Depósitos na córnea associados ao uso de medicações: o que sabemos sobre o tema?

Alguns medicamentos causam depósito na córnea. A maioria dos casos é assintomática, mas é importante controlar a opacidade e os efeitos.

Algumas medicações são conhecidas como causadoras de efeitos colaterais oftalmológicos. Algumas delas podem se depositar na córnea. Esses depósitos são geralmente assintomáticos mas podem levar a opacidades visíveis da córnea que atingem camadas ou regiões específicas da mesma.

Essas drogas podem atingir a córnea através da lágrima, humor aquoso ou vasculatura perilímbica, mas a fisiopatologia que leva a esses depósitos ainda não é bem conhecida.  

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Estudo

Uma revisão publicada esse ano na British Journal of Ophthalmology descreveu as drogas relacionadas a depósitos que afetam as três camadas da córnea (epitélio, estroma e endotélio).

O acometimento de acordo com as camadas da córnea pode ser dividido em:  

  • Epiteliais: são as mais comuns. Os depósitos produzem uma ceratopatia em vortex (ou córnea verticilatta), geralmente causado por drogas anfifílicas catiônicas. A amiodarona é uma das principais. Outras causas endógenas que podem causar córnea verticilatta são a doença de Fabry (que também causa nefropatia progressiva e neuropatia periférica), a deficiência múltipla de sulfatase e a gangliosidose generalizada.  
  • Estromais: Clorpromazina, ouro, rifabutina, indometacina e inibidores da tirosina quinase (como o vandetanib). Os depósitos geralmente começam como opacidades marrons, no estroma posterior, descemet e endotélio e o estroma anterior geralmente só é envolvido em altas doses. Alguns pacientes podem ter redução da acuidade visual. Clofamizina pode causar depósitos cristalinos na conjuntiva e estroma anterior que somem com a suspensão da droga e a isotretinoína pode causar opacidades no estroma superficial.  
  • Endotelial: Clorpromazina e rifabutina podem dar depósito também no endotélio. Eles podem persistir mesmo após cessar a droga.  

Classes de drogas causadoras de depósitos corneanos:  

  1. Anfifílicas catiônicas: antimaláricos (cloroquina/ hidroxicloroquina/ quinacrina/ tafenoquina/ amodiaquina), amiodarona (os pacientes podem reportar fotofobia, halos e irritação), suramina, clorpromazina, amantadina.
  2. Anfifílicas não catiônicas: não causam o vortex típico das catiônicas. São eles: naproxeno, ibuprofeno, indometacina, sais de ouro.
  3. Antibióticos: rifabutina, clofazimina.
  4. Agentes antitumorais: vandetanib, osimertinib, citarabina arabinosida, trastuzumab entansina.
  5. Anticorpos monoclonais: dupilumab (usado para doenças alérgicas), belantamab mafodotina.

Como é feito o manejo e seguimento dos depósitos corneanos?

Os casos descritos na literatura são esparsos e não existe um tratamento claramente recomendado para os depósitos corneanos. A maioria dos depósitos tipicamente resolve com a suspensão da droga e geralmente não é visualmente significativo. Além disso, não é indicada nenhuma alteração na medicação ou acompanhamento específico caso seja diagnosticada uma córnea verticillata isolada.  

Algumas medicações podem causar outros efeitos adversos oculares como retinopatia ou neuropatia óptica. Esses incluem amiodarona, tamoxifeno, antimaláricos e clorpromazina. A extensão da córnea verticilata não tem relação com o risco de outras alterações. Nesses casos de neuropatia/retinopatia a monitoração deve ser feita com campo visual computadorizado e OCT de nervo óptico e mácula.

Em pacientes utilizando ribambutuna, devemos considerar a neuropatia óptica relacionada ao etambutol já que muitas vezes essas drogas são utilizadas de forma concomitante. Apesar do manejo dos depósitos geralmente ser conservador, alguns tratamentos foram propostos como o colírio de heparina tópica no vortex induzido por amiodarona.

Os lubrificantes tópicos e corticóides tópicos podem dar algum alívio dos sintomas. Os depósitos corneanos também podem surgir do uso de antibióticos tópicos como as fluoroquinolonas (a ciprofloxacina é a mais comum mas pode ocorrer com moxi, nor, gati ou ofloxacino).  

Conclusão

A maioria dos casos leva a sintomas leves a moderados com nenhum ou pouco acometimento visual. Na maioria não é indicada a suspensão da droga mas a interrupção pode ser útil nos casos em que se deseje a redução dos sintomas. Sempre devem ser pesados, nesses casos, os riscos sistêmicos da doença de base não tratada ou tratada com outra droga.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Sahyoun J, Sabeti S, Robert M Drug-induced corneal deposits: an up-to-date review BMJ Open Ophthalmology 2022 

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