou Isabel Mendes.

A infectologista chama a atenção para a presença de sinais e sintomas de discrasia que podem estar presentes em quadros de dengue, como epistaxe, gengivorragia e petéquias. Da mesma forma, sintomas respiratórios, principalmente se mais precoces, sugerem mais quadros de Covid-19. Embora não estejam presentes em todos os casos, anosmia e ageusia também são sintomas mais sugestivos de Covid-19.

Diferenças entre os tipos de dengue

O que diferencia a dengue clássica da hemorrágica é a gravidade do quadro clínico. Os casos hemorrágicos são caracterizados pela grande permeabilidade vascular e discrasia sanguínea, levando a quadros de extravasamento vascular que podem levar a edema pulmonar, choque hemodinâmico e sangramentos importantes.

“A identificação precoce da evolução de dengue clássica para a hemorrágica e a implementação de medidas de suporte adequadas são essenciais para obter desfechos favoráveis. Casos de dengue hemorrágica devem ser manejados preferencialmente em unidades de terapia intensiva, uma vez que esses pacientes precisam de controle estrito de hidratação e podem evoluir com necessidade de ventilação mecânica invasiva e/ou vasopressores’, disse Isabel Mendes.

Orientações aos médicos

A colunista da PEBMED destaca que além da história clínica e epidemiológica, como citado anteriormente, algumas alterações laboratoriais podem sugerir um ou outro diagnóstico, embora de forma nenhuma devam ser consideradas como patognomônicas e nem serem usadas para confirmar ou excluir o diagnóstico. Considerando essas observações, a dengue pode se apresentar com hemoconcentração e plaquetopenia, o que não é típico de casos de Covid-19. Linfopenia pode ser encontrada em ambas as enfermidades.

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“No caso de doenças com quadro clínico semelhante, a testagem acaba tendo um papel importante para determinar o diagnóstico correto. Para Covid-19, testes sorológicos são inadequados para diagnóstico, mas outros métodos como RT-PCR e teste rápido de antígeno podem, em conjunto com o quadro clínico, confirmar ou excluir a enfermidade. Já para a dengue, as modalidades diagnósticas disponíveis incluem pesquisa de antígeno NS1 e sorologia. Lembrando que o tempo de sintomas é importante para determinar qual o melhor teste. O NS1 é mais adequado nos primeiros dias de sintomas, preferencialmente até o 3º dia, podendo ser solicitado até o 5º dia. Para casos mais tardios, a sorologia é mais adequada”, esclareceu a infectologista Isabel Mendes.

Dengue proporciona imunidade para o novo coronavírus?

Segundo pesquisadores da Universidade Duke, da Carolina do Norte, existe uma possível correlação de imunidade entre as duas enfermidades. Nos estudos, ficou evidenciado que áreas com maior número de pessoas que foram infectadas por dengue e mantiveram anticorpos para a doença, apresentaram maior resistência para a chegada do novo coronavírus.

Outra pesquisa, realizada pela Universidade Federal do Acre (Ufac) em colaboração com as universidades de Campinas, Federal do Paraná e Harvard, e publicada na revista científica Clinical Infectious Diseases apontou que o organismo se defende melhor quando já foi exposto ao vírus da dengue.

No entanto, a infectologista Isabel Mendes explica que ainda não há evidências concretas de que infecções prévias pelo vírus da dengue levem à imunidade contra o novo coronavírus.

“As pesquisas citadas são estudos observacionais e, portanto, não podem ser utilizadas para apontar relações de causa e efeito, embora possam sugerir hipóteses a serem pesquisadas. Mais pesquisas precisam ser realizadas para determinar se há mesmo proteção cruzada entre os vírus. É importante salientar que pessoas que tiveram dengue devem manter as medidas recomendadas de precaução para Covid-19”, frisou.

Pacientes com dengue podem ser vacinados contra a Covid-19?

“Não há contraindicação para vacinação contra a Covid-19 pelo diagnóstico em si de dengue. Há, entretanto, recomendação de se evitar a vacinação em vigência de doença febril aguda. Sendo assim, no caso de um diagnóstico de dengue, recomenda-se esperar a recuperação clínica para vacinação”, pontuou Isabel Mendes.

Devido ao risco de plaquetopenia e sangramentos, medicações como ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) devem ser evitados. Em casos de dengue confirmados ou em que a suspeita não pode ser excluída, a analgesia deve ser realizada com analgésicos comuns, como dipirona e paracetamol.

Recomendações, tratamentos e acompanhamento

O primeiro passo, para ambas as doenças, é determinar a gravidade do quadro clínico. No caso de Covid-19, fatores como idade, comorbidades, status vacinal e acometimento respiratório devem ser levados em conta para determinar o local de tratamento – se domiciliar, em regime de internação hospitalar ou em unidade de terapia intensiva. Casos domiciliares podem ser manejados com sintomáticos e hidratação. Casos hospitalares podem necessitar de corticoide ou outras terapias, conforme a apresentação clínica e complicações que se desenvolvem.

“Para os casos de dengue, é importante estar atento à presença de sinais de alarme, que podem determinar a necessidade de internação. Não há medicamentos específicos para tratamento de dengue, sendo os cuidados principais as medidas de suporte, conforme a gravidade do caso. Para casos leves, o pilar fundamental é manter hidratação adequada e orientação em relação ao desenvolvimento de sinais de alarme, como sangramentos, vômitos persistentes, dor abdominal intensa e persistentes, cianose, dispneia e hipotensão postural’, ressaltou a infectologista Isabel Mendes.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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