Ebola: insuficiência renal causa morte em sobreviventes do surto

Pesquisadores descobriram que efeitos a longo prazo da infecção pelo vírus do ebola contribuíram para o aumento das mortes entre os sobreviventes do surto.

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Pesquisadores descobriram que efeitos a longo prazo da infecção pelo vírus do ebola contribuíram para o aumento das mortes subsequentes entre os sobreviventes do surto, acontecido entre os anos de 2013 a 2016, na África Ocidental.

“Na República da Guiné, 59 pacientes que sobreviveram ao ebola morreram mais tarde com insuficiência renal estabelecida como a causa da morte em 37 pacientes”, disse um dos autores do estudo, Lorenzo Subissi, PhD, do Sciensano, Instituto Nacional de Pesquisa de Saúde Pública em Bruxelas, na Bélgica.

“Não é de surpreender que fatores de risco como idade avançada, morar em uma área não urbana e longas estadias em unidades de tratamento de ebola estivessem ligados a um maior risco de mortalidade após a alta”, escreveram os autores no artigo publicado no The Lancet Infectious Diseases.

O coautor do estudo, Mory Keita, MD, epidemiologista da República da Guiné, que atualmente é coordenador de campo da Organização Mundial de Saúde (OMS) na República Democrática do Congo, disse em comunicado para a imprensa que a insuficiência renal é uma “causa de morte biologicamente plausível” em sobreviventes do ebola.

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“Anteriormente, o vírus foi detectado em amostras de urina durante a fase aguda da enfermidade, demonstrando que pode infectar o rim. Alguns pacientes com o ebola desenvolvem lesão renal aguda, o que pode levar a insuficiência renal a longo prazo e ao aumento da mortalidade mesmo após a aparente recuperação inicial”, acrescentou Mory Keita.

Os autores disseram ainda que a insuficiência renal se baseava, principalmente, nos relatos de familiares de anúria, com altas concentrações de creatinina em alguns casos. Eles também observaram que outras condições, como malária, tuberculose pulmonar e hipertensão arterial, também poderiam ter contribuído para as mortes.

Os dados mais recentes da OMS indicam que, durante o atual surto de ebola na República do Gongo, que está em andamento desde agosto de 2018, houve 2.997 casos, incluindo quase dois mil óbitos.

Estudo “Primeiro de Seu Tipo”

Os cientistas observaram que a África Ocidental apresenta a maior coorte de sobreviventes da doença, mais de 17 mil pessoas no total.

Segundo dados do programa de monitoramento de sobreviventes nacionais da República da Guiné, o Surveillance Active en Ceinture, de dezembro de 2015 a setembro de 2016, os médicos tentaram entrar em contato ou acompanhar outros sobreviventes do ebola que haviam recebido alta das unidades de tratamento utilizando “autópsias verbais”. Eles solicitaram aos familiares próximos informações sobre sinais, sintomas e evolução clínica dos pacientes, assim como os arquivos médicos disponíveis, que foram revisados por epidemiologistas.

No geral, as informações de acompanhamento estavam disponíveis para 1.130 de 1.270 sobreviventes. A idade mediana na alta dos centros de tratamento foi de 28 anos, e cerca de metade eram mulheres. A duração média de internação foi de 12 dias.

Embora 59 mortes tenham sido relatadas, a data exata da morte era desconhecida para 43 pacientes.

Eles descobriram ainda que, até dezembro de 2015, com cerca de um ano de seguimento após a alta hospitalar, os sobreviventes de ebola possuíam um risco cinco vezes maior de morrer em comparação com a população geral na República da Guiné (taxa de mortalidade padronizada por idade 5,2, IC 95% 4,0-6,8). No entanto, após esse período de um ano, de janeiro a setembro de 2016, não houve diferença na mortalidade entre os sobreviventes e a população geral, o que é concordante com outros estudos realizados com mais de um ano após a alta hospitalar, nos quais também não houve diferença de mortalidade.

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Os pesquisadores caracterizaram o estudo como o “primeiro deste tipo a mostrar um aumento significativo na mortalidade de sobreviventes da doença pelo vírus ebola após a alta das unidades de tratamento”.

Os resultados sugerem que o acompanhamento a longo prazo pode ser necessário em sobreviventes de outras febres virais hemorrágicas, incluindo os vírus da febre de Marburg, Crimeia-Congo, Lassa e Nipah.

Os autores sugerirem a realização de estudos de acompanhamento de dois anos para medir reduções na expectativa de vida, assim como intervenções clínicas terapêuticas preventivas e precoces contra infecções agudas graves nesses pacientes.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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