Estatinas podem reduzir bridas intestinais no pós-operatório?

Estudo publicado no JAMA, em 3 de fevereiro, avalia associação entre uso de estatinas e complicações pós-operatórias por aderências.

Complicações após cirurgia abdominal, associadas à formação de bridas e aderências, ocorrem em até 5% dos pacientes e são responsáveis por grande morbimortalidade. Estudos com diversas moléculas têm sido feitos nas últimas décadas, visando encontrar agentes que possam ser aplicados no intraoperatório como antiaderentes e já existem produtos comercializados com esta finalidade, porém até o momento sem grande evidência de sucesso em reduzir risco de uma futura obstrução de intestino delgado e ainda podendo se associar a maior chance de formação de abscesso.

Estima-se que mais de 70% das obstruções de intestino delgado e 40% dos casos de infertilidade sejam secundários à formação de aderências, que são geradas após inflamação, hipóxia e presença de corpos estranhos durante uma cirurgia e estímulo de citocinas profibróticas. As estatinas, através da inibição da enzima HMG-CoA redutase, parecem proporcionar uma redução dessas citocinas prófibróticas, o que já foi demonstrado em estudos in vitro e em roedores.

Estudo publicado no JAMA, em 3 de fevereiro, buscou avaliar esta associação entre uso de estatinas e bridas pós-operatórias, através da análise de duas coortes retrospectivas.

Estudo publicado no JAMA, em 3 de fevereiro, avalia associação entre uso de estatinas e complicações pós-operatórias por aderências.

Resultados sobre o uso de estatinas

Foram analisadas duas bases de dados médicos, uma chamada THIN do Reino Unido, entre 1995 e 2013, e a outra Optum dos Estados Unidos, entre os anos 2000 e 2016. Incluídos pacientes submetidos a cirurgias: peritoneais, de cólon, intestino delgado, apêndice, estômago, diafragma, rim, trato reprodutivo feminino, hepatobiliar, pâncreas e sistema vascular abdominal. Foi considerado como desfecho primário qualquer complicação associada a aderências, obstrução intestinal ou necessidade de adesiólise. E feita análise multivariada, avaliando uso de outros agentes que também possivelmente atuem nas citocinas pro-fibróticas, como fibratos, drogas inibidoras da enzima conversora de angiotensina e fatores como idade, tabagismo, obesidade e presença de malignidade.

Na base europeia (THIN), dos 148.601 indivíduos incluídos, 2.060 (1,4%) apresentaram complicação associada a aderências abdominais durante o tempo de seguimento e o uso de estatina no período da cirurgia mostrou uma redução de chance em quase 20% desta complicação (HR:0,81), enquanto demonstraram aumento de risco os fatores: idade acima de 65 anos (HR: 2,34), cirurgia intestinal (HR:2,16) e história de malignidade (HR1.81). Sexo, presença de diabetes, hiperlipidemia e obesidade não mostraram diferenças.

Na base americana (Optum), tivemos 1.188.217 indivíduos, dos quais 54.136 (4,6%) cursaram com complicações por aderências. Nesta coorte, o uso de estatina levou a uma redução de chance deste tipo de complicação em 8% (HR:0,92). E diferente da coorte anterior, doenças com prejuízo a microcirculação como HAS (HR1,21), diabetes (HR: 1,17) e obesidade (HR, 1,28) mostraram aumento de risco. Os principais fatores encontrados foram: cirurgia intestinal (HR 1,87), tumores malignos (HR 1,82), idade acima de 65 anos (HR 1,37) e tabagismo (HR 1,37).

O uso de fibratos e IECAS não alteraram os riscos e a redução com a estatina só foi verificada em pacientes com utilização de drogas de moderada e alta potência (queda esperada de LDL superior a 30%).

Mensagem prática

A formação de bridas intestinais após uma cirurgia abdominal é extremamente comum, ocorrendo em até 90% dos pacientes e apesar de não ser tão frequente o desenvolvimento de complicações associadas, quando presentes podem levar a grande morbidade e mortalidade de até 13%.

Acredita-se que a chave para prevenção das aderências sejam substâncias que atuem inibindo as citocinas pro-fibróticas, porém não dispomos de substâncias com grandes evidências de sucesso até o momento. As estatinas parecem desencadear um papel protetor e este estudo descrito abre espaço para futuros ensaios clínicos, avaliando o papel da estatina na prevenção de complicações por formação de aderências abdominais.

Referência bibliográfica:

  • Scott FI, Vajravelu RK, Mamtani R, et al. Association Between Statin Use at the Time of Intra-abdominal Surgery and Postoperative Adhesion-Related Complications and Small-Bowel Obstruction. JAMA Netw Open. 2021;4(2):e2036315. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.36315

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades