Entendendo o padrão de reativação da artrite reumatoide

Estudo analisou se pacientes apresentam maior probabilidade de reativação das articulações previamente acometidas por artrite reumatoide.

A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica e sistêmica, capaz de levar à incapacidade funcional e deformidades articulares. Além dos fatores sistêmicos envolvidos, parece haver contribuição de fatores locais nas articulações acometidas: estresse mecânico, diferenças na vascularização e invervação, diferenciação específica de fibroblastos e migração de linfócitos B para o espaço sinovial parecem ter importância nesse contexto.

Para entender melhor se os pacientes apresentam maior probabilidade de reativar as articulações previamente acometidas, Heckert et al. realizaram uma análise de subgrupo dos dados do estudo BeSt, que será resumida a seguir.

Leia também: Tratamento na artrite reumatoide: ainda existe lugar para a terapia tríplice?

Entendendo o padrão de reativação da artrite reumatoide

Métodos

Trata-se de uma análise de subgrupo do estudo BeSt, que foi um estudo multicêntrico desenhado para avaliar o impacto do treat-to-target. Esse estudo teve início no ano 2000, com seguimento de 10 anos. Foram incluídos 508 pacientes recém-diagnosticados com AR ativa, que preenchiam os critérios classificatórios do ACR 1987 e tinham duração de sintomas ≤ 2 anos.

Em cada visita do estudo original, um total de 68 articulações foram analisadas com relação à dor e edema; nessa subanálise, os pesquisadores consideraram apenas o edema, como marcador de sinovite ativa.

Episódio de edema articular foi definido como a presença de edema em uma ou múltiplas visitas subsequentes. Recorrência de edema articular foi definida como novo episódio de edema em uma articulação que já estava previamente sem edema. Já edema articular persistente foi definido como presença de edema em 2 ou mais visitas consecutivas.

A análise estatística foi realizada considerando o edema articular no baseline como referência. Diferentes modelos e análises de sensibilidade foram realizados. Para maiores detalhes, vide o artigo original.

Resultados

O seguimento mediano dos 508 pacientes incluídos foi de 40 (IQR 24-40) visitas, ou seja, 10 (IQR 6-10) anos.

No baseline, a idade média foi 54±14 anos, com mediana de 23 (IQR 14-53) semanas de duração de sintomas. O DAS médio no início do estudo foi 4,42±0,86, com 16±8 articulações edemaciadas. Das 34.423 articulações analisadas, 8.137 (24%) estavam edemaciadas; dessas, 30% se mantiveram edemaciadas em visitas subsequentes (mediana de 1 visita, 3 meses após o baseline).

O modelo de regressão logística encontrou que o fato de uma articulação estar edemaciada no baseline aumentou a chance de um novo episódio de edema na mesma articulação, com OR de 1,73 (IC 95% 1,67-1,80; p < 0,001). O mesmo foi válido para edema articular de maneira geral e para edema articular persistente, com OR 2,37 (ICR 95% 2,30-2,43; p < 0,001) e 1,52 (IC 95% 1,42-1,61; p < 0,001), respectivamente. Na análise de sensibilidade que incluiu as articulações mais frequentemente edemaciadas e naquela que levou em consideração os dados faltantes (18%), os autores encontraram resultados semelhantes.

Outro dado interessante é que não apenas a presença de edema, mas também a sua duração, se associou a uma maior probabilidade de edema articular no follow-up, mesmo com o tratamento treat-to-target.

Saiba mais: Treat-to-target (T2T) e redução de doses na artrite reumatoide (AR) em tempos de Covid-19

Comentários

Esse estudo foi o primeiro a demonstrar que a reativação da AR tende a acometer as articulações edemaciadas no início da doença.

Do ponto de vista de ciência básica, esses achados são importantes para direcionar esforços que permitam entender quais são os fatores locais que podem contribuir para esse padrão de reativação.

Já do ponto de vista clínico, é importante que o reumatologista esteja atento para as articulações que o paciente refere como mais frequentemente acometidas. Dessa forma, talvez seja importante uma monitorização mais atenta dessas articulações e um tratamento local mais agressivo. Estudos futuros ajudarão a responder a essas questões.

Referências bibliográficas:

  • Heckert SL, Bergstra SA, Matthijssen XME, et al. Joint inflammation tends to recur in the same joints during the rheumatoid arthritis disease course. Ann Rheum Dis. 2021;0:1–6. doi10.1136/annrheumdis-2021-220882  

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