Estamos tendo menos diabetes ao longo dos últimos 30 anos?

Vemos cada vez mais um predomínio de doenças crônicas entre as populações. Esse raciocínio guiou uma metanálise para avaliar a incidência de diabetes.

De modo geral, vemos cada vez mais um predomínio de doenças crônicas entre as populações em contraste com as doenças mais prevalentes 100 anos atrás. Contudo, apesar da maior prevalência dessas doenças, elas estão aparecendo mais? Isso é, elas estão incidindo mais?

Esse foi o raciocínio que guiou um estudo de revisão sistemática com condução de metanálise para avaliar a incidência de diabetes ao longo de uma série temporal. Além disso o grupo tentou explicar os achados da pesquisa.

Os pesquisadores realizaram busca em bases de dados focando estudos originais, fontes de dados de registros governamentais e outras revisões buscando dados acerca da incidência de diabetes ao longo do período entre 1980 e 2017. Para isso utilizaram o protocolo PRISMA para revisões sistematizadas. Um total de 22.833 trabalhos foram encontrados dos quais 80 foram elegíveis para leitura completa e 47 atenderam os critérios para fornecer dados para análise quantitativa.

Reforçando conceitos
Incidência: É o indicador gerado quando se analisa a proporção de casos novos em relação à população geral em um determinado período. Ou seja, nro casos novos/população total
Prevalência: É o indicador gerado quando se analisa a proporção total de casos de um agravo em relação à população geral em um determinado período. Ou seja nro casos/população total

Os estudos encontrados forneceram dados sobre todas as populações do globo, contudo com proporções diferentes. A maior parte dos estudos, forneceram dados sobre populações europeia, apenas 19% deles foram de populações não europeias e desses apenas 4% de países subdesenvolvidos.

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Os estudos forneceram dados populacionais entre de algo entre 100.000 e 130.000 indivíduos a cada ano analisado. Majoritariamente (62%) dos estudos avaliaram apenas diabetes tipo 2.

médica medindo glicose em paciente com diabetes

Tendências da Incidência de Diabetes

De modo em geral, os dados encontrados apontam uma tendências de aumento de incidência progressivamente ao longo dos anos até meados dos anos 2000 em todos os grupos etários

O maior pico de incidência ocorreu entre 1990-1999, com rápido aumento nessa década. Após 1999, pelas próximas duas décadas, a tendência de prevalência é de declínio progressivo na maior parte das populações analisadas ou então de manutenção (estabilização). As análises de sensibilidade não demonstraram impacto na tendência por vieses associados aos períodos de tempo recortados para análise (em décadas).

Explicando a tendência encontrada

Mudanças dos critérios diagnósticos aumentaram a sensibilidade ao longo de um período temporal. Antes de 1997 o ponto de corte para glicemia de jejum era 140 mg/dL e só então passou para 126 mg/dL, essa mudança explica o pico de incidência entre 1990-1999.

Entre 2009 e 2010 a hemoglobina glicada HbA1C é introduzida como método diagnóstico. Esse método tende a gerar uma menor incidência, contudo estudos pareados comparando apenas glicemia de jejum e HbA1C como método diagnóstico não mostraram diferenças na incidência

Os dados incluídos contaram com menos de 5% da participação de países subdesenvolvidos, cujos dados mostram tendência oposta

Qual o impacto dos achados

Podemos avaliar os achados do estudo por diversos ângulos com consequências distintas. O primeiro é entendendo as limitações. Sim, a incidência está diminuindo. Em todos os lugares? Não. Essa tendência é robusta apenas em populações europeias, em outras populações desenvolvidas tende-se à estabilidade. Em países subdesenvolvidos tende-se a aumento de incidência, com base nos dados levantados, porém o principal é que faltam muitos dados dessas populações para conclusões mais robustas.

Uma noção clara é a influência de determinantes sociais de saúde e o impacto de medidas de intervenção populacionais. Adoção de medidas massivas como a redução de açúcar dos alimentos impacta em larga escala na incidência, por exemplo. De mesmo modo, no caminho inverso está o impacto negativo de pobreza e baixo IDH sobre os mesmos parâmetros analisados.

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Na prática isso muda diretamente a direção dos investimentos em saúde. Altas prevalências vão implicar em medidas relacionadas à melhoria de manejo, tratamento e complicações. Altas incidências vão implicar em medidas massivas relacionadas à prevenção, por exemplo.

Conhecer essas dados sobre a população em que você atua ajuda a entender o que priorizar e o que mais se preocupar no atendimento individual na linha de frente. E para os detalhes desse manejo, as melhores condutas encontra no Whitebook.

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Referências bibliográficas:

  • Magliano DJ, et al Trends in incidence of total or type 2 diabetes: systematic review BMJ 2019; 366: l5003.
  • Lean M, et al Trends in type 2 diabetes BMJ 2019; 366: l5407.

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