Especialistas alertam sobre o risco iminente do aparecimento de novos vírus

As alterações climáticas, a pobreza e o aparecimento de novos vírus podem parecer três fenômenos distintos, mas estão interligados.

As alterações climáticas, a pobreza e o aparecimento de novos vírus podem parecer três fenômenos distintos, independentes, mas estão “profundamente interligados”, alertou Emmanuel de Merode, diretor do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo (RDC), em entrevista à imprensa internacional.

O país, na sua grande biodiversidade e debilidade econômica, é particularmente propenso ao surgimento de novos vírus que podem ser transmitidos de animais para seres humanos. Tal como o novo coronavírus, que está na base da pandemia de Covid-19.

O aparecimento de outros novos vírus potencialmente perigosos para os seres humanos na República Democrática do Congo é iminente. “É uma questão de tempo”, assegura a jornalista da agência EPA Amélia Goldsmith, que, em conjunto com o fotógrafo Hugh Kinsella Cunningham e com o apoio do Pulitzer Center, se deslocou ao país no sentido de investigar o problema.

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Aqui no Brasil, o virologista e chefe substituto do Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fernando do Couto Motta, falou em março, durante o Foro Inteligência, sobre o risco iminente da chegada de novos supervírus.

O especialista alertou que os vírus deverão trazer cada vez mais prejuízos, devido à modificação do ambiente — seja por meio do aquecimento global, da derrubada de florestas, da abertura de estradas ou da domesticação de animais silvestres.

“Essas situações nos colocam em contato com novos reservatórios de parasitas e forçam os vírus a se adaptar, com a busca de novos hospedeiros como o ser humano”, explicou Fernando Motta.

Especialistas alertam sobre o risco iminente do aparecimento de novos vírus

“Vírus adormecidos podem acordar”

Para a doutora em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do curso de Biomedicina da Universidade Estácio de Sá, Maíra de Assis Lima, além do aparecimento de novos vírus, poderemos acompanhar o surgimento de vírus que estão adormecidos por milênios.

“Com o aumento constante da população mundial, o persistente problema de saneamento básico, a invasão de ambientes naturais e as crises ambientais, vírus antes “adormecidos” ou com baixa probabilidade de infectar os seres humanos se tornam iminentes. Ademais, a alta capacidade de mutação dos vírus, ou seja, a sua habilidade de mudar as suas características constantemente podem agravar esse cenário e tornam o desenvolvimento de tratamentos para as enfermidades causadas por eles ainda mais difícil”, alertou a especialista em entrevista ao Portal de Notícias da PebMed.

Segundo a professora Maíra Lima, há fortes indícios de que a origem do vírus HIV, que causa a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), veio dos chimpanzés, dados que foram afirmados por pesquisadores de uma equipe das universidades de Nottingham, na Grã-Bretanha; Montpellier, na França; e Alabama, nos Estados Unidos, por exemplo.

Vírus desconhecidos e novas variantes

Apesar dos avanços científicos, estes agentes patogênicos surpreendem com o seu alto poder de replicação e letalidade. Mutações que levariam séculos para ocorrer em seres complexos (como nós, seres humanos) podem ser observadas em algumas semanas de vida desses vírus.

“Locais populosos e com baixo controle sanitário se tornam propícios para o surgimento de novos vírus e enfermidades, a exemplo do sul da China, onde a concentração de pessoas é muito alta e o contato com animais domesticados ou selvagens é muito próximo. E estes, muitas vezes, servem como alimento sem passar por uma inspeção mais rigorosa quanto à sua origem ou a presença de microorganismos patogênicos”, ressaltou a professora de Biomedicina Maíra Lima.

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Como a SARS e a Covid-19 provaram, atualmente é muito fácil para um parasita pegar um avião e aparecer em outro lugar do mundo. “Portanto, não fique surpreso se outras grandes epidemias se alastram pelo mundo mais vezes”, observou o virologista Fernando Motta.

Qual é a saída?

Felizmente, a ciência de hoje está muito avançada, “tanto que o código genético do novo coronavírus, causador da Covid-19, foi identificado e compreendido dentro de um mês”, pontuou Maíra Lima.

No entanto, os testes clínicos demandam tempo e uma análise criteriosa. Ademais, as características genéticas podem variar entre as diferentes populações, fazendo com que o resultado de um medicamento ou vacinas seja diferente quando comparado, por exemplo, europeus e latino americanos.

“O desenvolvimento de tecnologias para tratar as viroses é rápido e a demora está nos testes que devem ser realizados para garantir a confiabilidade e a eficiência ao novo produto desenvolvido”, esclareceu a professora de Biomedicina.

Para o pesquisador da Fiocruz, a saída para lidar com esse problema está nas vacinas. “Somos um dos poucos países produtores de vacinas. O Brasil sempre importou tecnologia para adaptar e produzir a própria vacina, temos esse conhecimento”, destacou Fernando Motta na entrevista.

Já a professora de Biomedicina lembrou que é importante que as pessoas entendam que o mundo está sujeito ao surgimento de novas doenças e pandemias a todo o momento. No entanto, temos a descoberta de novos medicamentos e vacinas que tratam dessas enfermidades a cada dia.

“A solução deste problema está na maneira como interagimos com a natureza, que é algo que deve ser pensado e considerado quando falamos do surgimento de novas patologias”, enfatizou Maíra Lima.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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