Tempo de leitura: 4 min.
Aproximadamente um em cada 500 adultos é um sobrevivente do câncer infantil. A prevalência de desordens endócrinas nessa população é de cerca de 50%. Pesquisas realizadas nos últimos 20-30 anos focaram primariamente em descrever a prevalência e os fatores de risco associados a essas condições.
Consequências endócrinas, particularmente relacionadas à radioterapia, ocorrem muitos anos após o término do tratamento, e são referidas como “efeitos tardios”. Este fenômeno leva à necessidade de atenção aos riscos em longo prazo e à potencial contribuição para piores desfechos de saúde.
No ENDO 2021, Congresso da Endocrine Society, o tema foi discutido com foco nos efeitos tardios mais comuns, como deficiência de GH e problemas de tireoide relacionados ao manejo do câncer infantil, além dos desafios relacionados à obesidade e ao diabetes mellitus nesses pacientes.
Neste artigo, comentaremos os efeitos tardios que mais comumente afetam o eixo hipotálamo hipofisário.
Em sua abordagem ao tema, a Dra. Laurie Cohen chamou atenção para os seguintes fatos:
A Dra. Laurie enfatizou que:
Devemos lembrar que existem outros fatores além da DGH influenciando o crescimento de sobreviventes do câncer pediátrico, e eles não são totalmente compreendidos. Ou seja, déficit de crescimento nesses pacientes não é sinônimo de DGH, e o tratamento com GH só deve ser feito se houver comprovação da deficiência através de critérios específicos.
A Dra Cohen comentou ainda que após o tratamento radioterápico pode haver disfunção parcial do eixo hipotálamo-hipofisário, fazendo com que a DGH se manifeste apenas em situações de maior demanda, como por exemplo a puberdade.
Não há dados que indiquem aumento de malignidades secundárias com uso de GH para tratar pessoas com deficiência. O GH pode ser prescrito com segurança nessa população, porém sugere-se iniciar a reposição após um ano livre de doença após conclusão do tratamento para a doença maligna.
Quando se tratar de doença crônica estável, e o paciente não puder ser considerado como livre de doença (particularmente tumores de via óptica), recomenda-se discutir o caso com o oncologista.
Outras disfunções hipofisárias relacionadas ao tratamento do câncer pediátrico podem se desenvolver ao longo da vida.
O GH geralmente é o primeiro hormônio a ser afetado, e a sequência temporal de deficiência de outros eixos é variável. Recomenda-se fazer screening para deficiência de LH/FSH, TSH e ACTH em casos de exposição do eixo hipotálamo hipofisário à radiação com doses >30Gy e naqueles com história de tumores ou cirurgia afetando essa região.
A maioria das deficiências são identificadas dentro dos primeiros 6 anos após o diagnóstico tumoral. Um estudo avaliando 748 adultos sobreviventes do câncer pediátrico (St Jude Lifetime Cohort Study) mostrou os seguintes resultados:
Apesar da baixa frequência, é importante proceder investigação para insuficiência adrenal secundária na presença de sintomas, muitas vezes inespecíficos, como fadiga, perda de peso, tontura, dor abdominal e náuseas, hipoglicemia ou hiponatremia.
Veja abaixo alguns alertas práticos para o acompanhamento desses pacientes:
O acompanhamento de sobreviventes de câncer infantil deve ser feito a longo prazo, com atenção especial às possíveis consequências endócrinas do tratamento da malignidade.
Mais do congresso:
Referências bibliográficas:
Como profissionais de saúde podem abordar a redesignação de gênero com pessoas transexuais e orientação…
A última sessão plenária do WONCA 2022 encerrou o evento com esperanças em relação às…
Monkeypox é um vírus cuja transmissão se dá por contato com secreções respiratórias e lesões…
Monkeypox e Epididimite são os novos conteúdos do Whitebook. Confira a lista completa com os…
Neste artigo, veja em detalhes o que os estudos recentes têm apontado acerca dos cuidados…
Neste estudo, confira se a esterilização a vapor de uso imediato aumenta as chances de…