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Condição de alta prevalência mundial, a depressão maior está presente em cerca de 10% da população mundial, e continua crescendo. Essa prevalência é notadamente ainda presente na população que sofre de doença arterial coronariana (DAC), chegando a 15-30% nestes, e ainda expressamente maior nesse grupo em se tratando do sexo feminino.
Depressão Maior é diagnosticada pelo DSM-V a partir da presença de humor rebaixado e/ou anedonia durante 2 semanas, associados a sintomas cognitivos ou somáticos menores. Algumas dessas alterações exibem relação com alto RCV, como sedentarismo e tabagismo; porém não explicam totalmente a associação. Ademais, pacientes depressivos com DAC apresentam capacidade funcional restrita, má aderência ao tratamento medicamentoso e baixa adesão à reabilitação cardiovascular. Com isso, modelos estatísticos atuais classificam a depressão como um fator de risco independente para DAC.
Mecanismos
Depressão está associada a piora da qualidade de vida, de forma mais notável do que sintomas cardíacos propriamente ditos e limitantes (como dispneia, angina, etc). Pacientes deprimidos também apresentam maior frequência de dor anginosa e equivalentes, bem como fibrilação atrial – inclusive refratária ou recidivante à cardioversão.
Os mecanismos ainda não são muito bem estabelecidos, porém estudos mostram algumas associações importantes, tais como mudanças em neurobiologia modificando a função e estrutura cardíacas, bem como desregulação das vias de resposta ao estresse em pacientes deprimidos.
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Exposições recorrentes ao estresse estão também associadas à disfunção neuroquímica, desequilibrando as vias de norepinefrina, serotonina e dopamina, o que por sua vez pode influenciar no humor e no risco cardiovascular. Além disso, já foi documentada em laboratório a relação entre exposição ao estresse e indução de isquemia miocárdica.
Além disso, a depressão também constitui fator de risco cardiovascular por ser causadora de disfunção autonômica, estado inflamatório, disfunção endotelial, ativação plaquetária e mantenedora de maus hábitos de saúde, exibindo estrita relação com aumento de tabagismo, descontrole dietético e obesidade, bem como sedentarismo.
Como manejar estes pacientes?
Já são bem descritos os diversos benefícios da terapia e suas modalidades no tratamento de depressão. Ganham mais destaque no tratamento dessa entidade no cardiopata ao conseguir alcançar resultados inicialmente sem usufruir de drogas e seus possíveis efeitos adversos, em pacientes com arsenal farmacológico já extenso. Porém, não podemos deixar de elucidar o grande impacto do tratamento farmacológico, especialmente em pacientes com depressão moderada a severa.
Os tricíclicos, apesar de constituírem a primeira classe de tratamento em depressão maior, devem ser evitados em portadores de DAC, devido à relação com aumento dos intervalos PR, QT e duração do QRS, bem como associação com arritmias ventriculares malignas, especialmente durante retirada abrupta.
Inibidores da receptação de serotonina, por outro lado, são a primeira linha para os cardiopatas, por causarem substancialmente menos efeitos anticolinérgicos e cardíacos. Por fim, inibidores duplos, como a venlafaxina, são discretamente mais eficazes, entretanto às custas de mais efeitos colaterais do que os inibidores simples.
Conclusão
Depressão associada a síndromes coronarianas exibe relação com maiores taxas de morbimortalidade, especialmente quando o diagnóstico é realizado em vigência do evento agudo coronariano. Porém, é importante ressaltar que, sob tratamento adequado, estes pacientes exibem índices de mortalidade semelhantes a pacientes sem o diagnóstico depressivo, fator que fala fortemente a favor do acompanhamento psiquiátrico nestes pacientes.
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Referências:
- Depression and coronary heart diseasde: 2018 ESC position paper of the working group of coronary pathophysiology and microcirculation developed under the áuspices of the ESC Commitee for Practice Guidelines.