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Aproximadamente quarenta e três milhões de crianças em todo o mundo têm excesso de peso e noventa e dois milhões são consideradas em risco. A prevalência de obesidade aumentou dramaticamente nas últimas décadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência de obesidade infantil classe I foi de 19% em 2016. A obesidade é a causa mais comum de resistência à insulina em crianças e está associada à dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e complicações vasculares de longo prazo, entre outras. Embora as intervenções no estilo de vida, continuem sendo o padrão de tratamento para a obesidade infantil, muitas crianças poderão necessitar de terapia medicamentosa. A eficácia e segurança da metformina para a obesidade em crianças e adolescentes permanece obscura.
No Canadá, pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para avaliar a eficácia e segurança da metformina com intervenções no estilo de vida, em comparação com um placebo com intervenção no estilo de vida, em crianças e adolescentes com obesidade. O estudo “Efficacy and Safety of Metformin for Obesity: A Systematic Review” foi publicado no jornal Pediatrics.
Eficácia e segurança da metformina
Foram selecionados ensaios clínicos randomizados (RCTs), extraídos das seguintes fontes de dados: PubMed, Embase, Cochrane Library, Scopus e ClincalTrials.gov (início em novembro de 2019). Dois pesquisadores extraíram, independentemente, os dados e avaliaram a sua qualidade. Os resultados primários foram alterações médias desde a linha de base no IMC, escore z do IMC, avaliação do modelo homeostático de resistência à insulina e efeitos adversos gastrointestinais (GI).
Foram incluídos na revisão 24 RCTs, totalizando 1623 pacientes. As idades variaram de 4 a 19 anos e o seguimento variou de 2 meses a 2 anos. A metformina resultou em uma diminuição modesta no IMC (intervalo de valores médios: 22,70 a 1,30 vs 21,12 a 1,90), escore z de IMC (intervalo de valores médios: 20,37 a 20,03 vs 20,22 a 0,15) e avaliação do modelo homeostático de resistência à insulina (intervalo de valores médios: 23,74 a 1,00 vs 21,40 a 2,66). Além disso, mostrou uma frequência maior de efeitos adversos GI (2% a 74% vs 0% a 42%).
Os pesquisadores concluíram que existe alguma evidência de que a terapia com metformina, associada a intervenções no estilo de vida, tem um efeito modesto favorável no escore z do IMC e na resistência à insulina e um perfil de segurança tolerável em crianças e adolescentes com obesidade. No entanto, destacaram que a evidência disponível é de qualidade variável, e os resultados de estudos de alta qualidade revelaram efeitos menores do tratamento, sugerindo alguma incerteza em seus benefícios. No entanto, a metformina pode ser considerada para uso como terapia farmacológica nesta população pediátrica, devido à sua eficácia, disponibilidade, custo e perfil de segurança modestos. Portanto, futuros RCTs, com intervenções de estilo de vida padronizadas e estudos do mundo real, são necessários para caracterizar os pacientes pediátricos que podem se beneficiar mais com a monoterapia com metformina e metformina em combinação com outros medicamentos para o tratamento da resistência à insulina e obesidade.
Mensagem Prática
Na prática, observo que a metformina tem sido usada em crianças acima de 10 anos de idade no tratamento do hiperinsulinismo, sendo uma ferramenta para a diminuição da insulina, após o insucesso com dieta e exercício físico, influenciando pouco na perda de peso. No entanto, pode ser uma opção, já que, infelizmente, é difícil a adoção de bons hábitos, dependendo da população estudada. Por isso, há de fato necessidade de mais estudos para se avaliar seu papel no controle da obesidade.
Autora:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referência bibliográfica:
- MASARWA, R. et al. Efficacy and Safety of Metformin for Obesity: A Systematic Review. Pediatrics. v.19, e20201610, 2021