Em cirurgia de retirada de tumor cerebral, paciente realiza movimentos de braço e perna

.“Lembro deles me pedindo pra fazer algumas funções motoras durante a cirurgia de retirada do tumor cerebral e, perguntando como eu estava”

Durante uma cirurgia de retirada de tumor cerebral, a paciente ficou acordada realizando movimentos de braço e perna. O procedimento foi realizado em julho deste ano no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba, capital do Paraná. 

“Lembro deles me pedindo pra fazer algumas funções motoras durante a cirurgia e, também, perguntando como eu estava”, contou Daiane Poulmann, de 30 anos. 

A descoberta de um glioma no cérebro, próximo às vias responsáveis pelos movimentos do corpo, veio um ano após o primeiro episódio de paralisia no rosto, que aconteceu dias depois do nascimento do terceiro filho de Daiane. Mas foi apenas em maio deste ano, que uma convulsão generalizada a fez buscar por respostas em exames de tomografia e ressonância. 

A cirurgia para retirada do tumor de Daiane durou seis horas e, depois de três dias, ela já estava se recuperando em casa. 

Outra unidade de saúde do país que realiza esse tipo de neurocirurgia é o Hospital Estadual Sumaré. Em 2006, o HES-Unicamp foi o primeiro hospital público do interior do estado de São Paulo a realizar neurocirurgias com o paciente acordado. 

“Todas as cirurgias foram bem-sucedidas, sem qualquer intercorrência”, disse diretor clínico do HES-Unicamp, Helder Zambelli. 

As cirurgias duram, em média, quatro horas e contam com uma equipe de oito especialistas, além de equipamentos específicos para esse tipo de cirurgia, como ultrassom intra-operatório e neuroestimulador cerebral que auxiliam na extração do tumor. 

 

Saiba mais: Você sabe como funciona a cirurgia cerebral com o paciente acordado?

 

Tumor Cerebral

Como é realizada a cirurgia de retirada de tumor cerebral

Geralmente, o procedimento consiste em uma sedação leve da paciente com anestesia local no couro cabeludo e com a retirada de osso (craniotomia). 

Em seguida, a equipe médica realiza um exame de ultrassom sobre a superfície do cérebro para o mapeamento preciso do tumor e as suas áreas de abrangência. 

A partir daí, o paciente é acordado e realiza testes de linguagens, conversando com a equipe médica e podendo até executar comandos, como movimentar os braços e as pernas, por exemplo. 

A próxima etapa na cirurgia é a estimulação das diversas partes do cérebro expostas com mapeamento funcional (neuroestimulador), onde se identifica quais áreas correspondem ao centro da fala e do movimento. 

Somente após essas etapas é que de fato começa a extração do tumor, com a preservação integral dessas áreas e com a manutenção de um diálogo permanente com o paciente. 

Terminada a extração do tumor, o paciente é novamente sedado para recolocação do osso do crânio (preservado em uma solução especial durante a cirurgia) e suturada. 

Por que o paciente é acordado no meio da cirurgia? 

Especialistas explicam que essa é a melhor alternativa devido à localização do tumor em uma importante área do sistema nervoso central. 

Já nas cirurgias convencionais, em que o paciente está anestesiado, não é possível localizar as áreas essenciais por estar imóvel. Com isso, o risco de sequelas tanto na fala, quanto no movimento são muito grandes 

Conforme explica o neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein/Rede D’or, Wanderley Cerqueira de Lima, esse tipo de cirurgia é realizada em alguma área eloquente, ou seja, que controla a força, a sensibilidade e o controle da região próxima à fala. 

“Não se trata de uma técnica nova, mas ainda não é amplamente realizada nos hospitais brasileiros. Para dar certo, o médico responsável pela cirurgia tem que ter uma integração direta com o neurofisiologista. A partir do momento que a lesão é totalmente ressecada ou retirada, o paciente é anestesiado novamente para que tudo seja fechado”, explicou o neurocirurgião Wanderley Lima, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED. 

Esse tipo de procedimento de alta complexidade tem um custo estimado de R$ 50 mil em hospitais particulares. 

 

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Cirurgias nas principais áreas eloquentes cerebrais 

Os tumores das regiões eloquentes são um grande desafio aos neurocirurgiões, uma vez que a sua remoção implica em um risco considerável de déficit neurológico transitório ou definitivo. 

Dessa forma, a utilização racional de recursos é fundamental para obter a remoção mais radical possível associada à preservação das funções neurológicas e, consequentemente, manutenção da qualidade de vida do paciente. 

Os tumores do cérebro, principalmente os gliomas difusos, distorcem e modificam funcionalmente regiões do cérebro em função do crescimento lento e progressivo. Por esse motivo, lesões adjacentes à área motora necessitam de mapeamento cortical intra-operatório com o objetivo de definir funcionalmente a área motora primária e evitar sequelas definitivas ao paciente. 

“O grande desafio é conseguir ter toda uma estrutura montada para esse procedimento, com estrutura anestésica, de microcirurgia com microscópio cirúrgico, se possível, com neuronavegador. É fundamental frisar que o anestesista deve estar sempre muito integrado com o neurocirurgião e neurofisiologista e vice-versa. E todos devem ter um sinergismo de ação, pois qualquer deslize ou descuido, o paciente deve apresentar déficit. E é justamente isso que não pode acontecer”, concluiu o neurocirurgião Wanderley Lima. 

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