Esquizofrenia: terapia cognitivo-comportamental é alternativa à clozapina

O resultado do estudo foi encorajador para associação da terapia cognitivo-comportamental (TCC) ao tratamento dos pacientes com esquizofrenia.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Relatos da terapia cognitivo-comportamental (TCC) sendo usados para tratar a psicose datam de meados do século XX. Não que esta seja uma recomendação primária a todas as pessoas que preencham os critérios para esquizofrenia, mas a revista The Lancet Psychiatry de julho apresenta os achados do ensaio clínico randomizado Focusing on Clozapine Symptoms (FOCUS), no qual compararam nove meses de terapia cognitivo-comportamental (TCC) para psicose com o tratamento usual para pacientes com esquizofrenia que não responderam ao tratamento com clozapina. E o resultado inicial deste estudo foi encorajador para associação desta terapia ao tratamento dos pacientes refratários à medicação.

Anthony Morrison e colegas contribuíram de maneira importante para a compreensão da TCC junto às psicoses e incorporaram características que foram consideradas notáveis ao tratamento devido ao enfoque nos pacientes resistentes à medicação especialmente a clozapina. E também por acompanharem por nove meses de tratamento e sendo feito 12 meses depois um follow up de acompanhamento.

Sabe-se o acompanhamento destes pacientes refratários se mostra como um grande desafio para a equipe médica. Pacientes que não respondem à clozapina estão entre os mais difíceis de tratar, e seus sintomas causam grande sofrimento a eles, suas famílias e clínicos.

O estudo FOCUS foi considerado delineado e bem executado sendo feita uma randomização controlada para eliminar potenciais vieses na alocação para a condição de tratamento. E contou com uma revisão em 2000 que abordou o uso da TCC especificamente nessa população de pacientes. Além disso, um ensaio pragmático feito em vários cenários no Reino Unido, aumentou a generalização dos resultados. A TCC para psicose está incluída na diretriz do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica do Reino Unido, tanto para psicose quanto para esquizofrenia em adultos, e é reconhecida como uma prática baseada em evidências pela Administração de Serviços de Abuso de Substâncias e Saúde Mental nos EUA.

Leia mais: Esquizofrenia: antipsicótico injetável versus oral

Para considerar sua eficácia foi usado o modelo de estudo da descontinuação do tratamento e da prevenção de recaídas. Nesses estudos, os indivíduos que mostraram uma resposta a um medicamento são designados aleatoriamente para continuar ou descontinuar o medicamento e são avaliados quanto à recaída ou ao retorno dos sintomas relevantes. Para muitos tratamentos psicossociais, a persistência de um efeito após a descontinuação do tratamento é frequentemente considerada a melhor evidência de eficácia. Os resultados de estudos prévios mostram consistentemente que aqueles que continuam a medicação se saem melhor em termos de sintomas, bem como recaída ou readmissão ao hospital, do que aqueles que descontinuam.

No final do tratamento aos nove meses, tendo a TCC seguindo um manual com treinamento claramente descrito e mascarando as avaliações dos desfechos, houve uma diferença significativa no escore total da Escala de Síndrome Positiva e Negativa (PANSS)  para o grupo TCC versus o grupo tratamento usual. Houve também diferenças significativas entre os grupos para três dos cinco fatores da escala: sintomas positivos, estresse emocional excitação3.

Assim, os não respondedores à clozapina, o único medicamento antipsicótico indicado para o tratamento de pacientes com esquizofrenia refratária a medicamentos, a TCC parece agir de forma semelhante aos tratamentos farmacológicos e os resultados após a descontinuação do tratamento sugerem evidências de sua eficácia. E um ensaio pragmático feito em vários cenários no Reino Unido, aumentou a generalização dos resultados.

O estudo FOCUS representa um acréscimo importante para a compreensão da TCC em psicose e incorporou várias características notáveis. A conclusão do estudo FOCUS é que todos os pacientes que não respondem à clozapina devem receber TCC, pois ela pode aliviar seus sintomas angustiantes. Quando a TCC termina, o efeito significativo pode não persistir por mais que 12 meses; entretanto, o desafio é identificar como manter ou possivelmente aumentar a duração de seus efeitos, oferecendo a esses pacientes a oportunidade de experimentar os benefícios que a TCC pode proporcionar.

É médico e também quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!

Referências:

  • Morrison AP, Pyle M, Gumley A et al. Cognitive behavioural therapy in clozapine-resistant schizophrenia (FOCUS): an assessor-blinded, randomised controlled trial. Lancet Psychiatry. 2018; (published online July 9) Doi:10.1016/S2215-0366(18)30184-6

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades