Doença reumática cardíaca: um problema mundial

A doença reumática cardíaca (DRC) é uma sequela da febre reumática aguda que, geralmente, é uma doença da pobreza associada a falta de saneamento básico e outros determinantes da má saúde.

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A doença reumática cardíaca (DRC) é uma sequela da febre reumática aguda que, geralmente, é uma doença da pobreza associada a falta de saneamento básico e outros determinantes da má saúde. A Organização Mundial de Saúde e a Federação Mundial do Coração pediram uma redução de 25% na mortalidade por causas cardiovasculares, incluindo a DRC até o ano de 2025.

Em agosto desse ano o New England Journal of Medicine publicou o Global Burden of Disease Study (GBDS) 2015 em que foi estimada a carga regional, nacional e mundial da DRC para os anos de 1990 a 2015.

A DRC é considerada um dos maiores flagelos cardiovasculares do século XX. A melhora na qualidade de vida e a introdução da penicilina levaram a erradicação quase total da doença no mundo desenvolvido na década de 1980. Em países em desenvolvimento, ela permanece como uma força a ser considerada conforme demonstrado pelo GBDS de 2015.

Várias mensagens emergem desse importante estudo. O estudo confirma a marcada heterogeneidade global da DRC, com prevalência quase zero em países desenvolvidos, que contrasta fortemente com a prevalência e mortalidade substancial nos países em desenvolvimento. A estimativa da doença de 33,4 milhões de casos em todo o mundo é mais que o dobro do que foi calculado em 2005 através de uma revisão sistemática da literatura.

É importante observar que a DRC subclínica foi excluída da análise do GBDS e dados mostram que para cada caso de DRC podem existir de 3 a 10 casos de DRC subclínica detectados pelo ecocardiograma. Portanto, o verdadeiro peso da doença pode ser maior que o estimado pelo GBDS com os casos subclínicos representando a parte submersa desse iceberg gigante. O tema tem importância porque existem evidências de que a DRC subclínica pode progredir para a forma sintomática

Os dados do GBDS 2015 são uma mensagem oportuna para a comunidade global de que o controle da DRC está longe de ser conquistada. A quase erradicação da doença em países desenvolvidos levou a uma negligência da doença nos últimos anos.

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Durante sua formação, estudantes de medicina em países desenvolvidos quase nunca vêem uma criança com febre reumática aguda e as questões sobre DRC desapareceram dos exames de qualificação. Essa situação contrasta com o envolvimento com outras doenças infecciosas como tuberculose, HIV e malária.

Embora a mortalidade por essa doença seja de 3 a 5 vezes maior do que a febre reumática, os investimentos em pesquisas são 500 a 1000 vezes mais elevado do que se gasta com a DRC. Em 2013 a mortalidade global por malária foi de 854.600 com gastos em pesquisa de 533 milhões de dólares enquanto a febre reumática com 275.100 mortes o investimento em pesquisa foi de apenas 900 mil dólares.

Embora o problema com a DRC seja uma preocupação dos países pobres e subdesenvolvidos, países ricos não podem negligenciar a DRC. Grandes movimentos populacionais como a crise de refugiados, podem deslocar pessoas com febre reumática e DRC para países desenvolvidos onde as equipes médicas não estão preparadas e nem familiarizadas para lidar com o problema.

Nas últimas décadas surtos ocasionais da DRC têm sido relatados em países desenvolvidos. Tal como a poliomielite, o objetivo mundial em relação a DRC deve ser a erradicação total da doença. Melhores condições de vida, educação pública, acesso universal à terapia antibiótica precoce para infecção estreptocócica e rastreio da doença valvar precoce devem ser pedras angulares dos esforços de erradicação.

Embora o GBDS 2015 tenha observado um declínio na prevalência da DRC, a carga da doença permanece elevada para os países com maior dificuldade para lidar com o problema. Sem o comprometimento dos médicos, pesquisadores e órgãos de saúde pública, a erradicação total da DRC parece ser improvável em um futuro próximo.

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Referências:

  • Watkins DA, Johnson CO, Colquhoun SM, et al. Global, regional, and national burden of rheumatic heart disease, 1990– 2015. N Engl J Med 2017;377:713-22
  • Rheumatic Heart Disease — An Iceberg in Tropical Waters Eloi Marijon, M.D., Ph.D., David S. Celermajer, F.R.C.P., Ph.D., and Xavier Jouven, M.D., Ph.D n engl j med 377;8 nejm.org August 24, 2017;780-1

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