Doenças do outono: em quais diagnósticos precisamos pensar?

As quedas bruscas de temperatura que ocorrem no país no outono tendem a piorar o quadro de doenças respiratórias em crianças e adultos.

O mais recente Boletim InfoGripe, divulgado no dia 12 de maio pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra indícios de crescimento da Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) na população adulta em diversos estados ao final do mês de abril (meio do outono), assim como sinalizado na semana anterior.

Os casos de Covid-19 apontam interrupção de queda entre as notificações com resultado laboratorial positivo para vírus respiratórios, correspondendo a 37% nas últimas quatro semanas. A contribuição dos casos associados ao vírus sincicial respiratório (VSR) segue sendo a maior entre os vírus testados, correspondendo a 41,2% do total de casos de SRAG com resultado laboratorial positivo para vírus respiratório entre os casos das últimas quatro semanas, ainda que esteja associado, principalmente, a crianças pequenas.

Referente à Semana Epidemiológica 18 (período de 1 a 7 de maio de 2022), o estudo tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 9 de maio.

Leia também: Tripla infecção: é possível ter covid-19, gripe e dengue ao mesmo tempo?

Além disso, as quedas bruscas e acentuadas de temperatura que ocorrem em todo o país ainda no outono tendem a piorar o quadro de doenças respiratórias em crianças e adultos, assim como outros problemas de saúde.

“Com a chegada do outono e as mudanças de tempo, chegam também os problemas respiratórios e a alta incidência de infecções virais. Para um bom diagnóstico, é importante estar atento a alguns pontos na anamnese e exame físico, como histórico de alergias; histórico de problemas respiratórios prévios, asma, rinite sinusite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); além de características que chamam a atenção para um diagnóstico específico e observar sinais de alarmes, como febre + taquipneia, taquicardia, hipotensão ou queda na saturação, que podem indicar pneumonia e sepse”, sinalizou o médico clínico Bruno Luiz Guerreiro Rosa, chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Sempre é importante destacar que a anamnese é uma etapa indispensável da avaliação clínica e deve sempre incluir a descrição completa dos sinais e sintomas, data de início, evolução, se há febre, tosse; se evolui com cansaço, falta de ar; se há dor de garganta, coriza, mialgias, artralgia, cefaleia, entre outros sintomas.

“Todos esses dados direcionarão o raciocínio diagnóstico para um resfriado comum ou para síndromes gripais de maior gravidade, principalmente em grupos de risco, como a Covid-19 e a influenza. Também é importante saber onde o paciente reside, com o que trabalha, se tem exposição a determinados ambientes ou animais, se fez viagens para áreas de risco para determinadas doenças; ou ainda se tem comorbidades que possam agravar com a infecção atual, se possui algum fator de imunodepressão, como uso de determinados medicamentos ou determinadas doenças. Todas essas informações contribuirão para os possíveis diagnósticos diferenciais”, ressaltou a infectologista Isabella Albuquerque, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Doenças do outono: em quais diagnósticos precisamos pensar?

Prescrição de antibióticos

Quando falamos em infecções respiratórias, imediatamente vem a pergunta: ‘Será que precisa de antibiótico?’ Na maioria dos casos, não.

Aliás, o uso indiscriminado de antibióticos pode alterar a resistência das bactérias que causam doenças e tornar o medicamento ineficaz. Além de dificultar o tratamento, isso também pode afetar outras bactérias que ajudam o organismo a funcionar corretamente.

Claro que o fato das bactérias se tornarem resistentes ao antibiótico é normal e esperado em tratamentos médicos, porém a sua prescrição indiscriminada pode acelerar o tempo que leva para esses micro-organismos se tornarem resistentes e deixarem de responder ao tratamento.

“O uso indiscriminado destes fármacos leva à grande seleção de bactérias resistentes, que é um problema de saúde pública mundial. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que em 2050, a resistência aos antimicrobianos será responsável por 10 milhões de mortes. Mesmo nos dias atuais, já observamos infecções para as quais já não existe tratamento antimicrobiano realmente eficaz. Isso é muito sério! Não podemos mais nos darmos ao luxo de gastarmos antibióticos desnecessariamente e isso se aplica, em grande parte, ao seu uso em viroses. A grande maioria dessas infecções tem curso benigno e pode ser conduzida apenas para os sintomáticos. Nas populações de maior risco, como no caso de idosos e de imunossuprimidos, o médico deve estar sempre atento à possibilidade de complicação bacteriana secundária, quando aí sim, haverá a necessidade do tratamento específico. De modo geral, as viroses não costumam evoluir com febre muito prolongada e os sintomas tendem a melhorar em três a cinco dias. A febre prolongada, o seu ressurgimento após um ou dois dias afebris, ou a deterioração clínica são pistas para a possibilidade dessa complicação”, explicou a infectologista Isabella Albuquerque.

Saiba mais: Infecções respiratórias: probióticos no tratamento e prevenção

Para o pediatra e infectologista Flavio Czernocha, identificar se há necessidade do uso ou não dos antibióticos é um dos grandes desafios do cotidiano médico.

“Infelizmente, esse é um paradigma atual. O ideal é que a ida à emergência seja realizada somente em casos de sinais de gravidade, sobretudo se houver orientação pediátrica. E da parte dos médicos, atentar para não iniciar a prescrição de antibióticos somente “por via das dúvidas” e, sim, usado com base em evidências clínico-laboratoriais e, se preciso, de exames de imagens”, frisou Flavio Czernocha, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Já segundo o médico clínico Bruno Rosa, alguns dados podem ajudar nesta decisão:

1. Sinusite que estava melhorando e volta a piorar em um período superior a dez dias. O chamado double worsening;

2. Falta de seguimento/reavaliação no paciente com diagnóstico de sinusite;

3. Pacientes com sinais de alarme (febre + taquipneia, taquicardia, hipotensão ou queda na saturação);

4. Pacientes com DPOC apresentando dispneia, aumento da quantidade e/ou cor da secreção pulmonar.

“Neste período de aumento de incidência de problemas respiratórios é sempre um desafio para nós, médicos, conciliar um bom diagnóstico com as expectativas de tratamento dos pacientes. Muitos sentem a necessidade de iniciar um antibiótico para uma melhora rápida. Uma boa relação médico-paciente ajuda a tratar de maneira adequada esses pacientes e a utilizar as medicações de maneira criteriosa e adequada, proporcionando um tratamento muito mais eficaz e sem causar prejuízo. Na época das superbactérias, o uso racional dos antimicrobianos é a melhor estratégia”, ressaltou o clínico.

Cuidados que os médicos devem ter com os seus pacientes

  1. Realizar uma boa anamnese, com exame físico completo e bem realizado já é um grande passo no sentido de se evitar o uso desnecessário de antibióticos. A maior parte das viroses respiratórias se diagnostica assim;
  2. Na dúvida, dispor de exames de imagem e de exames laboratoriais, complementares ao diagnóstico;
  3. Consultar o infectologista de seu hospital, sempre que restar alguma dúvida;
  4. E, se precisar realmente prescrever um antibiótico, escolher o que mais se aplica ao caso em questão, dentro do menor espectro possível. Além disso, não seguir as receitas padronizadas de sete ou de 14 dias de tratamento e, sim, seguir a melhor recomendação para a infecção diagnosticada.

Outro ponto importante é sempre sugerir e indicar a vacinação aos seus pacientes, como orienta a médica infectologista Sabrina Soares Guimarães, mestranda em Medicina Tropical pela Fiocruz e médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Badim, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

“Influenza para idosos, profissionais de saúde, crianças menores de cinco anos e grupos de maior risco, assim como a vacina pneumocócica 23 em casos indicados, disponível tanto na rede privada como nos centros de referência de imunobiológicos especiais. Devemos também manter a higiene de mãos e o uso de máscara sempre que possível, principalmente, quando na presença de algum sintoma respiratório, independentemente de resultado positivo de Covid-19 ou não”.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo

Especialidades