ESC 2020: Empaglifozina pode reduzir mortalidade e hospitalização por insuficiência cardíaca?

Os inibidores SGLT2, inicialmente criados para tratar diabetes, mostraram recentemente seu valor no tratamento da insuficiência cardíaca.

Os inibidores SGLT2, inicialmente criados para tratar diabetes tipo 2, mostraram recentemente seu valor no tratamento da insuficiência cardíaca, reduzindo a mortalidade cardiovascular e eventos cardiovasculares mesmo em pacientes não diabéticos.

O estudo DAPA-HF mostrou redução de eventos cardiovasculares e internações hospitalares em pacientes com insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (ICFEr), mesmo sem diabetes, com o uso da dapaglifozina. Muito se discutiu se isso seria um efeito de classe, portanto o estudo EMPEROR-Reduce se propôs a testar a empaglifozina neste cenário. O estudo foi apresentado no congresso virtual da European Society of Cardiology (ESC 2020), hoje, dia 29.

Outra questão levantada era o efeito protetor da droga em relação à função renal e à segurança em pacientes com doença renal em estágios avançados.

Estes efeitos parecem não estar ligados à redução da glicose sérica, uma vez que outros hipoglicemiantes não apresentaram os mesmos resultados, mostrando que os benefícios dos inibidores SGLT2 vão além do tratamento do diabetes.

 

Empaglifozina para insuficiência cardíaca

O EMPEROR-Reduce foi um estudo multicêntrico desenvolvido em mais de 20 países, duplo cego e randomizado, que contou com 3.730 pacientes (1.863 no grupo da empaglifozina e 1.867 no grupo placebo).

Os critérios de inclusão foram:

  • Adultos (≥ 18 anos) com disfunção ventricular sistólica (NYHA II,III ou IV);
  • Fração de ejeção menor ou igual a 40%;
  • Os pacientes deveriam estar recebendo o tratamento padrão para ICFEr;
  • Houve uma preferência por pacientes com doença mais avançada e níveis de BNP mais elevados.

O desfecho primário foi um composto entre morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca avaliada na primeira internação. O desfecho secundário foi a redução da função renal avaliada através da estimativa da taxa de filtração glomerular.

Leia também: Mais sobrevida na insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida

Características basais da população

Dos 3.730 participantes, 24% eram mulheres e a média de idade era de 67 anos. Destacou-se a gravidade dos doentes que em mais de 70% dos casos tinham fração de ejeção ≤30% e em cerca de 78% dos casos tinham níveis de NT-pro BNP acima de 1000 pg/mL.

A taxa de filtração glomerular (TFG) média era 61 mL/min/1.73 m2, entretanto quase metade dos pacientes apresentavam uma TFG ≤60 mL/min/1.73 m2. Metade dos pacientes eram diabéticos. Outro fato importante a mencionar é que cerca de 20% dos pacientes utilizavam inibidores da neprilisina.

Resultados

A emplaglifozina foi interrompida em 303 pacientes (16.3%) e o placebo em 335 pacientes (18.0%). Houve perda mínima de seguimento.

O desfecho primário ocorreu em 361 pacientes (19.4%) do grupo da empagliflozina e em 462 pacientes (24.7%) do grupo placebo (risco relativo, RR, 0.75; 95% e intervalo de confiança, IC, 0.65 a 0.86; P<0.001). A análise em separado mostrou um risco relativo de 0.92 (95% IC, 0.75 a 1.12) para morte cardiovascular e 0.69 (95% IC, 0.59 a 0.81) para hospitalização. O NNT foi de 19.

Houve uma redução de TFG menor no grupo da empaglifozina em comparação com o grupo placebo (–0.55 mL por minuto por 1.73 m2 por ano vs. –2.28 ml por minuto per 1.73 m2 por ano) com uma diferença de 1.73 mL por minuto por 1.73 m2 por ano (95% IC, 1.10 a 2.37; P<0.001).

O principal efeito colateral relacionado ao uso da empaglifozina foi a ocorrência de infecções do trato urinário não complicadas.

Mensagem prática

  1. O estudo EMPEROR-Reduce provou que a empaglifozina reduziu um composto de mortalidade cardiovascular e hospitalização por ICFEr (25% de redução), ainda que a redução nas hospitalizações tenha sido mais significante. Além disso, a droga mostrou um efeito protetor da função renal.
  2. Outro fato impressionante foi o NNT provando que é preciso tratar apenas 19 pacientes com empaglifozina para se evitar um evento primário.
  3. Os resultados conjuntos dos estudos com inibidores SGLT2 no tratamento de pacientes com ICFEr são robustos o bastante para que esse tratamento seja aventado como tratamento padrão nesses casos.

Mais do ESC 2020:

Referência bibliográfica:

  • Packer M, et al. Cardiovascular and Renal Outcomes with Empagliflozin in Heart Failure. The New England Journal of Medicine. August 29, 2020. DOI: 10.1056/NEJMoa2022190

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