Doses usuais de ivermectina não demonstram eficácia em Covid-19 grave

Ivermectina e nitazoxanida destacaram-se, de forma off-label, contra a covid-19, mas um estudo recente não demonstrou benefício.

Por possuírem ação antiviral in vitro, alguns antiparasitários vêm sendo testados como potenciais tratamentos para Covid-19. Nesse contexto, ivermectina e nitazoxanida destacaram-se, sendo muitas vezes utilizadas de forma off-label. Entretanto, ainda não existem evidências clínicas robustas que sustentem a recomendação desses medicamentos na infecção pelo SARS-CoV-2.

Estudos in vitro mostraram a capacidade da ivermectina em impedir a replicação de SARS-CoV-2 em culturas celulares. Contudo, as concentrações do fármaco necessárias para esse efeito foram cerca de 50x maiores as alcançadas com a dose padrão de tratamento (200mcg/kg), tornando improvável sua eficácia em casos de Covid-19 nas doses habituais.

Um estudo espanhol procurou avaliar o impacto do uso de ivermectina em dose usual em pacientes hospitalizados com quadro grave de pneumonia por Covid-19.

cápsulas de ivermectina

Ivermectina para Covid-19

Trata-se de um estudo retrospectivo unicêntrico conduzido em um hospital de Barcelona. Como parte do protocolo local, pacientes provenientes de países em que estrongiloidíase é uma parasitose endêmica e que serão submetidos a terapia com drogas imunossupressoras – como tocilizumabe ou corticoides em doses altas – recebem ivermectina empiricamente na dose de 200 mcg/kg em dose única.

A partir dos registros médicos, os pacientes com Covid-19 grave que receberam ivermectina foram comparados com controles com características e tratamentos semelhantes e que foram internados pelo mesmo motivo, mas que não receberam ivermectina.

Leia também: Anvisa se manifesta contra o uso da ivermectina na Covid-19

O diagnóstico de Covid-19 foi feito por meio de testes rápidos para IgM e IgG e/ou detecção viral em swab de nasofaringe por meio de PCR. Todos os pacientes foram submetidos a análise de perfil hematológico e bioquímico, além de avaliação radiológica com radiografia de tórax na admissão. Swabs nasofaríngeos foram repetidos seis a 12 dias depois do início do tratamento antiviral.

Resultados

Durante o período de observação do estudo, foram identificados 13 pacientes com Covid-19 grave que receberam ivermectina na dose padrão de 200 mcg/kg. Destes, 5 (38,5%) receberam tocilizumabe, 3 (23,1%) receberam corticoides, 3 receberam ambas as modalidades de tratamento e 2 (153%) receberam tocilizumabe, corticoide e anakinra. A média para administração de ivermectina foi de 12 dias a partir do início dos sintomas.

O grupo controle foi composto por 13 pacientes tratados com tocilizumabe e corticoides (6 pacientes; 46,2%), anakinra e corticoides (2 pacientes; 15,3%), tocilizumabe (2 pacientes; 15,3%), doses altas de corticoides (2 pacientes; 15,3%) e siltuximabe, um inibidor de IL-6 (1 paciente). Não houve diferença estatisticamente significativa na forma de apresentação clínica e radiológica e nem no perfil laboratorial entre os grupos à admissão.

Todos os pacientes receberam hidroxicloroquina e azitromicina como parte do tratamento padrão local à época. Ainda como parte do protocolo local, todos os pacientes, exceto um – no grupo que recebeu ivermectina – recebram lopinavir/ritonavir. Tratamentos adicionais consistiram em remdesivir e beta-interferon. Não houve diferença significativa nos desfechos clínicos ou microbiológicos entre os grupos, incluindo melhora clínica e taxas de hospitalização e alta hospitalar após oito dias. Também não houve diferença no número de pacientes com swab nasofaríngeo com PCR positivo três a cinco dias após a administração de ivermectina quando comparado com os pacientes do grupo controle.

Os resultados demonstram ausência de benefício clínico com o uso de ivermectina em dose habitual em casos graves de Covid-19. Os autores destacam, contudo, que a administração da droga ocorreu tardiamente e que a dose de 200 mcg/kg gera concentrações séricas menores do que as necessárias para ação contra SARS-CoV-2 in vitro. Doses muito elevadas de ivermectina ainda não têm seu perfil de segurança avaliado em ensaios clínicos.

Mensagens práticas

O uso de ivermectina não esteve associado a melhores desfechos clínicos ou microbiológicos em pacientes com quadro de pneumonia grave por Covid-19.

Referência bibliográfica:

  • Camprubí, D, Almuedo-Riera, A, Martí-Soler, H, Soriano, A, Hurtado, JC, Subirà, C, Grau-Pujol, B, Krolewiecki, A, Muñoz, J. Lack of efficacy of standard doses of ivermectin in severe COVID-19 patients. PLoS ONE 15(11): e0242184. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0242184

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