Devo usar o boogie na primeira tentativa de intubação?

Em um estudo recente, pesquisadores americanos compararam duas estratégias de intubação inicial na emergência em pacientes com pelo menos um preditor de via aérea difícil: uma com boogie versus outra com TOT + guia.

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Há pouco tempo publicamos um resumo da diretriz britânica para intubação orotraqueal na emergência. Na sequência rápida de intubação, as etapas iniciais envolvem o preparo do equipamento, posicionamento do paciente, pré-oxigenação e pré-tratamento. Neste momento, é importante que você tente identificar se há preditores de via aérea difícil. Na diretriz britânica, são recomendadas manobras como 3-3-2, Mallampati e o escore MACOCHA. Na vida real, os preditores mais comuns são:

  • Obesidade
  • Pescoço curto e largo
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Redução mobilidade cervical (inclusive a restrição por artrose nos idosos)
  • Abertura oral e dentição

Das diversas dificuldades possíveis, a traqueia anterior com visão incompleta da glote (Cormack ≥ 2) é muito comum nestes cenários, e há diversas estratégias para aumentar sua taxa de intubação de primeira (one-and-done). O boogie é um dispositivo que funciona como guia, podendo ser utilizado quando você encontra na laringoscopia o Cormack 2 ou 3, e pelo qual você desliza o tubo orotraqueal. Há dois tipos: um sem lúmen e outro com lúmen que permite ventilação parcial (semelhante a uma jet ventilation).

Em um estudo recente, pesquisadores americanos compararam duas estratégias de intubação inicial na emergência em pacientes com pelo menos um preditor de via aérea difícil: uma com boogie versus outra com TOT + guia.

População do estudo

  • Pacientes > 18 anos de idade com indicação de intubação na emergência.
  • Presença de preditor de via aérea difícil: secreção ou sangue; obesidade; colar cervical; macroglossia; pescoço curto; trauma facial; prognatismo e obstrução parcial via aérea.
  • Exclusão: prisioneiros (isso aí mesmo!), gestantes, angioedema, massa cervical, epiglotite e câncer.

Resultados

A maioria das intubações foi feita com vídeo, principalmente com o dispositivo C-MAC (96%). As principais indicações para intubação foram rebaixamento do nível de consciência (49%), trauma (16%), PCR (8%) e sepse (6%) – um tanto diferente de nossa população na rede privada, onde sepse em idosos e AVC são patologias mais comuns. A taxa de sucesso na intubação na primeira tentativa foi maior no grupo do boogie: 98% vs 87%, sem aumentar o risco de eventos adversos. Por outro lado, o tempo necessário até intubar foi maior no grupo boogie: 38s vs 34s.

O que aprendemos com este estudo?

O boogie é uma estratégia melhor que o TOT + guia em pacientes com pelo menos um preditor de via aérea difícil – mas não qualquer via aérea, pois estudo excluiu angioedema e massa cervical. Os resultados são aplicáveis para condições associada com traqueia anteriorizada, como obesidade e uso de colar cervical. Da mesma forma, o estudo foi feito praticamente todo com uso de videolaringoscopia, e não sabemos se na laringoscopia tradicional teríamos o mesmo resultado. O aumento do tempo com boogie é clinicamente sem relevância e fica valendo sua maior taxa de sucesso para intubação na primeira tentativa.

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Referências:

  • Driver BE, Prekker ME, Klein LR, et al. Effect of Use of a Bougie vs Endotracheal Tube and Stylet on First-Attempt Intubation Success Among Patients With Difficult Airways Undergoing Emergency IntubationA Randomized Clinical Trial. JAMA. Published online May 16, 2018. doi:10.1001/jama.2018.6496

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