GastroenterologiaFEV 2021

Embolização bariátrica é um método efetivo?

O método mais utilizado de intervenção como forma de diminuição dos níveis séricos de grelina, é a embolização da artéria gástrica esquerda.

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Por Felipe Victer
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Como já amplamente difundido os pacientes com obesidade mórbida necessitam de uma terapêutica multidisciplinar e muitos irão culminar com a realização de um procedimento cirúrgico para obesidade.

Ultimamente vem-se estudando o uso da radiologia intervensionista como forma de diminuição dos níveis séricos de grelina, especialmente em paciente com IMC maiores que 40. O método mais utilizado é a embolização da artéria gástrica esquerda que é a principal nutridora das células fúndicas produtoras de grelina. No entanto, há críticas a esta forma, visto que as artérias curtas e a gastroepiploica poderiam manter níveis normais de perfusão na área do fundo gástrico.

Leia também: Cirurgia bariátrica em cirróticos é uma opção?

Levando em consideração resultados de trabalhos anteriores que não demostraram uma perda de peso significativa em pacientes com grande IMC, além de não terem sido analisados os dados referentes ao controle glicêmico destes pacientes, foi proposto uma avaliação de pacientes do sexo feminino, com IMC entre 30 e 39,9 e portadoras da síndrome metabólica, para verificar se haveria alguma mudança em relação ao peso e a diabetes.

Embolização bariátrica

Métodos

Estudo prospectivo de braço único, para análise de segurança e efetividade em mulheres pré-menopausa com síndrome metabólica e sem sucesso no programa de perda de peso nos últimos 6 meses. Foram selecionadas 10 pacientes do ambulatório de obesidade que não seriam candidatas a tratamento cirúrgico ou recusaram em operar.

A embolização foi realizada com microesferas com entre 300-500 microns, em todos os ramos que nutrissem o fundo gástrico, e para tanto era realizado cateterismo seletivo além da gástrica a artéria gastroepiploica e dos vasos curtos.

O sucesso do procedimento seria definido com a embolização de todos os ramos nutridores do fundo gástrico, e a segurança com a busca ativa de complicações, com a realização de endoscopia uma semana e seis meses após o procedimento. Todos os pacientes também realizaram endoscopia antes da intervenção. Os parâmetros clínicos de obesidade, incluindo questionários relacionados, assim como os dados laboratoriais referente a diabetes foram acompanhados ao longo dos 6 meses de observação do estudo.

Resultados

O IMC médio caiu de 36,37 kg/m² para 33,82 kg/m² (p = 0,01) e os níveis de grelina passaram de 25,39 pg/mL para 17,10 pg/mL (p = 0,01), nestes 6 meses de observação. De forma semelhante também houve queda dos níveis de insulina, glicemia de jejum e HOMA-IR este último de 7,29 para 3,73 (p = 0,01). As escalas aplicadas de qualidade de vida e de impulso a comer, acompanharam esta tendência de melhora com e com representatividade estatística (p = 0,01). Dois pacientes apresentaram úlceras profundas que resolveram com uso de inibidor de bomba de próton e 8 pacientes apresentaram ulceração superficial assintomática, que foram identificadas na endoscopia 1 semana após procedimento.

Discussão

Este foi o primeiro estudo a analisar uma população de mulheres pré-menopausa quanto a efetividade da embolização bariátrica, com obesidade grau I e II e síndrome metabólica. A importância deste artigo, além de envolver uma população com níveis mais baixos de obesidade está na embolização de outras artérias além da gástrica esquerda.

Saiba mais: Quais cuidados primários devem ser tomados após uma cirurgia bariátrica?

Esta maior embolização deve estar relacionada a menores níveis de grelina circulante obtido neste estudo que chega a ser 48,8% menor, queda esta que não foi encontrada em outros estudos semelhantes. Mesmo sem uma perda de peso significativa os questionários de qualidade de vida e impulsão para comer apresentaram resultados mantidos ao longo dos 6 meses de observação.

A presença de úlceras superficiais e assintomáticas podem ser decorrentes do próprio procedimento e não ser encarada como uma complicação local.

Em conclusão, o procedimento foi capaz de proporcionar melhoras clínicas e laboratoriais, em mulheres pré-menopausa, com obesidade grau I ou II.

Para levar para casa

Apesar de não ser um procedimento já aceito na prática clínica, ajuda a construção de conhecimento que os níveis de grelina tem uma importante relação com o ímpeto de comer. Além disto, pode também representar uma esperança para pacientes com síndrome metabólica que não desejam ou não possuam indicação de cirurgia. Isto apenas corrobora a complexidade do tratamento da obesidade que deve ser visto por uma equipe efetivamente interdicisplinar.

Referências bibliográficas:

  • Levigard RB, Serrão H, Castro C, Matos P, Mattos F, Madeira E, Rosseti CL, de Carvalho DP, Dantas JR, Zajdenverg L, Madeira M. Bariatric Embolization in the Treatment of Patients with a Body Mass Index Between 30 and 39.9 kg/m2 (Obesity Class I and II) and Metabolic Syndrome, a Pilot Study. Cardiovasc Intervent Radiol. 2021 Feb 1. doi: 1007/s00270-021-02776-7.

Como já amplamente difundido os pacientes com obesidade mórbida necessitam de uma terapêutica multidisciplinar e muitos irão culminar com a realização de um procedimento cirúrgico para obesidade.

Ultimamente vem-se estudando o uso da radiologia intervensionista como forma de diminuição dos níveis séricos de grelina, especialmente em paciente com IMC maiores que 40. O método mais utilizado é a embolização da artéria gástrica esquerda que é a principal nutridora das células fúndicas produtoras de grelina. No entanto, há críticas a esta forma, visto que as artérias curtas e a gastroepiploica poderiam manter níveis normais de perfusão na área do fundo gástrico.

Leia também: Cirurgia bariátrica em cirróticos é uma opção?

Levando em consideração resultados de trabalhos anteriores que não demostraram uma perda de peso significativa em pacientes com grande IMC, além de não terem sido analisados os dados referentes ao controle glicêmico destes pacientes, foi proposto uma avaliação de pacientes do sexo feminino, com IMC entre 30 e 39,9 e portadoras da síndrome metabólica, para verificar se haveria alguma mudança em relação ao peso e a diabetes.

Embolização bariátrica

Métodos

Estudo prospectivo de braço único, para análise de segurança e efetividade em mulheres pré-menopausa com síndrome metabólica e sem sucesso no programa de perda de peso nos últimos 6 meses. Foram selecionadas 10 pacientes do ambulatório de obesidade que não seriam candidatas a tratamento cirúrgico ou recusaram em operar.

A embolização foi realizada com microesferas com entre 300-500 microns, em todos os ramos que nutrissem o fundo gástrico, e para tanto era realizado cateterismo seletivo além da gástrica a artéria gastroepiploica e dos vasos curtos.

O sucesso do procedimento seria definido com a embolização de todos os ramos nutridores do fundo gástrico, e a segurança com a busca ativa de complicações, com a realização de endoscopia uma semana e seis meses após o procedimento. Todos os pacientes também realizaram endoscopia antes da intervenção. Os parâmetros clínicos de obesidade, incluindo questionários relacionados, assim como os dados laboratoriais referente a diabetes foram acompanhados ao longo dos 6 meses de observação do estudo.

Resultados

O IMC médio caiu de 36,37 kg/m² para 33,82 kg/m² (p = 0,01) e os níveis de grelina passaram de 25,39 pg/mL para 17,10 pg/mL (p = 0,01), nestes 6 meses de observação. De forma semelhante também houve queda dos níveis de insulina, glicemia de jejum e HOMA-IR este último de 7,29 para 3,73 (p = 0,01). As escalas aplicadas de qualidade de vida e de impulso a comer, acompanharam esta tendência de melhora com e com representatividade estatística (p = 0,01). Dois pacientes apresentaram úlceras profundas que resolveram com uso de inibidor de bomba de próton e 8 pacientes apresentaram ulceração superficial assintomática, que foram identificadas na endoscopia 1 semana após procedimento.

Discussão

Este foi o primeiro estudo a analisar uma população de mulheres pré-menopausa quanto a efetividade da embolização bariátrica, com obesidade grau I e II e síndrome metabólica. A importância deste artigo, além de envolver uma população com níveis mais baixos de obesidade está na embolização de outras artérias além da gástrica esquerda.

Saiba mais: Quais cuidados primários devem ser tomados após uma cirurgia bariátrica?

Esta maior embolização deve estar relacionada a menores níveis de grelina circulante obtido neste estudo que chega a ser 48,8% menor, queda esta que não foi encontrada em outros estudos semelhantes. Mesmo sem uma perda de peso significativa os questionários de qualidade de vida e impulsão para comer apresentaram resultados mantidos ao longo dos 6 meses de observação.

A presença de úlceras superficiais e assintomáticas podem ser decorrentes do próprio procedimento e não ser encarada como uma complicação local.

Em conclusão, o procedimento foi capaz de proporcionar melhoras clínicas e laboratoriais, em mulheres pré-menopausa, com obesidade grau I ou II.

Para levar para casa

Apesar de não ser um procedimento já aceito na prática clínica, ajuda a construção de conhecimento que os níveis de grelina tem uma importante relação com o ímpeto de comer. Além disto, pode também representar uma esperança para pacientes com síndrome metabólica que não desejam ou não possuam indicação de cirurgia. Isto apenas corrobora a complexidade do tratamento da obesidade que deve ser visto por uma equipe efetivamente interdicisplinar.

Referências bibliográficas:

  • Levigard RB, Serrão H, Castro C, Matos P, Mattos F, Madeira E, Rosseti CL, de Carvalho DP, Dantas JR, Zajdenverg L, Madeira M. Bariatric Embolization in the Treatment of Patients with a Body Mass Index Between 30 and 39.9 kg/m2 (Obesity Class I and II) and Metabolic Syndrome, a Pilot Study. Cardiovasc Intervent Radiol. 2021 Feb 1. doi: 1007/s00270-021-02776-7.

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Felipe VicterFelipe Victer
Editor Médico de Cirurgia Geral da Afya ⦁  Residência em Cirugia Geral pelo Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁ Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica (Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2016 a 2019) ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)