Eficácia das intervenções de sintomas depressivos em pacientes com demência

Além dos sintomas mais típicos de demência, uma parcela desses pacientes irá apresentar também sintomas depressivos e depressão.

Há diferentes formas de demência com quadros clínicos bem característicos, mas além dos sintomas mais típicos, uma parcela desses pacientes irá apresentar também sintomas depressivos ou mesmo o diagnóstico de transtorno depressivo maior (depressão). Nessa população específica os sintomas depressivos podem se apresentar de maneira diferente do habitual, predominando queixas físicas (como falta de apetite) ou comportamentais (como tristeza ou irritação). Mesmo que todos os critérios do transtorno depressivo não estejam presentes, a presença de alguns sintomas pode significar um comprometimento da qualidade de vida de pacientes e cuidadores e até mesmo influenciar as chances de desfechos desfavoráveis. Dessa forma a identificação e abordagem desses sintomas se faz necessário no bom tratamento desses doentes, quer seja através de intervenções farmacológicas ou não farmacológicas.

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Os autores do artigo Comparative efficacy of interventions for reducing symptoms of depression in people with dementia: systematic review and network meta-analysis, publicado em fevereiro de 2021 no BMJ, resolveram comparar a eficácia dessas estratégias através de uma revisão sistemática da literatura.

Eficácia das intervenções de sintomas depressivos em pacientes com demência

Método de análise

Os estudos usados como base para essa revisão eram ensaios clínicos randomizados que avaliavam tratamentos farmacológicos e não farmacológicos de sintomas depressivos e/ou depressão em pacientes com quadro demencial. Além da busca de artigos, os autores relatam contatos com alguns autores para coleta de informações adicionais. No total foram avaliados 213 estudos, que usaram escalas de mensuração diferentes, sendo a mais usada a escala de Cornell para depressão na demência. As intervenções não farmacológicas descritas como altamente eficazes em pacientes com demência nestes trabalhos foram: terapia com animais, estimulação cognitiva, terapia de reminiscência, modificação ambiental, psicoterapia, massagem e terapia com o toque, cuidados multidisciplinares, terapia ocupacional, exercícios físicos, interação social e suas combinações (inclusive com fármacos).

Entre os pacientes com demência que não preenchiam todos os critérios para o diagnóstico de transtorno depressivo, mas que tinham sintomas, as seguintes estratégias se mostraram mais eficazes do que o tratamento padrão: terapia de reminiscência, estimulação cognitiva, inibidores da acetilcolinesterase + estimulação cognitiva, interação social + exercícios + estimulação cognitiva, terapia ocupacional, massagem e terapia com o toque e abordagem multidisciplinar. Massagem e terapia com o toque, estimulação cognitiva + inibidores da acetilcolinesterase, exercícios + estimulação cognitiva + interação social se mostraram mais eficazes do que alguns fármacos.

Já entre os pacientes que preenchiam os critérios para transtorno depressivo maior foi avaliada a intervenção com antidepressivos de diferentes classes. Sete estudos encontraram que a eficácia dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina era comparável com o placebo, mas com conclusões mistas. Venlafaxina e mirtazapina também não se saíram melhor. Segundo eles, o manejo farmacológico da dor também não se saiu melhor do que o placebo. No entanto, a abordagem multidisciplinar se mostrou mais eficaz do que o tratamento padrão, mas outras intervenções não farmacológicas apresentaram resultados mistos.

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Ou seja, no grupo de pacientes com demência e sintomas depressivos, mas que não fecham os critérios para depressão maior, as intervenções não farmacológicas mostraram-se tão ou mais eficazes que a farmacoterapia na melhora dos quadros. Segundo os autores, nenhum fármaco isolado se mostrou mais eficaz que os cuidados habituais e sugerem que as intervenções não farmacológicas (combinadas ou não com medicações) seriam as melhores formas de intervenção nessa população. As 10 abordagens que mais se destacaram foram: modificação ambiental + terapia de reminiscência + psicoterapia, terapia com animais, estimulação cognitiva + exercícios + interação social, estimulação cognitiva, inibidores da acetilcolinesterse + estimulação cognitiva, exercícios, terapia ocupacional, terapia do toque e massagem, cuidados multidisciplinares e terapia de reminiscência.

Mensagem prática

Nos trabalhos revisados, a maior parte dos quadros demenciais se relacionaram à demência de Alzheimer e não necessariamente a outras formas, o que pode ser considerado como uma limitação. Como cada artigo usou escalas de avaliação diferentes, não foi possível mensurar o impacto de cada estratégia sobre os sintomas. Outros pontos negativos foram a heterogeneidade dos trabalhos avaliados, o fato de não ter sido possível mensurar os custos e possíveis problemas relacionados às abordagens e um possível viés de falta de informação em alguns trabalhos.

Contudo, no geral, percebe-se que as abordagens multidisciplinares e as estratégias não farmacológicas são possivelmente benéficas em pacientes com demência e sintomas depressivos, mas sem depressão maior. Embora algumas dessas abordagens sejam mais acessíveis (como realizar atividade física), seria interessante que outras também tivessem maior acessibilidade. Cabe aos profissionais de saúde orientar os pacientes e seus familiares e cuidadores sobre o impacto positivo que elas podem ter.

Referências bibliográficas:

  • Watt JA, Goodarzi Z, Venoriki AA, Nincic V, Khan PA, Ghassemi M, Lai Y, Treister V, Thompson Y, Schneider R, Tricco AC, Straus SE. Comparative efficacy of interventions for reducing symptoms of depression in people with dementia: systematic review and network meta-analysis. BMJ, March 2021. doi: 1136/bmj.n532

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