Estatinas podem aumentar o risco de miopatia associada à daptomicina

O uso de estatinas teve uma grande expansão nos últimos anos, sendo uma das medicações habituais mais comuns na população. Saiba mais:

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

O uso de estatinas teve uma grande expansão nos últimos anos, sendo uma das medicações habituais mais comuns na população. Cerca de 5 a 10% dos pacientes que as utilizam desenvolvem miopatia, o que leva à preocupação de que o uso concomitante de daptomicina e estatinas possa levar a um maior risco de toxicidade. As recomendações atuais são conflitantes em relação à suspensão ou não de estatinas quando se planeja usar daptomicina, mas a maior parte dos estudos realizados até o momento não foram desenhados para investigar especificamente o risco de miopatia, identificando poucos casos em suas coortes.

Daptomicina é um antibiótico da classe dos lipopeptídeos com atividade bactericida contra bactérias Gram-positivas. Com a crescente incidência de germes resistentes, tornou-se uma importante opção para o tratamento de infecções por organismos como MRSA e VRE.

Uma das grandes preocupações com o uso desse antibiótico é a toxicidade muscular, com casos de miopatia em 2 a 14% e de rabdomiólise em até 5% dos pacientes, sendo mais frequente em indivíduos obesos. Por esse motivo, recomenda-se a monitorização regular dos níveis séricos de creatina fosfoquinase (CPK) durante o tempo de administração de daptomicina.

Leia mais: Estatinas diminuem mortalidade em pacientes com doença reumática?

Recentemente, um estudo caso-controle retrospectivo foi publicado na Clinical Infectious Diseases investigando se a coadministração de daptomicina e estatinas poderia estar relacionada ao desenvolvimento de miopatia (definida como níveis de CPK > 200 U/L) e rabdomiólise (definida como níveis de CPK > 2000 U/L). Todos os pacientes selecionados haviam sido expostos a pelo menos três dias de terapia com daptomicina, possuíam níveis basais normais de CPK e não possuíam causas alternativas que pudessem explicar seu aumento. Para cada caso, os controles foram selecionados de forma a terem recebido no mínimo o mesmo número de dias de tratamento com daptomicina.

Os dados de 3042 pacientes presentes nos bancos de dados de registros médicos foram selecionados como indivíduos expostos à daptomicina. No total, foram identificados 128 casos de miopatia associada à daptomicina (4,2%), sendo 25 com evidências de rabdomiólise (0,8%), os quais foram comparados com dados de 128 controles, também expostos à daptomicina.

A maioria dos casos ocorreu em adultos (95% dos casos de miopatia e 92% dos de rabdomiólise). A média de dias de tratamento com daptomicina foi de 25 dias para os casos de miopatia e de 13 dias para os de rabdomiólise. Os pacientes receberam em média 16,7 e 11,2 dias de tratamento antes de ocorrer elevação nos níveis de CPK nos casos de miopatia sem e com rabdomiólise, respectivamente. No total, 46,9% dos pacientes com elevação de CPK descontinuaram o tratamento com daptomicina devido à toxicidade.

Dos 256 casos e controles, 55 estavam em uso de estatina previamente o início de daptomicina, a qual foi descontinuada em nove pacientes. Na análise univariada, a coadministração de daptomicina com estatinas foi associada ao desenvolvimento de miopatia e de rabdomiólise. A coadministração com anti-histamínicos foi associada com miopatia, mas não com rabdomiólise e a associação contrária foi encontrada com a coadministração com bratos.

A associação do uso concomitante de estatinas com miopatia e rabdomiólise manteve-se na análise multivariada.
Outro fator de risco significativo associado com o desenvolvimento de rabdomiólise encontrado no estudo foi a obesidade, tanto na análise uni quanto na multivariada. As doses de daptomicina são classicamente calculadas de acordo com o peso real, sem ajuste para pacientes obesos. Mais estudos são necessários para avaliar se o cálculo da dose pelo peso ideal seria uma boa estratégia, considerando o risco de eventos adversos vs. a manutenção da eficácia do tratamento.

Esse é o primeiro estudo a mostrar um aumento no risco de toxicidade com a coadministração de estatinas e daptomicina. Os resultados apoiam a recomendação dos produtores da daptomicina de considerar a suspensão de outros medicamentos associados à rabdmiólise quando for iniciado o uso deste antibiótico, mas os autores ressaltam que a decisão deve ser individualizada, considerando o risco cardiovascular de cada paciente. Nos casos em que o benefício do uso de estatina seja considerado maior do que o risco, como nos pacientes com coronariopatia grave, os níveis de CPK devem ser monitorados com uma frequência maior, como duas vezes por semana.

É médico e também quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!

Referências:

  • Dare, RK, Tewell, C, Harris, B, Wright, PW, Van Driest, SL, Farber-Eger, E, Nelson, GE, Talbot, TR. Statin Coadministration Increases the Risk of Daptomycin-Associated Myopathy. Clin Infect Dis. 2018 Oct 15;67(9):1356-1363. doi: 10.1093/cid/ciy287.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades