Disseminação de partículas após a tosse ou fala: risco de transmissão da Covid-19 em diversos cenários

O desconhecimento sobre a transmissão aérea da Covid-19 tem dificultado o controle da disseminação da doença e a implementação de medidas efetivas.

A doença respiratória Covid-19, associada ao novo coronavírus SARS-CoV-2, tem acometido milhões de pessoas em todo o mundo e atingido significativamente inúmeros profissionais de saúde. O desconhecimento sobre o potencial de transmissibilidade aérea do vírus tem dificultado o controle da disseminação da doença e a implementação de medidas efetivas de controle.

Transmissão da Covid-19

Dois estudos publicados recentemente apresentaram resultados científicos interessantes que auxiliam a maior compreensão sobre as propriedades de disseminação aérea das partículas geradas pela fala ou tosse, e que mimetizam a aerodinâmica do processo de aerossolização que pode levar à transmissão de inúmeros virions de SARS-CoV-2, e estão descritos abaixo.

  1. Stadnytskyia et al. (2020): Disseminação de partículas aéreas por gotículas geradas pela fala

O recurso da fala gera milhares de gotículas orais com dimensões distintas (de 1 a 500 um) que podem conter patógenos respiratórios. E já foram descritas altas cargas de SARS-CoV-2 em flúidos orais de indivíduos assintomáticos, por exemplo (Wölfel et al, 2020). Uma vez em contato com o ar, ocorre o processo graudal de desidratação das gotículas por evaporação do conteúdo aquoso, resultando na diminuição do tamanho das partículas (em 20 a 34% do tamanho original) e maior período em suspensão.

Os pesquisadores participantes desse estudo utilizaram um emissor de laser para a observação de partículas geradas pela fala de dimensões variáveis (de 10 a 100 um), e verificaram que a maior parte permanece em suspensão no ar por no mínimo 30 seg até aproximadamente 14 minutos. Observou-se também que um maior número de partículas aéreas é gerado quanto maior o volume da voz. Propõe-se também que há uma carga viral em torno de 7 x 106 cópias de RNA/mL (máximo de 2,35 x 109 cópias de RNA / mL) de SARS-CoV-2 em gotículas aéreas recém geradas pela fala e, antes da desidratação, a probabilidade de uma partícula aérea com cerca de 50 um conter um virion é de 37%, e sugere-se que o número de vírions liberados na fala possa ser acima de 100.000 por minuto de fala.

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  1. Feldman et al. (2020): Disseminação de partículas aéreas por aerossol durante o processo de intubação orotraqueal

Os procedimentos geradores de aerossóis nos cuidados com pacientes contendo Covid-19 levam à indicação de uso de equipamentos de proteção individual (EPI) específicos como máscaras N95, óculos de proteção, gorro, jalecos descartáveis, luvas e viseiras durante todo o cuidado e em setores específicos que contenham, de preferência, sistema de pressão negativa.

Os pesquisadores do presente estudo avaliaram a presença de contaminações da pele de quatro profissionais de saúde (dois médicos e dois enfermeiros) após manipulação de via aérea com tubo orotraqueal (sequência rápida de intubação) através da simulação com 02 manequins (um adulto e outro pediátrico) com duração de 20 minutos e 02 episódios de tosse. Foi utilizado um componente fluorescente (Glo Germ) como marcador de contaminação em superfícies, e um leitor com emissão de luz ultravioleta, com capitação por videocâmara.

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Todos os oito membros das equipes que se dividiram nas simulações com adulto e criança apresentaram marcadores fluorescentes no cabelo, sete apresentaram na pele exposta, seis no pescoço e 01 no ouvido. Quatro participantes apresentaram marcadores fluorescentes nos sapatos. Tais achados indicam que as medidas recomendadas atualmente pela Organização Mundial de Saúde e diversas instituições podem ser insuficientes para proteger a exposição dos profissionais de saúde nos setores de Emergência e Unidades de Tratamento Intensivo. O uso de roupa com cobertura total da pele podem diminuir o risco de exposição.

Detalhes adicionais dos estudos citados podem ser obtidos nas referências citadas.

Referências bibliográficas:

  • Feldman O, Meir M, Shavit D, Idelman R, Shavit I. Exposure to a Surrogate Measure of Contamination From Simulated Patients by Emergency Department Personnel Wearing Personal Protective Equipment. JAMA. 2020 Apr 27. doi: 10.1001/jama.2020.6633.
  • Liu Y., et al., Aerodynamic analysis of SARS-CoV-2 in two Wuhan hospitals. Nature, 10.1038/s41586-020-2271-3 (2020)
  • Rothe C., et al., Transmission of 2019-nCoV infection from an asymptomatic contact in Germany. N. Engl. J. Med. 382, 970–971 (2020).
  • Stadnytskyi V, Bax CE, Bax A, Anfinrud P. The airborne lifetime of small speech droplets and their potential importance in SARS-CoV-2 transmission. Proc Natl Acad Sci U S A. 2020 May 13. pii: 202006874. doi: 10.1073/pnas.2006874117.
  • Verbeek J H, Rajamaki B, Ijaz S, et al. Personal protective equipment for preventing highly infectious diseases due to exposure to contaminated body fluids in healthcare staff. Cochrane Database Syst Rev. 2019; 7: CD011621.doi:10. 1002/14651858.CD011621.pub3
  • Wölfel, R. et al., Virological assessment of hospitalized patients with COVID-2019. Nature, 10.1038/s41586-020-2196-x (2020).
  • World Health Organization. Rational use of personal protective equipment for coronavírus disease 2019 (COVID-19). Published February 27,2020.

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