Editorial: A variante delta e as vacinas para Covid-19

A variante delta (B.1617.2) é a preocupação mais recente em relação à pandemia de Covid-19 e à eficácia das vacinas já existentes.

Com o avanço da pandemia por Covid-19 em diferentes regiões do mundo, novas mutações têm surgido e muitas delas associadas à maior transmissão e contágio. A variante delta (B.1617.2) é a preocupação mais recente e há evidências de que esteja circulando em níveis altos no Rio de Janeiro e em outras regiões do país.

Nós que trabalhamos na linha de frente já observamos na última semana um aumento do número de casos, seja na população, seja nos profissionais de saúde. A boa notícia é que as internações de casos graves ainda não subiram na mesma proporção até a data deste editorial (16/08/2021), o que provavelmente indica a eficácia vacinal na redução de SDRA e mortalidade.

Neste texto, trouxemos para vocês as evidências mais atuais da eficácia das principais vacinas disponíveis no Brasil para a variante delta, reforçando a importância da imunização coletiva.

Vacinas de mRNA

A vacina da Pfizer foi avaliada em um recente estudo na NEJM e já publicada em nosso portal. Comparando com a cepa original, chamada de alfa, a eficácia foi de 88% após a segunda dose. O estudo da NEJM não separou casos graves dos demais para análise, considerando apenas a população como um todo, mas estudos subsequentes, no Canadá, Escócia e Israel, mostram eficácia para hospitalização e morte em torno de 80-90%!

A vacina da Moderna, também RNA, não está disponível no Brasil, mas apresentou resultados similares aos da Pfizer.

Leia mais: Estudo avalia eficácia de vacinas da Pfizer e AstraZeneca contra variante delta

Vetor viral

A vacina da Jansen ainda não concluiu os estudos em humanos contra a variante delta. Apenas um resultado preliminar, ainda não revisado por pares, sugere que o nível de anticorpos neutralizantes induzido seja similar àquele da variante alfa, para a qual a vacina já se mostrou eficaz.

A vacina da AstraZeneca foi avaliada pelo estudo publicado na NEJM junto da Pfizer, porém sua eficácia global, isto é, englobando mesmo casos leves, foi menor, cerca de 67% após duas doses. Estudos no Canadá (ainda não revisado, publicado como preprint) e na Escócia (publicado como correspondência na revista Lancet) indicam resultados similares. A boa notícia é que a eficácia para hospitalização e morte é muito boa, com números em torno de 85-90%!

Vírus inativado

A Coronavac é a principal vacina deste grupo e a primeira a ser utilizada no Brasil. O fato de pessoas já imunizadas com duas doses estarem se infectando e às vezes internando tem gerado alarme na população leiga e até entre profissionais de saúde.

Para melhor entender a situação é necessário olhar com calma os estudos disponíveis até o momento. O principal deles foi realizado no Chile, em população do mundo real, e já comentado no nosso portal. A prevenção de infecções pelo Covid, como esperado, ficou em torno de 60-70%. O ponto central das vacinas é a prevenção de formas graves: a eficácia foi de 85 a 90%! O problema é que neste estudo a maior parte da cepa não era delta.

Recentemente, pesquisadores chineses publicaram como preprint um estudo ainda não revisado por pares avaliando a eficácia da Coronavac em um surto de Covid pela variante delta na província chinesa de Guangdong. Em uma amostra da 10 mil pacientes, que incluiu pessoas com uma dose (grupo “vacinação incompleta”) e duas doses (grupo “vacinação completa”), a eficácia da Coronavac foi de 70% para prevenção de pneumonia e até 100% contra formas graves.

Conclusão

A disponibilidade de vacinas e a ampla vacinação da população não devem ser estímulos para a suspensão de medidas preventivas importantes, como evitar multidões e manter uso de máscaras. Isso porque o efetivo controle da doença a nível mundial só será possível com a vacinação em ampla escala, em todos os países, a fim de frear os casos graves.

Enquanto houver países com níveis incontroláveis de contágio, como a Indonésia e a Índia, recentemente, o surgimento de novas mutações e a possível resistência às vacinas continuarão a nos assombrar. Estudos com doses de reforço, em especial a Coronavac, são urgentes, a fim de programar o calendário vacinal em 2022.

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