Dia do Autismo: um olhar do ginecologista e obstetra

Hoje, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, vamos comentar alguns pontos sobre o período pré-natal e o desenvolvimento de TEA.

O transtorno do espectro autista (TEA) acomete em torno de 1% das crianças no mundo. Sua etiologia e fisiopatologia ainda não são completamente esclarecidas. Mas, de um modo geral, doenças que acometem crianças em idade precoce, sempre tem sua origem etiológica questionada.

Hoje, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, vamos comentar alguns pontos importantes sobre o período pré-natal e o desenvolvimento de TEA.

mulher grávida se consultando com médica sobre pré-natal e autismo

Pré-natal e autismo

Hoje sabemos bem e são investigadas durante os pré-natais regulares as infecções TORCH (TOxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes congênitas). Essas patologias congênitas seriam o extremo de acometimento, levando à teratogenicidade fetal.

Entretanto, outras doenças menos agressivas, causadoras de processos inflamatórios e distúrbios metabólicos têm sido estudadas como responsáveis por acometimento inflamatório do sistema nervoso em formação, podendo culminar no desenvolvimento de doenças mentais, como esquizofrenia, doença do espectro autista, transtorno bipolar e depressão.

O uso de alguns antibióticos (muitas vezes desnecessariamente), como a ceftazidima, levam ao aumento da interleucina 6 e fator de necrose tumoral alfa, com posterior dano em astrócitos e microglia, mostrando seu efeito direto. Ciprofloxacino e tobramicina/polimixina, de forma indireta, através de endotoxemia também podem causar danos celulares nessa fase de formação orgânica.

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Betalactâmicos, piperacilina, macrolídeos (eritromicina), doxiciclina, moxifloxacino e gentamicina também estão entre os potencializadores de atividade inflamatória celular, podendo carrear citocinas para o espaço fetal levando a desordens neurológicas, entre elas o autismo.

Doenças metabólicas, como o diabetes (gestacional ou prévio), quando em desequilíbrio pelo mau controle acabam por também produzir um quadro inflamatório em vários territórios, inclusive a nível da barreira placentária permitindo a passagem de citocinas para o sistema nervoso fetal, mostrando sua relação com a doença do espectro autista.

Com a mesma fisiopatologia podem associar-se aqui: ácido valproico, talidomida e possivelmente até o misoprostol. Outras associações também foram encontradas com consumo de etanol, tabaco, cocaína , contato com metais pesados e deficiência de ácido fólico.

Covid-19

Para o final, não poderíamos deixar de mencionar a doença que tem causado grandes paradigmas no planeta: Covid-19. A pandemia de Covid-19 trouxe um paradigma para observação:

  1. Doenças inflamatórias na gravidez (covid19 tem seu processo inflamatório)
  2. Biologia do IGF-1 no autismo

Estudos realizados desde o início deste século têm apoiado a visão de que a deficiência de IGF-1 em neonatos define a base do autismo. Como resultado, parece que a interleucina-6 em infecções por coronavírus causam perda imunológica nas defesas devido à supressão do IGF-1, especialmente em pacientes mais velhos.

Isso também pode explicar o aumento do autismo na prole de grávidas atualmente afetadas gravemente por Covid-19.

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Conclusões

Depois dessa observação dos possíveis fatores relacionados ao autismo em gestantes, devemos cada vez mais incentivar as mulheres a procurar realizar um pré-natal mais rigoroso, não faltando e, de forma prioritária realizando os exames adequados sorológicos e controle das doenças metabólicas, que podem garantir a diminuição da incidência do autismo em nosso país.

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Referências bibliográficas:

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