Transtornos do espectro autista: estratégias de cuidado à criança em isolamento social

Crianças com transtornos do espectro autista necessitam de atendimento multiprofissional e podem se tornar alvos da Covid-19. Saiba mais.

Hoje vamos falar um pouquinho sobre transtornos do espectro autista e o coronavírus. O aumento de casos de Covid-19 trouxe um alarme para a população para restringir mais as medidas de segurança. Mesmo com muitas notícias de óbitos, a taxa de mortalidade em crianças abaixo de 10 anos ainda é baixa. No entanto, crianças com autismo necessitam de atendimento multiprofissional e se tornam alvos dessa doença. Além disso, a pessoa com autismo pode ter dificuldade na comunicação, diminuindo assim, a possibilidade de diagnóstico e de desvelar os sinais e sintomas da doença.

Mas para além da transmissibilidade da doença o que preocupa no atual momento é quanto aos sinais diagnósticos da doença que ficaram comprometidos por causa da dificuldade nos atendimentos. Quanto ao tratamento, a maior complicação é que nesse momento está sendo realizada em ambiente domiciliar e agora as famílias precisam aprender um pouco mais sobre algumas possibilidades de continuidade das atividades, visando o desenvolvimento da criança.

transtornos do espectro autista

Crianças com TEA e o isolamento social

Como a nova realidade e as particularidades da quarentena, as atividades ficaram escassas. A rotina da pandemia pode causar um comportamento disrruptivo na criança. O aumento do choro, incomodo no ambiente, a irritabilidade, se associam com o aumento do uso de eletrônicos e pode ser negativo para o desenvolvimento da criança autista. Além disso, os pais ficam mais sobrecarregados e também podem ter sua qualidade de vida diminuída. Mas o quê pode ser feito? Bom, algumas atividades de aprendizado e entretenimento podem ser válidas, sendo úteis e funcionais, servindo para a estimulação cognitiva. Crianças com espectro muitas vezes não fazem atividade como as crianças com desenvolvimento típico, requerendo uma atividade diferencial.

“As pessoas com autismo, por sofrerem com adaptação de alteração do desenvolvimento neurológico presente desde o nascimento ou começo da infância, diante do brusco rompimento da sua rotina, podem apresentar momentos de irritabilidade. Tal fato ocorre pela dificuldade causada pelo transtorno como entrave da interação social, devido a limitações na comunicação, além de alterações comportamentais, como manias, interesse restrito em coisas específicas e sensibilidade sensorial” (BARBOSA, et al, 2020, pág. 91).

Saiba mais: Novas recomendações sobre diagnóstico e tratamento do autismo

Algumas dicas de atividades são importantes e podem ser utilizadas nas casas das famílias nos diversos territórios. Os profissionais podem utilizar dessas estratégias para melhorar a qualidade de vida da família e gerar atividades válidas para a continuidade do desenvolvimento infantil da criança com autismo. Confira:

Organização da criança e sua rotina

Normalmente, a criança possui suas atividades que tiveram que ser reinventadas após a pandemia. Nos últimos meses as restrições foram mais severas pela necessidade de fechamento dos locais coletivos. Dessa forma é importante organizar a rotina da criança com um quadro de rotina para a criança saber o que ela deve fazer, diminuindo a ansiedade e gerando atividades planejadas. As atividades podem ser colocadas a serem feitas durante o dia, de forma lúdica por imagens em um quadro. É muito importante que esse quadro esteja na altura da criança. (exemplo: mães que trabalham precisam mostrar aos seus filhos que estão realizando a atividade e indicar qual a criança vai desempenhar nesse momento, tudo por imagem). Importante é retirar da visão das crianças os brinquedos ou utensílios relacionados as atividades quando essas não estiverem realizado as atividades. Diminuir estímulos visuais é importante para a orientação. Sempre cumpra a organização planejada.

Reduzindo os possíveis danos gerados pelo isolamento social

De acordo com Fernandes, et al (2020), as famílias devem estabelecer um programa recorrente deambulação em locais abertos, considerando horários possíveis com toda a segurança possível. A atividade se faz tão importante que diversos países têm adotado a medida para crianças com transtornos do espectro autista. Espanha e França legislaram a medida sabendo da necessidade terapêutica da medida. Chama-se a atenção aqui para as medidas que são necessárias a ser tomada pelo Estado e governo atual. Outra questão a ser observada é a questão da musicoterapia e a valorização de uma brinquedoteca dentro dos lares. Muitas atividades podem ser desenvolvidas mas a orientação profissional é fundamental. Para os profissionais que possuem dificuldades no cuidado das crianças e adolescentes com transtornos do espectro autista e para suas famílias devem por meio dos dispositivos da rede de atenção psicossocial, buscar o matriciamento e produzir um cuidado em saúde de maneira mais integral.

Medidas de proteção individual a pessoa com transtornos do espectro autista

No dia 02 de julho de 2020 a legislação brasileira sancionou a lei federal n° 14.019, dispensando a obrigatoriedade do uso de máscaras por pessoas com TEA ou que tenha outra deficiência. A medida é importante, considerando que crianças e adolescentes diagnosticadas com transtornos do espectro autista, podem possuir dificuldades na utilização da medida de proteção, pela inviabilidade a depender do nível de comprometimento intelecto-sensorial. A proposta de utilização de máscara pode gerar intenso sofrimento, desencadeando crises. Por esse motivo, outros cuidados devem ser tomados com rigor, como é o caso do afastamento social. Lembre-se que novas cepas do coronavírus podem infectar jovens, já havendo casos de mortalidade. Por esse motivo é necessário a proteção de todos com medidas de afastamento social.

As intervenções informais buscam transferência de informações entre pessoas. Pode ser um elo de cuidado entre os profissionais e a comunidade. Esse tipo de estratégia pode ser fundamental para a prática do cuidado na atenção aos TEA. Os materiais informativos são os principais instrumentos para que a família possua informações adequadas sobre o cuidado à pessoa com TEA durante a pandemia. Dessa forma a atenção psicossocial dos municípios e a estratégia da família, ambas da atenção primária. Profissionais de saúde devem buscar informações com os diversos dispositivos da rede. O matriciamento pode ser uma solução para as rápidas modificações que vem sofrendo o serviço nesse momento tão difícil.

Leia também: Dia do Autismo: o que pode ter relação com o aumento de diagnósticos?

A atenção à saúde de pessoas com transtornos do espectro autista não pode parar e o foco é na saúde e qualidade de vida não só da pessoa com TEA mas também para sua família que nesse momento passa a ter maior importância no processo terapêutico. Os familiares precisam de orientação para atividades que possibilitem o arranjo familiar das práticas do cotidiano e o cuidado às crianças e jovens com TEA. O suporte de saúde mental para as famílias nesse sentido, se faz necessário, sendo muito importante que os profissionais de rede, mais do que nunca se, conectem em prol de um cuidado integral. A tecnologia pode ser a melhor saída para que os profissionais possam chegar com informação até as casas das famílias das pessoas com TEA.

 

Referências biliográficas:

  • APORTA, A. P.; LACERDA, C. B.F. de. Estudo de Caso sobre Atividades Desenvolvidas para um Aluno com Autismo no Ensino Fundamental I. Rev. bras. educ. espec.,  Bauru ,  v. 24, n. 1, p. 45-58,  Mar.  2018.
  • BARBOSA, M.A. et.al. Os impactos da pandemia covid-19 na vida das pessoas com transtorno do espectro autista. Revista da SJRJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 48, mar./jun. 2020, p. 91-105.
  • BRASIL. (2020). Lei nº 14.019, de 02 de julho de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília. Recuperado em 06 de julho de 2020, de http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lein-14.019-de-2-de-julho-de-2020-264918074.
  • FERNANDES A.D.S.A et.al.; Desafios cotidianos e possibilidades de cuidado às crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frente à COVID-19. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional/Brazilian Journal of Occupational Therapy, Preprint, 2020.
  • Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP. (2020). Nota de Alerta 17 de Abril de 2020 COVID-19 e Transtorno do Espectro Autista. 2020.

 

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