Dia Mundial da Obesidade: o que não pode passar na abordagem endocrinológica? [podcast]

Hoje, 4 de março, é o Dia Mundial da Obesidade! A data foi alterada recentemente pela Federação Mundial da Obesidade. Confira nossos podcasts especiais!

Hoje, 4 de março, é o Dia Mundial da Obesidade! A data foi alterada recentemente pela Federação Mundial da Obesidade. Por isso, preparamos uma série de podcasts especiais, que vão ao ar ao longo do mês, sobre a abordagem dessa doença, que deve ser multidisciplinar! Para começar, nossa editora de Clínica Médica, Dayanna Quintanilha, entrevistou o especialista em Endocrinologia, Sylvio Provenzano*, para falar sobre os principais tópicos na abordagem endocrinológica do paciente. Confira no áudio:

*Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),  Sylvio Provenzano é especialista em Clínica Médica e Endocrinologia. É chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Federal dos Servidores do Estado e professor de clínica médica da Universidade Estácio de Sá. É o atual presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).

Ouça também: Dia Mundial da Obesidade: quais os principais riscos cardiovasculares desse paciente?

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médico medindo circunferência de paciente com obesidade no dia mundial da obesidade

Obesidade

Dayanna Quintanilha: Olá, pessoal. Eu sou Dayanna Quintanilha, colunista do Portal PEBMED e especialista em clínica médica. Hoje vamos falar sobre obesidade, que não é uma questão de estilo de vida. Ela, na verdade, é uma doença crônica, recidivante e multifatorial. Afeta mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo e ainda não é completamente compreendida.

A Federação Internacional de Obesidade mudou o Dia Mundial da Obesidade do dia 11 de outubro para 4 de março. E a gente vai fazer uma série de podcasts, de postagens a respeito desse tema que é muito importante. Para falar sobre obesidade, hoje, nós chamamos o doutor Sylvio Provenzano, que é especialista em clínica médica e endocrinologia, e o atual presidente do Cremerj. Boa tarde, doutor Silvio.

Sylvio Provenzano: Boa tarde, Dayanna. Boa tarde aos que estão nos ouvindo pela PEBMED e é um assunto que está na moda. Aliás, desde que nós mudamos de vida, não saiu de moda. Falar sobre obesidade é falar sobre uma doença metabólica crônica relacionada ao metabolismo energético e nós somos animais que temos a capacidade de produzir energia.

Contudo, nem toda energia que nós produzimos e alguns, como eu, por exemplo, portador da síndrome metabólica produz energia com uma facilidade imensa. Eu sou animal que resiste as piores intempéries, foi a nossa raça da síndrome metabólica que resistiu, por exemplo, na Era Glacial, quando de uma para outra o mundo mudou o seu aspecto. E nós que éramos homúnculos, homem de neandertal, o homem das cavernas, nós não conhecíamos a pecuária, não tínhamos qualquer conhecimento da agricultura. Tínhamos, portanto, como meio de sobrevivência retirar do solo e da terra tudo que era possível para nossa manutenção. E eis que, de repente, tudo aquilo que nós consumíamos desapareceu devastado pelo gelo da Era Glacial. Como é que nós conseguimos sobreviver?

Muitas vezes, passávamos mais de uma semana, sem conseguir um alimento e lembrando que, naquela época, o alimento preferencial era o bisonte, que vem a ser o ancestral biológico do búfalo. Era um animal de uma tonelada e meia, talvez duas. E nós? Nós tínhamos, em média, 1,58 m. Era o homem daquela época e que morávamos em cavernas, por uma razão muito simples que até hoje nos preocupa, segurança. Quanto mais alto, mais seguro. Nós não seríamos pegos pelos animais rasteiros. Poderíamos descansar em paz. Nós já tínhamos, inclusive, inventado o fogo. Mas, não conseguimos descobrir a roda. Nós andávamos descalços distâncias terríveis. E estima-se que andávamos em busca de comida 15 a 20 km diariamente. Olha, hoje a gente anda muito mais, mas de carro.

A diferença é imensa entre que o homem de 6.200 anos atrás fazia para o homem da Internet faz. O mundo mudou. E associado às mudanças que o homem criou para tornar o mundo mais confortável, mais desenvolvido, mais conectado, nós estamos cada vez mais sedentários. Eu tenho uma opinião. Você foi muito brilhante quando disse uma doença cuja compreensão esteja totalmente esclarecida. Não está. É uma doença multifatorial. Aspectos genéticos, aspectos comportamentais, portanto, de natureza psíquicas também estão relacionados à obesidade.

E por ser uma doença multifatorial, o tratamento deverá ser também multiprofissional. É impossível para uma pessoa só encontrar a solução da obesidade, daí ser uma condição crônica, e como você mais uma vez, muito bem, frisou no nosso início, recorrente, que engorda, emagrece, engorda e emagrece. Efeito sanfona. Esse efeito sanfona precisa ser mudado. E como é que ele muda? Com a coisa mais difícil que o ser humano tem que fazer.

Todos nós sabemos que o mundo está em permanente processo de transformação, de mudança, mas não existe, no entanto, nada mais complicado que o ser humano mudar a si próprio. Nós viemos ao mundo para mudá-lo, mas para mudá-lo através das mudanças que nós queremos infringir aos outros, não as mudanças que nós deveríamos, inicialmente, fazer em nós mesmos. Então, a gente continua tendo comportamento sedentário, continuamos tendo uma alimentação desequilibrada, é junk food, é fast food. Não temos tempo para praticar exercício e vivemos conectados na internet, nos celulares. E cada vez mais abdicamos daquilo que deveria ser a nossa obrigação: uma atividade física regular.

Exames de rotina

Dayanna Quintanilha: Ótimo. E realmente, essa é uma questão que é importante. Pessoas acham mais fácil tomar uma medicação que é mais imediata do que mudar hábitos. Mudança de hábito, realmente, é um grande desafio. E eu gostaria de saber na sua rotina do consultório, com relação ao diagnóstico da obesidade, o que é importante da gente pensar em exames de rotina, de exames laboratoriais?

Sylvio Provenzano: Veja bem, existe todo um protocolo internacionalmente considerado para investigação de obesidade. Evidentemente, que diante de um quadro de obesidade o critério que a gente usa, por mais criticável que ele seja, e é o índice de massa corpórea. Evidentemente que o índice de massa corpórea acima de 30 kg/m² é um caso de obesidade. De 30 a 34.99 kg/m² obesidade grau um, portanto, uma obesidade leve. De 35 até 39.99 kg/m² obesidade moderada, grau dois. Acima de 40kg/m², obesidade importante, grave, grau três. Os hiperobesos acima de 50 IMC.

Para cada tipo de classificação existe uma abordagem clínica e terapêutica deve ser feita. É importante de rotina dosagem do hormônio estimulante da tireoide, o TSH. Uma vez que cada hormônio tireoidiano a regulação do metabolismo energético estamos falando de um distúrbio crônico relacionado ao metabolismo energético, portanto, um quadro de hipertireoidismo pode não ser um responsável e geralmente não é por uma obesidade com 50 kg de excesso de peso. Mas, certamente aquele indivíduo com TSH elevado ao iniciar um tratamento para redução de peso corpóreo, ele terá uma dificuldade imensa em conseguir atingir se o hipertireoidismo paralelamente não for também corrigido.

A dosagem do TSH de rotina não dosa o cortisol. O cortisol só vai ser dosado naqueles pacientes que estiverem estigmas de hipercortisolismo, estrias cutâneas, obesidade centrípeta, moon face (face de lua cheia), giba. Nesses pacientes, e principalmente, se eles estiverem associadamente hipertensão arterial, o que se diga de passagem é muito comum nos obesos, e se eles estiverem um quadro de diabetes, afastar uma síndrome de Cushing é essencial no processo de investigação nesse paciente obeso.

Distúrbios gonádicos como hipogonadismo, que muitas vezes evoluem com a obesidade, existem também estigmas clínicos que devem ser pesquisados num exame físico presencial do paciente obeso. Rarefação de pelos pubianos, de pelos axilares, atrofia de alguns caracteres sexuais secundários. Hipogonadismo tem que ser investigado pelo médico na hora da abordagem da obesidade. Como você disse, mais uma vez, eu repito muito bem, as pessoas vêm até o médico em busca de milagres. Elas vêm até o médico em busca daquele remedinho que vai transformar aquela pessoa muito acima do peso num atleta grego. E evidentemente que o mundo real não é assim.

Comorbidades

Dayanna Quintanilha: Ótimo. O senhor comentou algumas comorbidades, falou de hipotireoidismo, falou de hipertensão e eu também tenho visto muito relação da obesidade até mesmo com câncer. Eu queria saber se na sua rotina, o senhor costuma ver. E, eu vi também até relação a tabagismo que a obesidade é o fator de risco mais forte para determinados câncer do que o tabagismo. Câncer colorretal, câncer de rim. Como que tem sido isso na sua rotina?

Sylvio Provenzano: O câncer colorretal, em especial, assim como o câncer de mama e o câncer da próstata são situações associadas à obesidade. Portanto, na investigação clínica de um paciente obeso, sobretudo se ele tiver acima de 50 anos de idade, uma pesquisa de sangue oculto nas fezes é mandatório na investigação clínica e se ele ainda não se submeteu a uma videocolonoscopia esse tipo de exame tem que ser realizado. Na mulher de rotina, mamografia. E o homem além da dosagem do PSA total e livre, convém o toque retal para gente poder sentir se há o aumento da próstata, se há alguma alteração na sua textura.

Você tem razão a obesidade está associada a distúrbios neoplásicos. O paciente obeso tem uma incidência maior de neoplasia do que o paciente que tem o seu peso normal. Mas, não é só esse o problema associado à obesidade. Não podemos esquecer as condições osteoarticulares. A obesidade implica numa sobrecarga de peso para todo esqueleto e, evidentemente, os quadros de osteoartrite, degeneração da própria coluna vertebral, sobretudo da coluna lombo-sacra, elas estão associadas à obesidade e aí surgem um dos grandes problemas porque fecha um círculo vicioso. Eu preciso que o paciente com obesidade comece a realizar algum tipo de atividade física, na medida em que ele tem uma osteoartrose severa de joelho, de quadril, como é que ele vai conseguir praticar o exercício tão necessário à sua recuperação?

Portanto, a obesidade é uma condição que muitas vezes começa até mesmo na primeira infância. E ela tem que ser tratada desde o seu início para evitar que quando chegar numa idade mais avançada, os problemas que foram criados por esse excesso de peso se tornem tão acentuados, que acaba criando uma situação de irreversibilidade que vai dificultar o tratamento.

Falei do diabetes, que está associado à obesidade, sobretudo a obesidade do tipo central que está ligada, por sua vez, a resistência insulínica que é responsável pelo hiperinsulinismo, que é motivo também da obesidade. A insulina é um hormônio que tem efeitos anabolizantes. Falei inicialmente da síndrome metabólica ela é causada pela resistência insulínica, em 94 isso foi muito bem esclarecido. E o percentual que pessoas que nós temos no mundo inteiro com resistência insulínica é cada vez maior. Estima-se que aproximadamente 34% dos homens e um pouco mais de 25% das mulheres tenham resistência insulínica. E como é que a gente combate a resistência insulínica?

Existe um estudo, uma pesquisa brilhante feita em Harvard, que começou em 2006, que comprova que atividade física regular de cerca de 200 minutos semanais é essencial para diminuir a resistência insulínica. Além de uma dieta adequada, que sempre que possível deverá ser feita por um nutricionista, e uma atividade física regular, sempre que possível por um professor de educação física. E a gente vê como é multiprofissional a abordagem do paciente com obesidade, que muitas vezes está com sua autoestima lá embaixo. O apoio de um psicólogo para fazer uma terapia cognitiva, comportamental e é aquilo que vai poder, efetivamente, ajudar a melhorar o comportamento desse indivíduo sem o qual, sem essa mudança, vai ser muito difícil da gente encontrar uma solução que seja mantida pela obesidade.

Haja vista nem a cirurgia bariátrica conseguiria isso. Nós temos, hoje, um percentual de pessoas que se submeteram a cirurgia bariátrica há 15, 20 anos atrás que voltaram a ganhar peso. Apesar de terem sido submetidos aquilo que prometia ser, mas que não é a solução definitiva do problema.

Medicamentos para obesidade

Dayanna Quintanilha: Doutor Silvio, o senhor falou agora aqui para gente de vários pilares do tratamento da obesidade. Falou do exercício físico, do acompanhamento de um psicólogo, da dieta e agora da cirurgia. A minha pergunta agora é com relação a medicamentos. Tem espaço para os medicamentos?

Sylvio Provenzano: Sim. Evidentemente que a prescrição de qualquer medicamento é um ato médico. Cabe ao médico de acordo com a anamnese, de acordo com exame clínico, de acordo com os exames laboratoriais e de imagem complementares, averiguar qual tipo de droga mais indicada para aquele paciente ou qual associação de drogas mais indicadas. Porque muitas vezes, elas são úteis.

Nós temos, hoje, com relação à obesidade, um arsenal terapêutico muito limitado. Por quê? Porque no passado, nós ainda dispúnhamos dos anoréticos que saíram do mercado. Na minha opinião, felizmente. Haja vista os efeitos colaterais, alguns deles extremamente graves causados por esse tipo de substância.

Curiosamente, no nosso país ainda é permitido a prescrição da sibutramina. Eu, particularmente, não faço. Por que eu não faço? Se nos Estados Unidos, na Austrália, no Canadá, na Inglaterra, na Alemanha, na França, no Japão a droga está proibida, por que o médico brasileiro acha que ela vai ser útil para o meu paciente aqui? Lá foi visto que ela aumenta a pressão arterial e há pouco, eu disse que a pressão arterial num paciente obeso, normalmente, já é um pouco mais elevada. Sibutramina aumenta a pressão arterial e talvez isso por si só seja um motivo que explique o aumento da incidência de eventos cardiovasculares nesse tipo de paciente em uso da sibutramina. Lembrando que complicações cardiovasculares são a principal causa de mortalidade, mais ainda do que a incidência de doenças neoplásicas no paciente obeso. Usar uma droga que aumenta o risco do evento cardiovascular não me parece sensato. Então, essa é a primeira observação.

As demais drogas anoréticas do grupo das anfetaminas foram totalmente proscritas, inclusive, aqui no Brasil. Felizmente. O que eu tenho, então, para tratamento da obesidade? Eu tenho, por exemplo, orlistate que é um medicamento que atua bloqueando a lipase da parede intestinal, de tal modo que uma parte da gordura proveniente da dieta não possa ser absorvido. E com isso, eu vou ter um quadro de esteatorreia. Alguns inconvenientes que causaram alguns desconfortos em algumas pessoas até mesmo por falta de orientação médica. Você não pode negociar com a vontade de ir ao banheiro. Deu vontade… olha, não pega doença venérea no banheiro. Você limpa direitinho, sente-se. Melhor do que você de repente tossir, espirrar e se ver ali num constrangimento sem sentido. É um inconveniente do uso da droga. Eu já tive paciente que disse assim, olha o senhor me passou um remédio que eu estou com diarreia. Na verdade, você está com esteatorreia e esse tipo de alimentação que você está fazendo favorece o efeito esteatorreico da droga. Mas, é uma droga que pode ser usada e que nos Estados Unidos, através do FDA liberaram para crianças acima de seis anos. Evidentemente que numa dosagem que é metade daquela que utilizada em adultos. Mas, é uma droga segura uma vez que ela não tem absorção sistêmica. Ela é de aplicação, inclusive, só na parte interna.

Outro tipo de droga que a gente utiliza com relação à obesidade são os agonistas GLP-1. Drogas que inicialmente foram utilizadas para o controle diabetes do tipo 2, que é uma condição que frequentemente está ligada à obesidade. No controle da glicemia desses pacientes, observava-se que paralelamente havia uma redução de peso. O que é muito bom em se tratando do diabete tipo 2 que tem um risco cardiovascular de 2 a 4 vezes a maior da população normal. O que é normal? O que não é obeso e o que não é diabético.

Então, o diabético do tipo 2 que é habitualmente é obeso, ele tem o risco de sofrer um infarto ou AVC 2 a 4 vezes maior, dependendo de outros fatores de risco associados, evidentemente, como dislipidemia, hipertensão arterial, tabagismo, sedentarismo e por aí vai. Agonistas GLP-1 fazia reduzir peso. Por que ele provoca isso? O mecanismo pelo qual ele reduz o apetite, ele aumenta a sensação de saciedade até hoje não está muito bem explicado. Mas o fato é que essas drogas fazem com que o indivíduo tenha uma sensação de saciedade precoce e uma náusea que é permanente. O que em alguns indivíduos pode ser muito desconfortável ao ponto de impedir que o tratamento seja continuado. E eu boto entre vírgulas infelizmente, porque é uma droga útil. Malgrado, ela tem um custo que para nossa população geral é muito elevado.

Mas, aqueles que podem fazer uso é uma droga segura, atentando que o principal efeito colateral é pancreatite. Então, cabe ao médico no momento da prescrição, que deve ser feita conforme protocolo, doses crescentes até que o efeito anorético ou de controle da glicemia seja obtido. A dose mínima eficaz é que é preferida, evidentemente, até por uma questão de redução de custo do tratamento e esse paciente tem que ser monitorado, pelo menos com exames laboratoriais, hepatograma, amilase e lipase a cada três meses. E alertado na eventualidade de uma dor supra umbilical que se irradia para o dorso acompanhada de um enjoo forte e vômito, procure uma emergência. Pode ser uma pancreatite. É uma incidência rara, porém, temida. E que com a suspensão da droga, normalmente, totalmente, revertida. Não é proibitivo do uso da droga, mas cabe ao médico, somente a ele orientar seus pacientes com relação ao risco embutido nesse tratamento.

Existem drogas que são paralelas, não necessariamente associadas à redução do peso, como as duas primeiras que eu citei. Mas, com relação a aspectos que estão facilitando a obesidade. Uma das causas de obesidade é o chamado Transtorno Compulsivo Alimentar, é aquele indivíduo, por exemplo, que briga durante três horas e vai abrir a caixa de bombom ou não para comer unzinho. E ao abrir a caixa de bombom, ele come todos. Há uma compulsão. Depois bate uma sensação de arrependimento e tristeza, tipo eu não devia ter feito isso. E que ninguém nos ouça, não devia mesmo, mas fez. E faz isso, eu diria que de uma maneira corriqueiro, recorrente. Esse indivíduo, ele precisa de um suporte psicológico e muitas vezes de medicamentos que atuam no Transtorno Compulsivo Alimentar que existe.

Normalmente drogas do grupo dos antidepressivos, como cloridrato de bupropiona e cloridrato de fluoxetina, que podem ser utilizados, evidentemente em função da anamnese e em função das condições clínicas para saber se esses pacientes tem condições de usá-la ou não. Existem novas drogas entrando, recentemente, no mercado, mas que ainda precisam de um maior tempo para elas serem adequadamente avaliadas, de modo que a gente possa ter uma segurança maior ao seu uso. Vamos aguardar o futuro que está batendo à porta.

Cirurgia metabólica

Dayanna Quintanilha: E com relação à cirurgia metabólica? Qual é a experiência de consultório?

Sylvio Provenzano: Em primeiro lugar, as indicações para a chamada gastroplastia redutora, basicamente, são dois grandes grupos de cirurgias. Então, você tem a cirurgia do tipo sleeve, em que você faz a redução do estômago, cria aquele tubo, e tem a cirurgia que é a gastroplastia com ressecção ideal, faz um bypass jejunoileal, essa é uma cirurgia disabsortiva. Ela é, particularmente, indicada para o paciente pré-diabético ou já diabético. Por quê? Porque ela vai concomitantemente aumentar a concentração das incretinas, hormônio que é importante no controle do diabete. Faz um efeito semelhante aos inibidores da DPP-4.

Então, existem casos de pacientes cujo quadro de diabetes no seu início chegou a ser revertido por esse tipo de gastroplastia, então, ela tem a indicação. Normalmente, quando é que nós indicamos a gastroplastia redutora? Quando o IMC está acima de 40 kg/m² em indivíduos acima de 18 anos de idade. Há quem indica cirurgia numa idade mais precoce. Eu tenho como norma 18 anos. Não faço cirurgia acima dos 65 anos de idade. Existe um período da vida em que normalmente deve ser feito. Por que, Sylvio? Pelos efeitos colaterais que esses pacientes, muitas vezes, podem apresentar na cirurgia e pelas comorbidades, certamente presentes, que aumentariam muito o risco do intra-operatório e do pós-operatório imediato. Então, a idade ideal seria dos 18 aos 50 de idade com uma avaliação clínica rigorosa, prévia, avaliação cardiológica de modo que os riscos dessa cirurgia possam ser muito bem dimensionados.

Existe uma condição onde com obesidade grau dois, aquela que eu disse que vai de 35 a 39.9 kg/m², onde a cirurgia metabólica, ela pode estar indicada. Em que situação? Quando já houver uma condição diretamente ligada à obesidade, como hipertensão arterial, dislipidemia, particularmente a hipertrigliceridemia, geralmente acompanhada da redução do HDL colesterol, hiperglicemia, e o próprio diabetes ou pré-diabetes.

Ou uma condição osteoarticular que esteja associada àquela obesidade que mesmo em grau moderado naquele indivíduo provocou a operação de artrose, que vai dificultar a atividade física, portanto, a cirurgia passa a ser uma ferramenta valiosíssima para que a gente consiga a redução de peso, melhorar o quadro articular de modo que aquela pessoa possa iniciar uma atividade física que é fundamental para que os efeitos da redução dos pessoas obtidos pela cirurgia possam ser mantidos num período de tempo maior.

Take-home message sobre abordagem da obesidade nos consultórios

Dayanna Quintanilha: Gostaria de pedir agora que o senhor deixasse para os nossos ouvintes uma mensagem prática do que o senhor julga como mais importante na abordagem da obesidade nos consultórios?

Sylvio Provenzano: Aos colegas de modo em geral que estão acessando dizer que talvez as condições que um médico tenha vaidade de querer tratar a obesidade seja uma das que mais frustrações traz para nós como médicos. Por que isso acontece? Porque, em primeiro lugar, nós temos que tentar fazer com que o paciente consiga aquilo que é inatingível, mudar a si próprio. Seja com relação ao seu estilo de vida, seja com relação a seu hábito alimentar, seja com relação ao uso de medicamento que muitas vezes vem carregado de efeitos adversos e é muito difícil para o paciente manter o seu uso, cabe ao médico tentar convencê-lo dessa empreitada.

Segundo, o paciente obeso ele tem uma série de condições associadas, cabe a você, colega, somente a você, investigá-los. Então o perfil bioquímico desse paciente é mandatório, um hepatograma, uma ultrassonografia abdominal com atenção especial para o parênquima hepático, ver se existe aquela esteatose hepática que muitas vezes associa. A esteatose hepática é uma condição que há 20 anos atrás nós não dávamos a mínima e no entanto, hoje a gente já sabe que daqui a quatro anos será a principal causa cirrose hepática em todo o mundo. Portanto, esteatose hepática não é bobagem. “Ah, só quando o indivíduo bebia”. Isso era no passado. Normalmente, aquele alcoolista crônico tinha esteatose, era o caminho da cirrose. Mas, mesmo que o indivíduo não beba, se ele tem esteatose devido à resistência insulínica, devido à obesidade, ele pode caminhar para uma cirrose, quiçá para um hepatocarcinoma. Portanto, essa é uma condição que cabe ao clínico, o endocrinologista, investigar e tratar. Seja com biguanida, seja com uma tiazolidinediona, no caso glitazona.

Existem medicamentos que devem ser lançados não para que o indivíduo tenha o seu controle, além da importante participação dos nossos colegas de trabalho. Nutricionista, um personal trainer sempre que possível, porque atividade física de um indivíduo que esteja muito acima do peso não pode ser a mesma atividade física daquele indivíduo que está com sobrepeso. Temos que levar em consideração as limitações não só do aparelho cardiovascular, mas do aparelho osteomuscular. Eu não posso impor a esse indivíduo uma sobrecarga de exercício que ele vá um dia à academia e fique uma semana no hospital. Eu preciso ter um bom senso de começar uma atividade física leve e que progressivamente essa atividade vá sendo gradativamente aumentada, de modo que ele possa com o passar do tempo reduzindo o seu peso e aumentar o seu condicionamento físico. Então, é um trabalho de vários profissionais que sempre que possível deveriam ter uma comunicação entre eles de tal modo que o objeto mais importante disso que é o nosso paciente possa ser beneficiado o máximo possível.

Dayanna Quintanilha: Eu gostaria de agradecer muito pela sua participação. Dizer que foi uma honra imensa ter a sua presença aqui no nosso PODCAST. Eu, como clínica, tenho certeza de que algumas informações que a gente conversou aqui vão ser muito úteis no meu consultório. Agora em breve terei. Sou recém-formada. Para quem está nos ouvindo, vamos ficar ligados no mês da obesidade. A gente vai trazer muitos posts a respeito disso, mais podcasts. E entre sempre no nosso Portal PEBMED para acompanhar nossas atualizações. Até a próxima.

Sylvio Provenzano: Eu queria agradecer muito a você, Dayanna, a oportunidade de participar do teu podcast do Portal PEBMED. Acredite que a honra é toda minha de poder participar enquanto colega seu de clínica. Somos todos clínicos, eu recentemente fui indicado ao Conselho Federal de Medicina como um membro da câmara técnica de clínica médica, e lá em Brasília estamos tentando junto ao Presidente do Conselho Federal de Medicina, doutor Rodrigo, que é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo, nós estamos tentando criar a câmara técnica de endocrinologia de modo a tentarmos coibir alguns abusos que existem, não só na área do tratamento da obesidade, mas em outras áreas aonde alguns, eu diria “pseudos endocrinologistas” fazem prescrições absolutamente inadequadas e isso é uma coisa que nós em Brasília vamos começar a dar alguma atenção, para que possamos ter normas no uso de determinado medicamentos sobretudo de patches hormonais. Existe uma história de harmonização, de remodelação hormonal, rejuvenescimento, anti-aging, existe um abuso por parte de “certos colegas” que estão fazendo isso. Não existe nenhuma norma que possa coibi-los. A minha intenção em Brasília é exatamente junto com o doutor Rodrigo e com outros ilustres colegas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo estabelecermos normas para utilização dessas drogas de tal modo que o uso inadequado possa ser de algum modo proibido pelo conselho. Então, agradecer a você e dizer que sempre que for necessário conte com esse humilde colega, que na verdade é presidente por acaso do Conselho Regional de Medicina do estado do Rio de Janeiro. Mas, se orgulha muito de ser o chefe licenciado do serviço de clínica médica do Hospital Federal dos Servidores do Estado. Lá eu entrei em 82, lá eu constitui a minha carreira após ter saído da UFRJ em 81. Então, eu agradeço muitíssimo a oportunidade e disponha sempre que você precisar. Use e abuse. Obrigado.

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