Dieta mediterrânea reduz riscos de recidiva de infarto agudo do miocárdio?

Várias informações estão disponíveis acerca da dieta mediterrânea. Seria essa dieta capaz de reduzir a ocorrência de infarto agudo do miocárdio?

Um dos componentes principais de avaliação dos hábitos de vida durante os atendimentos em atenção primária é referente à alimentação. O estilo de dieta é ponto chave dos fatores modificações que está relacionado à prevenção e parte estrutural do atendimento em cenários de atenção primária.

Em relação a isso, em diversos meios de comunicação, várias informações com teores distintos de rigor científico estão disponíveis acerca da dieta mediterrânea. Quais os benefícios cardiovasculares associados à essa modalidade de dieta? Seria essa dieta capaz de reduzir a ocorrência de infarto agudo do miocárdio?

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médico orientando paciente idosa sobre dieta mediterrânea e infarto

Dieta mediterrânea e infarto

Para responder essa pergunta, pesquisadores realizaram uma revisão de literatura com o objetivo de entender se a dieta mediterrânea é capaz de influenciar desfechos cardiovasculares. As dúvidas sobre essa influência surgiram com a observação de epidemiologia de algumas doenças cardiovasculares em meio à população que vive no Mediterrâneo.

A prevalência de doença coronariana entre esses indivíduos é muito inferior em relação a ao restante da população mundial. Muitas foram as teorias para explicar esse evento, mas uma dieta com grandes quantidades de ácido linoleico e flavonoides parece ser a chave principal.

O que é uma dieta mediterrânea?

A dieta mediterrânea é um padrão alimentar contido em um grupo de dietas conhecidas como “plant based diet”, ou dieta baseada em plantas. Essa é uma modalidade de alimentação em que a proporção dos tipos alimentares é realizada de modo que a maior parte seja composta por plantas.

De modo extremamente simplificado uma dieta mediterrânea irá consistir em:

  • Frutas e vegetais
  • Azeite de oliva como principal fonte de gordura
  • Peixes e aves em quantidades moderada a baixa
  • Consumo diário de queijos e iogurtes
  • Carne vermelha consumida em baixas quantidades
  • Vinho tinto em baixas a moderadas quantidades.

Dietas com esse padrão são pobres em gorduras saturadas e omega-6, ao passo que são ricas em omega-3, ácidos oleicos, fibras, antioxidantes proteínas, vegetais e vitaminas do complexo B.

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O estudo

Os pesquisadores evidenciaram na revisão os achados principais de um ensaio clínico duplo-cego controlado e randomizado de prevenção em sobreviventes de um único infarto agudo do miocárdio. O estudo foi parte de uma intervenção da American Heart Association (AHA) envolvendo 605 indivíduos. Nesse estudo os indivíduos foram acompanhados ao longo de 5 anos. Os pacientes ficaram randomizados em um grupo com dieta mediterrânea e outro com dieta livre. No grupo intervenção as quantidades de óleos similares ao azeite de oliva, porém com maiores teores de ácido linoleico, foram oferecidas livremente.

O estudo foi interrompido antes de se completar o follow-up com aproximadamente quatro anos devido ao grande benefício encontrado na intervenção frente ao grupo controle. O desfecho morte foi observado em 8% dos pacientes do grupo controle ao passo que no grupo intervenção esse desfecho foi de 4,6% (p=0,03). Outros desfechos como neoplasias e infartos não fatais foram observados também. O grupo controle apresentou 5,6% de neoplasias descobertas, frente à 2,3% no grupo intervenção. Em relação aos infartos não fatais a prevalência foi de 8,2% no grupo controle contra 2,6% no grupo intervenção.

Variáveis de confusão entre os grupos, como tabagismo, uso de medicações, atividade física, hipertensão arterial, fatores psicossociais e peso foram avaliadas e normalizadas, de modo que não houve diferença entre os grupos. A única diferença significativa encontrada foi o padrão alimentar. De modo paradoxal, os níveis sérios de colesterol total, triglicérides e HDL foram semelhantes entre os participantes de ambos os grupos ao final do estudo.

Os resultados do estudo devem ser compreendidos no âmbito de suas limitações. Seguir o grau de aderência à cada modalidade de dieta entre os participantes é um fator de limitação. O uso de formulários e questionários para identificar a aderência não é tão objetivo e depende em muito da relação com os sujeitos de pesquisa.

Por outro lado, a magnitude dos resultados é algo que impressiona. Ao se normalizar a comparação da dieta mediterrânea com o uso de estatina para prevenir mortalidade após o primeiro episódio de infarto agudo do miocárdio encontramos que a cada 30 pacientes que realizam a dieta um irá ser salvo enquanto para o uso de estatinas para que se evite uma morte é necessário tratar 83 pacientes. Além disso, a dieta foi eficaz em reduzir outros desfechos secundários negativos, sem implicar em nenhum dano aos pacientes que aderiram.

Conclusões

Dessa forma, a mensagem a ser levada para casa é a cada 18 pacientes tratados uma recidiva de infarto agudo do miocárdio é evitada com uso da dieta, e cada 30 uma morte é evitada como igualmente o é para prevenção de surgimento de neoplasias. Isso significa que ao se abordar prevenção de eventos cardiovasculares enfatizar a dieta e hábitos de vida é mais importante em termos de eficácia do que se pensar em adesão farmacológica propriamente dita. Da próxima vez em que abordar o tema no consultório, lembre-se de incentivar mudanças de hábitos e na construção de planos terapêuticos lembre-se de consultar aqui o que é o núcleo de uma dieta mediterrânea.

Referências bibliográficas:

  • de Lorgeril M, Salen P, Martin, J, et.al. Mediterranean Dietary Pattern in a Randomized Trial. Archives of Internal Medicine 1998, 158: 1181-7.
  • de Lorgeril M, Renaud S, Mamelle N, et al. Mediterranean alpha-linolenic acid-rich diet in secondary prevention of coronary heart disease. The Lancet; Jun 11, 1994; 343:1454-9.
  • Coronary heart disease in seven countries. Summary. Circulation, 1970. Apr;41(4 Suppl):I186-95.
  • Control of bias in dietary trial to prevent coronary recurrences: The Lyon diet heart study. European Journal of Clinical Nutrition 1997. 51: 116-122

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