Estatinas aumentam o risco de osteoporose?

As estatinas têm seu posto bem definido como algumas das drogas mais importantes na prevenção secundária e primária de várias doenças cardiovasculares.

Sinvastatina, rosuvastatina, atorvastatina… São nomes tão comuns, pela frequência com que são prescritos esses medicamentos, que até a linguagem popular já os decorou. E não é à toa, já que as estatinas têm seu posto bem definido como algumas das drogas mais importantes na prevenção secundária e mesmo primária de várias doenças cardiovasculares (uma das principais causas de morbimortalidade).

As estatinas também têm ganhado campo na pesquisa, onde têm se mostrado potentes anti-inflamatórios com novos potenciais de uso já em investigação. Mas, como tudo em excesso pode ser prejudicial, um estudo austríaco publicado no periódico Annals of Rheumatic Diseases evidenciou uma possível associação entre esses medicamentos e a incidência de osteoporose.

É importante ressaltar dois pontos principais antes de discutirmos o estudo: primeiramente, a pesquisa foi no modelo caso-controle, que permite concluir prováveis relações causa e efeito e até calcular o odds-ratio, mas não gera as evidências mais fortes que podemos encontrar por aí; segundo, a suspeita relação com osteoporose foi evidenciada com estatinas de alta-potência e não com qualquer dose dos medicamentos.

Leia também: Há alternativa às estatinas em pacientes de alto risco cardiovascular? [ACC 2019]

estatinas em comprimidos

Estatinas e osteoporose

Nas pesquisas anteriores, o uso de estatinas em baixa dose tem sido, ao contrário, relacionado ao menor risco de osteoporose. Esse efeito, provavelmente, ocorre por maior expressão de uma proteína osteoprotetora chamada BMP-2 e pela redução nos níveis sanguíneos de LDL.

Essa última pesquisa, realizada pela equipe da Universidade de Viena na Áustria, os pesquisadores fizeram uma grande análise populacional, colhendo dados de todos os austríacos menores de 90 anos (um N de quase 8 milhões) registrados de janeiro de 2006 a dezembro de 2007.

Dentre os pacientes dessa população, mais ou menos 350.000 faziam uso de estatinas de alta-potência (incluindo as mais comumente usadas aqui no Brasil: sinvastatina, atorvastatina e rosuvastatina). Deles, quase 12.000 foram diagnosticados com osteoporose (definida segundo os critérios do CID-10).

Quando analisado em comparação ao grupo controle, esses dados resultaram em um odds-ratio de 3,62. Ou seja, a chance de desenvolvimento de osteoporose no uso de estatinas foi quase quatro vezes a chance de quem não usava esses medicamentos.

Esse resultado também foi observado analisando-se o uso de cada estatina isolada e foi mantido mesmo após o ajuste dos dados para comorbidades como diabetes mellitus e doenças tratadas com corticoterapia.

Ao contrário, o uso de estatinas em baixa-potência apresentou odds-ratio de 0,39 a 0,70 ou, em outras palavras, teve um efeito protetor evidenciado pela pesquisa.

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Qual o motivo para esses efeitos?

Esse estudo é um dos primeiros a gerar esse tipo de evidência, então não existem dados suficientes para afirmar, com certeza, qual o mecanismo por trás dela.

A suspeita é de que, ao reduzir a dosagem plasmática de colesteróis, as estatinas interfiram na produção de hormônios esteroidais incluindo os hormônios sexuais. Tanto estrógeno quanto progesterona são hormônios osteoprotetores e, portanto, sua falta acelera a perda de massa óssea (como é observado em mulheres após a menopausa, por exemplo).

Assim, esses medicamentos poderiam causar efeitos semelhantes a uma menopausa precoce, resultando na maior incidência de osteoporose. Isso, porém, é apenas uma hipótese, já que, apesar de existirem estudos sobre a relação estatinas-hormônios sexuais, as evidências dessa área ainda são muito escassas para gerar conclusões eficazes.

Outros fatores de confusão presentes nesse estudo são o uso dos critérios do CID-10 para diagnóstico de osteoporose (que não são os mais amplamente usados) e também o fato de que níveis altos de LDL já estão relacionados com baixa massa óssea (e é bem provável que muitos dos pacientes que iniciam uso de estatinas de alta-potência já tenham hipercolesterolemia de base).

De qualquer maneira, essa pesquisa é alta relevância, considerando a investigação da associação entre drogas amplamente usadas e uma comorbidade extremamente comum (e com alta morbimortalidade). O surgimento dessas evidências deve estimular novas pesquisas no assunto, incluindo os mecanismos por trás desse efeito e, futuramente, pode ser que tenhamos que tomar mais cuidados ao iniciar o uso de estatinas de alta-potência.

Referência bibliográfica:

  • Do High-Dose Statins Increase the Risk for Osteoporosis? – Medscape – Oct 14, 2019.

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