Devemos usar estatinas na prevenção primária das doenças cardiovasculares após os 40 anos?

A prevenção primária de fatores de risco, entre eles a dislipidemia, para redução das doenças cardiovasculares (DCV) é de importância para a saúde pública.

A prevenção primária de fatores de risco, entre eles a dislipidemia, para redução das doenças cardiovasculares (DCV) é de importância para a saúde pública. A DCV é responsável por cerca de 20% das mortes entre adultos com idade entre 45 e 65 anos e de 25% para aqueles com idade maior que 65 anos.

O Serviço de prevenção de doenças nos EUA (USPSTF) faz recomendações sobre a eficácia e segurança de cuidados para indivíduos sem sinais ou sintomas. A USPSTF entende que a decisão em recomendar estatinas deve envolver outras considerações além das evidências dos benefícios e riscos.

Recentemente o JAMA publicou um artigo sobre a atualização das recomendações para o seguimento de dislipidemias em adultos.  O USPSTF recomenda que adultos sem história de DCV utilizem uma dose baixa ou moderada de estatina (tabela 1) para prevenção de eventos quando todos os critérios abaixo são encontrados:

  1. Idade entre 40 e 75 anos;
  2. Um ou mais dos seguintes fatores de risco: dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes ou tabagismo;
  3. Que o risco de eventos cardiovasculares em 10 anos seja igual ou maior que 10% (recomendação grau B).

Embora o uso de estatina possa ser benéfico para a prevenção primária de eventos de DCV em alguns adultos com risco menor que 10% a chance do evento é menor devido à incerteza na predição do risco individual. Nestes casos os médicos podem optar por oferecer uma dose baixa ou moderada de estatina para aqueles que além dos dois primeiros critérios tenham um risco de eventos cardiovasculares em 10 anos entre 7,5 e 10% (recomendação grau C). O USPSTF não encontrou evidências adequadas para concluir que o uso de estatinas em indivíduos com idade maior ou igual a 76 anos, que nunca fizeram uso de estatinas, teria algum benefício na redução de eventos de DCV e ou mortalidade.

Mais do autor: ‘Campanha lista procedimentos muito utilizados, mas que não trazem benefícios’

O USPSTF demonstrou evidências adequadas de que o risco de efeitos adversos do uso de estatinas em doses baixas ou moderadas em adultos entre 40 e 75 anos são baixas.  Estudos clínicos com o emprego de doses baixas ou moderadas de estatinas na prevenção primária mostraram não haver associação de eventos como câncer, lesões musculares e elevação severa de enzimas hepáticas.  Existem evidências entre o uso de estatinas em dose alta e um risco aumentado de desenvolver diabetes. A mialgia é um efeito adverso comum ao uso de estatinas, mas estudos placebo controlado não suportam a conclusão que o uso de estatinas tenha uma relação causal importante na sua ocorrência. Evidências para déficit cognitivo é relativamente escassa. O USPSTF não encontrou evidências claras de diminuição da função cognitiva associada ao uso de estatina e estes achados são consistentes com os dados do HOPE-3.

Dezenove estudos randomizados (n = 71 344) avaliaram os efeitos de estatinas em adultos com risco cardiovascular aumentado, mas sem um histórico de eventos de DCV. A duração média do seguimento foi de três anos, e três estudos foram interrompidos precocemente devido aos benefícios observados no grupo intervenção. A maioria dos participantes desses estudos era do sexo masculino. Em geral, a terapia com estatinas foi associada a uma redução estatisticamente significativa na incidência de resultados compostos de DCV em comparação com o placebo.  A análise combinada de 13 estudos encontrou um RR de 0,70 (IC 95%, 0,63-0,78) após 1 a 6 anos. Quinze estudos relataram mortalidade para todas as causas após 1 a 6 anos, e a análise combinada estimou um RR de 0,86 (IC 95%, 0,80-0,93).

O uso de estatinas em dose baixa ou moderada em adultos entre 40 e 75 anos sem história prévia de DCV, que tenham pelo menos um fator de risco e um risco calculado de eventos em 10% (recomendação grau B) ou entre 7,5 e 10%(recomendação grau C) mostrou ser, frente as evidências disponíveis,  um procedimento seguro e eficaz na redução de eventos cardiovasculares.

As melhores condutas médicas você encontra no Whitebook. Baixe o aplicativo #1 dos médicos brasileiros. Clique aqui!

Tabela 1 – Doses de estatinas utilizadas nos estudos disponíveis – ACC/AHA 2013 guidelines.

 

Dose – mg

Estatina

Baixa

Moderada

Alta

Atorvastatina

10-20

40-80

Pravastatina

10-20

40-80

Sinvastatina

10

20-40

Rosuvastatina

5-10

20-40

Pitavastatina

1

2-4

 

Referências:

  • US Preventive Services Task Force., Bibbins-Domingo K, Grossman DC, et al. Statin Use for the Primary Prevention of Cardiovascular Disease in Adults: US Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA. 2016 Nov 15;316(19):1997-2007.
  • https://www.cvriskcalculator.com/

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.