Dieta do mediterrâneo ou mindfulness por gestantes de alto risco reduzem o risco de o bebê nascer pequeno para a IG?

Um estudo avaliou se a dieta do mediterrâneo ou mindfulness reduzem o risco do bebê nascer pequeno para a IG em gestantes de alto risco.

Nascer com peso abaixo do percentil 10, o que chamamos de pequeno para idade gestacional (PIG), é a principal causa de morbimortalidade perinatal ainda sem prevenção e tratamento efetivos. Nutrição inadequada e altos níveis de estresse podem estar associados a complicações obstétricas e ao neonato ser PIG, mas estudos clínicos randomizados ainda não tinham avaliado os efeitos da melhora da dieta ou redução do estresse na prevenção do neonato nascer PIG. Por esse motivo, Crovetto e colaboradores resolveram fazer um estudo para avaliar se a dieta do mediterrâneo ou a prática de “atenção plena” (mindfulness) por gestantes de alto risco reduzem o risco de o bebê nascer pequeno para a idade gestacional. O estudo foi publicado em dezembro de 2021 na revista JAMA. Neste artigo, destacaremos as principais contribuições desse estudo. 

dieta do mediterrâneo

Metodologia do estudo 

Diante disso, Crovetto e colaboradores fizeram um estudo clínico duplo cego, randomizado e controlado unicêntrico, em uma maternidade de grande porte na cidade de Barcelona na Espanha, para avaliar se a dieta do mediterrâneo ou a prática de “atenção plena” por gestantes de alto risco reduzem o risco de o bebê nascer pequeno para a idade gestacional e desfechos obstétricos (prematuridade, pré-eclâmpsia, mortalidade perinatal, apgar <7 com cinco minutos de vida, acidose e PIG grave, quando o peso ao nascer fica abaixo do P3 para a idade) e morbidades (encefalopatia hipóxico-isquêmica, displasia broncopulmonar, hemorragia intraventricular III e IV, leucomalácia periventricular, sepse e entercolite necrosante).  

Foram incluídas gestantes a partir de 18 anos de idade, fluentes em Espanhol, com gestação única, com batimento cardíaco fetal presente à ultrassonografia e de alto risco para ter neonato PIG conforme critério de Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. Foram excluídas pacientes que evoluíram com aborto ou cujo filho da gestação atual teve diagnóstico de alguma malformação, alteração cromossomal, incapacidade de comparecer em consultas adicionais, mãe com algum déficit cognitivo ou transtorno psiquiátrico grave.  

Após consentirem em participar no estudo por meio de termo na metade da gestação, as gestantes foram randomizadas por número gerado por computador em três grupos 1:1:1 : (a) grupo controle/ sem intervenção (seguindo apenas protocolos institucionais de pré-natal); (b) grupo do programa de redução de estresse por meio da “atenção plena” (mindfullness em Inglês) conduzido por professoras por oito semanas com sessões de 2h30min/semana, prática diária em casa (com livro, áudios e website de apoio), um dia inteiro de sessão, discussões em grupo e também posições de ioga; (c) grupo com dieta do mediterrâneo suplementada com azeite extra virgem (2 litros/mês) e 15g de nozes/dia acompanhada por nutricionistas mensalmente e com adesão avaliada por questionários.  

 Todas as gestantes responderam questionários previamente validados sobre hábitos de vida, dieta, escalas para aferir ansiedade, bem-estar e estresse. Também foram avaliadas por nutricionistas na consulta inicial (idade gestacional – IG de 19 a 23,6 semanas) e última consulta (IG 34 a 36 semanas). Os grupos intervenção foram submetidos a questionários para avaliação de adesão à intervenção. 

Resultados do estudo 

Das 1.221 gestantes de alto risco randomizadas com idade mediana de 37 anos (34-40 anos), 1.184 completaram o estudo: 

  • 392 gestantes do grupo dieta do mediterrâneo,  
  • 391 gestantes do grupo de prática de “atenção plena”
  • 401 gestantes do grupo controle. 

Ocorreram 37 exclusões, sendo 27 por conta de retirada do consentimento e 10 por malformação. 

Houve maior incidência de neonatos PIG no grupo controle (n: 88; 21,9%) que no grupo da dieta mediterrânea (n: 55, 14%) (odds ratio [OR], 0,58 [IC 95%, 0,40-0,84]; com diferença de risco [RD], −7,9 [IC 95%, −13,6 a −2,6]; P = 0,004) e no grupo de prática de atenção plena” (n: 61; 15,6%)  (OR, 0,66 [IC 95%, 0,46-0,94]; RD, −6,3 [IC 95%, −11,8] para -0,9]; P = 0,02).  

O resultado perinatal adverso composto era uma combinação de: (a) PIG grave e/ou pré-eclâmpsia; (b) PIG grave e/ou pré-eclâmpsia e/ou morte perinatal; (c) PIG grave e/ou pré-eclâmpsia e/ou morte perinatal e/ou prematuridade. Esse resultado ocorreu em 105 neonatos no grupo controle (26,2%), 73 (18,6%) do grupo de dieta mediterrânea (OR, 0,64 [IC 95%, 0,46-0,90]; RD, −7,6 [IC 95%, −13,4 a −1,8]; P = 0,01) e 76 (19,5%) no grupo de prática de “atenção plena” (OR, 0,68 [IC 95%, 0,49-0,95]; RD, −6,8 [IC 95%, −12,6 a −0,3]; P = 0,02). Houve adesão de 62% do grupo da dieta mediterrânea à dieta, enquanto a adesão do grupo de prática de “atenção plena” à intervenção foi de 50,2%.  

Não houve diferença significativa nas morbidades neonatais nos grupos.  

Leia também: Gestante com diagnóstico de pré-eclâmpsia: quando realizar o parto?

Discussão e conclusão 

Randomizar indivíduos em grupos e torná-los comparáveis é sempre um desafio nos estudos. Neste estudo, os autores apontaram alguns fatores de confusão em relação ao grupo controle: piores características prognósticas e neonatos com idade gestacional ao nascimento menor impactando em menor peso ao nascimento. Portanto, talvez o grupo controle tenha apresentado características com efeito negativo e não as intervenções tenham apresentado efeito positivo.  

Outro desafio do estudo foi trabalhar com intervenções que alteram hábitos de vida com adesão mediana nos grupos. Também há a questão dos efeitos cruzados de uma dieta mais saudável e uma prática que reduz o estresse, pois quem se alimenta melhor tende a se sentir melhor, assim como uma pessoa menos estressada tende a se alimentar melhor.  

É importante que novos estudos sejam feitos para averiguar o efeito dessas intervenções nas gestantes antes de considerá-las recomendadas por conta das limitações do estudo. 

Referências bibliográficas:

  • Crovetto F, et al. Effects of Mediterranean Diet or Mindfulness-Based Stress Reduction on Prevention of Small-for-Gestational Age Birth Weights in Newborns Born to At-Risk Pregnant Individuals: The IMPACT BCN Randomized Clinical Trial. JAMA. 2021 Dec 7;326(21):2150-2160. doi: 10.1001/jama.2021.20178. PMID: 34874420; PMCID: PMC8652606.

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