Descoberto parasita responsável por mortes e casos de infecções graves em Aracaju

Foi identificada uma nova espécie de parasita capaz de causar uma doença semelhante à leishmaniose visceral, mas resistente aos tratamentos disponíveis.

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Foi identificada uma nova espécie de parasita capaz de causar uma doença semelhante à leishmaniose visceral, mas resistente aos tratamentos disponíveis. Essa identificação foi feita em pacientes atendidos no Hospital Universitário de Sergipe, em Aracaju.

Apontado como o responsável por ter causado duas mortes e deixado 150 pessoas com infecções graves, o protozoário não pertence ao gênero Leishmania, composto por mais de 20 espécies causadoras de três diferentes tipos de leishmaniose: visceral, cutânea e difusa. Os resultados do estudo, que durou oito anos, foram publicados recentemente pela revista Emerging Infectious Diseases.

A descoberta foi realizada a partir da comparação entre os genomas do parasita não catalogado com os do gênero Leishmania sp. Esta comparação revelou que, apesar da similaridade nos sintomas da doença (febre, espleno e hepatomegalia, e pancitopenia), a carga genética era mais parecida com a de outro parasita: o Crithidia fasciculata.

“A espécie analisada está mais próxima da Crithidia fasciculata, um parasita de mosquito incapaz de infectar humanos ou outros mamíferos. Conseguimos infectar roedores com ele e, por esse motivo, acreditamos se tratar de um novo protozoário, para o qual iremos propor a nomenclatura Cridia sergipensis”, conta o professor João Santana da Silva, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e membro do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) e do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), em entrevista para o Portal de Notícias da PEBMED.

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O início do estudo

O especialista em leishmaniose, professor Roque Almeida, diagnosticou o primeiro caso da doença causada pelo parasita, em 2011. Um homem de 64 anos que deu entrada no Hospital Universitário de Sergipe, em Aracaju, com sintomas típicos de leishmaniose visceral, em estado grave.

O paciente recebeu o tratamento padrão e melhorou, mas teve uma recaída apenas quatro meses depois. Então, ele foi tratado com anfotericina B lipossomal e respondeu bem à medicação, mas oito meses depois teve uma nova recidiva.

Desta vez, ele desenvolveu manchas eritematosas na pele, disseminadas por todo o corpo, algo que não vemos em leishmaniose visceral. “Infelizmente, com as recidivas, as falhas terapêuticas sucessivas e a disseminação da enfermidade para a pele, o paciente veio a falecer após a cirurgia para retirada do baço, recomendada em casos graves que não respondem ao tratamento”, lamentou Roque Almeida.

Genoma sequenciado

Os pesquisadores sequenciaram o genoma desta espécie desconhecida para encontrar alguma semelhança na literatura médica, mas não encontraram. O DNA mais próximo encontrado foi o do protozoário Crithidia fasciculata.

As espécies de Crithidia pertencem à mesma família dos Leishmania e Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, mas os primeiros não são capazes de infectar mamíferos.

“Com a amostra que retiramos, fizemos testes para identificar o tipo de parasita. Deu negativo para o gênero Leishmania, e aí pensamos que alguma coisa estava errada. Precisávamos identificar que tipo de parasita era este e vimos que ele tinha um genoma de tamanho diferente do conhecido. Por isso, acreditamos se tratar de um novo e desconhecido parasita”, ressaltou o pesquisador João Santana Silva.

Próxima fase do estudo

Segundo os pesquisadores, a próxima fase do estudo é tornar a metodologia ainda mais sensível para que o teste molecular possa ser realizado diretamente com amostras de sangue dos pacientes com suspeita da doença.

“A partir de agora vamos verificar drogas que inibam a ação desse parasita, avaliar a extensão dessa infecção e averiguar o número certo de pacientes que foram infectados em Aracaju. E, para isso, precisaremos da ajuda de mais pesquisadores”, conta o pesquisador João Santana Silva.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.

 

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