ESC 2020: Início precoce da colchicina pode alterar desfecho no infarto agudo do miocárdio?

O estudo COLCOT avaliou o uso da colchicina no infarto agudo do miocárdio, e uma nova análise foi apresentada no ESC 2020.

A colchicina, um alcaloide derivado de extratos do açafrão-do-prado (Colchicum autumnale), atua na inibicão da divisão celular essa função interfere diretamente na atividade dos neutrófilos, pois impede a diapedese, a mobilização e a degranulação lisossomal e inibe a formação do inflamassomo NLRP3 (estrutura multiproteica intracelular, importante para o processamento e a liberação das citocinas inflamatórias IL-1 e IL-18) induzida por cristais de ácido úrico.

O metabolismo da colchicina é feito pela família do citocromo P450 e, portanto, essa droga pode interagir com vários outros medicamentos metabolizados por essa via. Está indicada classicamente no tratamento da gota e da pericardite.

 

Colchicina no infarto

Em 2019, tivemos o resultado de um interessante e importante estudo que demonstrou o benefício da colchicina no arsenal terapêutico do infarto agudo do miocárdio (IAM) após publicação do estudo COLCOT no The New England Journal of Medicine (NEJM) que randomizou 4.745 pacientes (idade média de 60,6 anos e com 19,2% de mulheres) de 12 países a baixas doses de colchicina (0,5 mg uma vez por dia) vs. placebo.

Os pacientes foram incluídos em uma média de 13,5 dias após o infarto e 93% recebeu angioplastia. O desfecho primário foi uma combinação de morte cardiovascular, necessidade de ressuscitação por parada cardíaca, infarto, AVC e re-hospitalização por angina com necessidade de revascularização.

Após quase dois anos de seguimento, os pacientes que receberam colchicina apresentaram menos eventos em comparação com os que receberam placebo (5,5% vs. 7,1%; HR 0,77; IC 95%: 0,61-0,96). A redução do desfecho combinado foi conduzida por menos AVC (HR 0,26; IC 95%: 0,10-0,70) e menos revascularização de urgência (HR 0,50; IC 95%: 0,31-0,81). Os demais componentes do desfecho, incluindo a morte e os infartos, foram similares.

Em relação a efeitos colaterais foi observado que diarrEia foi relatado em 9.7% no grupo colchicina vs 8.9% no grupo placebo (P=0.35). Houve mais náuseas no grupo da colchicina do que no grupo do placebo: 1,8% vs. 1,0%. Além disso, a incidência de pneumonia foi de 0,9% no grupo da colchicina vs. 0,4% entre os participantes recebendo placebo. O COLCOT ratificou a hipótese do papel dos anti-inflamatórios no processo de aterosclerose.

Nova análise do COLCOT

Em 29 de agosto de 2020, Bouabdallaoui e col apresentaram no congresso virtual da European Society of Cardiology (ESC 2020) com publicação simultânea no European Heart Journal uma nova análise do COLCOT, levando em consideração o tempo para início do tratamento e sua influência nos desfechos previamente citados.

Os pacientes foram divididos em três grupos de acordo com o tempo de início do tratamento: até três dias (1.193 pacientes), quatro a sete dias (720 pacientes) e > 8 dias (2748 pacientes) sendo aplicado um modelo de regressão de Cox.

Desta forma, o único grupo que apresentou redução significativa no desfecho primário foi aquele de início precoce (até três dias) com 48% de redução (4.3% vs 8.3%): RR 0.52 IC95%(0.32 – 0.84). Os efeitos benéficos da iniciação precoce de colchicina também foram demonstrados para hospitalização urgente por angina que requer revascularização (RR = 0.35), revascularização coronária completa (RR = 0,63), e o desfecho composto de morte cardiovascular, parada cardíaca ressuscitada, IAM ou acidente vascular cerebral (RR = 0,55, todos P <0,05).

Mais do ESC 2020:

Referência bibliográfica:

  • Bouabdallaoui B, et al. Time-to-treatment initiation of colchicine and cardiovascular outcomes after myocardial infarction in the Colchicine Cardiovascular Outcomes Trial (COLCOT). European Heart Journal, ehaa659. 29 August 2020. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehaa659
  • Azevedo VF, Lopes MP, Catholino NM, Paiva EDS, Araújo VA, Pinheiro GDRC (2017) Critical revision of the medical treatment of gout in Brazil. Rev Bras Reumatol Engl Ed 57:346–355. https://doi.org/10.1016/j.rbre.2017.03.002
  • Tardif J-C, Kouz S, Waters DD, et al. Efficacy and safety of low-dose colchicine after myocardial infarction. N Engl J Med. DOI: 10.1056/NEJMoa1912388

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