Com os inúmeros dispositivos tecnológicos que permitem a comunicação e contato imediato, uma nova tarefa foi se somando às atribuições médicas usuais: responder inúmeras mensagens e e-mails com questões relacionadas ao trabalho.
Para nós, médicos, e especialmente para os profissionais da saúde mental, a demanda é gigantesca e sempre renovada. Dúvidas sobre efeitos colaterais, uso de álcool e medicações, interação com outras medicações, pedidos de exame, demandas de familiares, desabafos sobre questões cotidianas até comunicação de autolesão e ideação suicida fazem parte do nosso cotidiano.
Saiba mais: Série Comunicação Médica: como aprimorar técnicas de comunicação médico-paciente [vídeo]
Novo estudo
Bernstein e colaboradores resolveram olhar detidamente para o problema. Os pesquisadores compararam o padrão de envio de mensagens no período pré-pandemia (02 de junho de 2018 a 18 de março de 2020) e pós-pandemia (19 de março de 2020 a 03 de janeiro de 2022) de pacientes que tiveram ao menos uma consulta em um centro médico acadêmico.
Métodos
Entre 4.724 pacientes analisados, o envio aumentou de 765 pacientes no período pré-pandemia para 4.481 no pós-pandemia (485,8%). O volume mensal de mensagens aumentou de 4.661 mensagens pré-pandemia para 44.929 mensagens pós-pandemia (861,5%).
Os períodos pós-pandemia ainda foram divididos em duas porções, um período precoce (01 de abril de 2020 a 31 de janeiro de 2021) e tardio (01 de novembro de 2021 a 30 de setembro de 2022), buscando descobrir se o padrão de envio mudou no período de menor taxas de infecção por covid-19. O número médio de mensagens por mês foi significativamente menor no início da pandemia (1.398 mensagens) se comparado ao final (3.414 mensagens). Perguntas sobre as medicações e sobre questões médicas gerais foram as mais comuns.
Considerações
O aumento do envio de mensagens é uma realidade que atravessa a prática profissional de todos os médicos hoje e é mais uma variável a ser manejada para manutenção de um bom vínculo médico-paciente. A satisfação dos pacientes diminui acentuadamente quando as mensagens não são respondidos em até dois dias úteis. No entanto, responder as mensagens é uma parte invisível do trabalho médico, isso em uma profissão já cronicamente acometida por altos índices de sofrimento mental e burnout.
Discutir de que forma encontrar um ponto de equilíbrio onde os pacientes possam ser adequadamente assistidos em suas necessidades sem sobrecarregar os profissionais de saúde é urgente. A Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), bem como a Universidade de Washington implementaram um sistema onde o envio de mensagens é cobrado. Na UCSF, a análise das primeiras evidências mostrou uma diminuição do número de mensagens enviadas. Contudo, essa diminuição foi associada a um aumento do número de consultas, sugerindo que em vez do contato indireto, os pacientes vieram para falar mais detalhadamente sobre as suas perguntas.
Leia também: O que o médico deve saber sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI)?
Conclusão e mensagem prática
Ainda que a cobrança de todas as mensagens enviadas não pareça uma solução razoável para o problema, outras soluções que visem a conscientização dos pacientes e evitem o uso excessivo da possibilidade de contato com os profissionais de saúde precisam ser pensadas.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.