ESC 2021: finerenona reduz eventos cardiovasculares em pacientes renais crônicos diabéticos tipo 2

O FIGARO-DKD avaliou se o tratamento com finerenona seria eficaz em reduzir eventos cardiovasculares e morte por causas cardiovasculares em pacientes om DRC não incluídos no FIDELIO.

Já sabemos que a hiperativação do receptor mineralocorticoide está associada a doenças renais e cardiovasculares, que frequentemente coexistem como doença cardiorrenal. Hoje vamos falar sobre a finerenona, um antagonista seletivo não esteroidal do receptor mineralocorticoide, e seus possíveis efeitos no renal crônico diabético tipo 2. A vantagem dessa nova droga é ter melhor efeito clínico e menos eventos adversos em relação à espironolactona, que é aquela disponível atualmente no Brasil.

Já havia um estudo sobre esse assunto: o FIDELIO-DKD. Nesse estudo, a finererona melhorou os desfechos renais em pacientes estágio 3 ou 4 DKC com importante albuminúria e diabetes tipo 2 (ou seja, população de alto risco para doença renal).

No estudo que abordaremos agora, o FIGARO-DKD, apresentado no congresso da European Society of Cardiology (ESC 2021), os autores avaliaram se o tratamento com finerenona seria eficaz em reduzir eventos cardiovasculares e morte por causas cardiovasculares em pacientes com DRC estágios 2 a 4 e moderada a grave albuminúria ou estágios 1 ou 2 com albuminúria muito grave – ou seja, o alvo era estudar a população que não foi incluída no estudo FIDELIO-DKD.

comprimidos de finerenona para pacientes com DRC

Finerenona e desfechos cardiovasculares

Trata-se de um estudo fase 3 multicêntrico, randomizado, duplo cego, que foi financiado pela Bayer e publicado na NEJM. Foram incluídos no estudo pacientes > 18 anos com DM 2 e DRC que preenchessem um dos seguintes critérios:

  • Albuminúria moderada-grave persistente (relação albumina/creatinina 30-300) e TFG 25-90 Ml/1,73M² (CKD 2 a 4);
  • Albuminúria muito grave persistente (relação albumina/creatinina 300-5000) e TFG > 60Ml/1,73M² (CKD 1 ou 2);
  • Os pacientes com ICFER sintomática (que já teriam indicação de antagonista de receptor mineralocorticoide) fora excluídos. O potássio no screening deveria ser, obrigatoriamente, menor do que 4,8mmol/L.

O estudo foi dividido em três fases: run-in, screening e tratamento duplo cego. No run-in, a terapia com BRA/iECA foi ajustada para a dose máxima tolerada (sem efeitos adversos inaceitáveis). Depois disso, os pacientes foram randomizados 1:1 para receberem placebo ou finerenona. Os que tinham TFG entre 25-60 recebiam 10mg/dia e os que tinham >60 recebiam 20mg/dia. O alvo era chegar a 20mg/dia desde que o potássio fosse < 4,8 e a TFG se mantivesse estável. A fineronona ou placebo foram suspensos se potássio ultrapassasse 5,5 e eram reiniciadas quando os níveis de potássio diminuíssem para 5,0 ou menos.

O desfecho primário do estudo era: morte por causa cardiovascular, IAM não fatal, AVC não fatal ou hospitalização por IC. Os desfechos secundários eram: primeiro evento de insuficiência renal (DRC estágio final ou TFG < 15 por 4 semanas ou transplante renal), queda da TFG em > 40% em 4 semanas ou morte por causas renais. Foram randomizados 7437 pacientes de 48 países entre setembro de 2015 e outubro de 2018.

Como o estudo aconteceu durante a pandemia, houve perda de seguimento de 2096 pacientes (28,5%). A incidência de descontinuação prematura do tratamento foi equivalente entre os dois grupos (placebo e finerenona). A dose média diária de finererona foi de 17,5mg.

Resultados

Em relação ao desfecho primário, houve redução estatisticamente significante no grupo da finerenona e esse efeito também se deu nos subgrupos analisados (458 de 3686 pacientes {12,4%] x 519 de 3666 [14,2%]). O NNT em relação ao desfecho primário foi de 47. Não houve diferença significativa em relação aos desfechos de falência renal, decréscimo na TFG ou morte por causa renal.

A taxa de eventos adversos foi similar nos dois grupos. A incidência de hipercalemia foi maior no grupo da finerenona, mas nenhum caso resultou em morte. Poucos causaram a descontinuação permanente da droga (1,2%) ou hospitalização (0,6%). Ginecomastia foi raro (0,1%).

Os resultados desse estudo mostraram, então, que entre pacientes diabéticos tipo 2 com doença renal crônica (estágios 2-4 com moderada-elevada albuminúria ou estágios 1-2 com severamente elevada pronteinúria) a finerenona reduziu o risco de morte por causa cardiovascular, IAM não fatal, AVC não fatal e hospitalização por IC.

Vale destacar que essa redução se deu principalmente por conta da diminuição na hospitalização por IC. Agora é esperar que ela chegue no Brasil e não morra na “praia da importação” como o eplerenone.

Estamos realizando a cobertura do congresso. Fique ligado no Portal PEBMED!

Veja mais do ESC 2021:

Referência bibliográfica:

  • Pitt B, et al. Cardiovascular Events with Finerenone in Kidney Disease and Type 2 Diabetes. New England Journal of Medicine. August 28, 2021. DOI: 10.1056/NEJMoa2110956

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