Estudo mostra que risco de câncer de mama após terapia hormonal é menor do que o estimado

Novo estudo confirma risco aumentado de câncer de mama após diferentes tipos de terapia hormonal para pacientes na pós-menopausa.

E a polêmica em torno da Terapia de Reposição Hormonal (TH) tem mais um novo e importante capítulo: acaba de ser publicado no British Medical Journal um novo estudo que confirmou um risco aumentado de câncer de mama (CM) após diferentes tipos de TH para pacientes na pós-menopausa, mas sugeriu que o risco possa ser menor que o previamente conhecido após a publicação em 2019 de meta-análise de 24 estudos no Lancet, estudo esse que gerou grande repercussão imediata nas sociedades médicas, na imprensa, etc.

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Mulher realizando terapia hormonal faz rastreio para câncer de mama

Características do estudo

O novo estudo incluiu 98.611 mulheres entre 50-79 anos que foram diagnosticadas com CM entre 1998-2019 e o grupo controle incluiu 457.498 mulheres sem diagnóstico de CM neste período; 34% das mulheres com CM relataram TH e 31% das sem CM. Foram avaliados todos os tipos de TH nos últimos 20 anos no Reino Unido, incluindo estrogênio tópico, dispositivos intravaginais, cremes, entre outros. As pacientes foram agrupadas em pacientes que fizeram uso recente (nos cinco anos anteriores) ou no passado (> 5 anos sem usar), por longo período (mais de cinco anos de uso) ou não. Resultados foram ajustados para fatores que poderiam afetar o risco de CM, como estilo de vida, tabagismo, consumo de álcool, história familiar, etc.

No geral, o risco foi 21% maior para aquelas que receberam TH (adjusted odds ratio [OR], 1.21; 95% CI, 1.19 – 1.23). Para a TH combinada com estrogênio e progesterona o risco foi 26% maior, e apenas 6% para estrogênio isolado. Estrogênio vaginal (creme ou não) não aumentou o risco de CM. O risco foi, como esperado, maior conforme o tempo total de uso, mas vai diminuindo à medida que o tempo pós-uso vai passando e não houve risco associado com TH < 1 ano.

O maior risco seria para a TH combinada recente por mais de cinco anos, com 79% mais risco (adjusted OR, 1.79; 95% CI, 1.73 – 1.85) quando comparamos com mulheres que nunca usaram. Ainda neste grupo de TH recente e prolongada, o maior risco foi para Noretisterona (88% a mais) e de 24% para a Didrogesterona, sempre quando comparado com as que nunca usaram. Para a TH com estrogênio isolado, mas de forma prolongada e recente, o risco foi 15% maior. E com cinco anos de descontinuação desta terapia, o risco volta ao basal. Para a TH combinada mesmo após cinco anos sem uso o risco segue aumentado (16% maior).

Quando comparamos com mulheres que nunca fizeram TH, o número absoluto de casos extra de CM por 10 mil mulheres-ano pode variar de zero até 36, conforme a faixa etária, tipo e tempo de uso da TH.

Importante ressaltar que o estudo começou antes da publicação da meta-análise; este novo estudo mostra que o risco de CM é menor e a queda do risco após a interrupção da TH é maior do que o publicado em 2019.

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Algumas diferenças são marcantes entre essas duas publicações: foram diferentes idades incluídas, muitos dados foram baseadas nas próprias informações passadas pelas pacientes no caso da meta-análise e no atual estudo britânico os dados foram compilados nos prontuários eletrônicos da QResearch e da Clinical Practice Research Datalink (CPRD) databases, que cruzam dados entre ambulatórios e hospitais, registros de câncer e mortalidade. Os autores afirmam que por causa disso os dados são mais confiáveis e representativos do mundo real.

Limitações

Uma outra ressalva é que o estudo é observacional e não prova definitivamente que terapia hormonal causa câncer de mama. No entanto, o aumento de risco após TH é real, maior ainda com o uso e com a TH combinada, embora menor do que o esperado antes em especial para mulheres mais jovens, aquelas que provavelmente mais precisam da TH, se possível, por um curto período. Ficou claro que a pausa da TH também reduz o risco.

Temos de ter cuidado em levar apenas um estudo em consideração de forma isolada, este ou qualquer outro, mas parece cada vez mais claro que a TH depende de uma série de variáveis, como a severidade dos sintomas e de fatores individuais das pacientes em uma decisão cuidadosa e compartilhada, não esquecendo de realizar um seguimento apropriado das mamas, com mamografia regular, e, conforme o caso, exames adicionais.

Referências bibliográficas:

  • Vinogradova Y, Coupland C, Hippisley-Cox J; Use of hormone replacement therapy and risk of breast cancer: nested case-control studies using the QResearch and CPRD databases. 2020;371:m3873. doi: org/10.1136/bmj.m3873
  • Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer. Type and timing of menopausal hormone therapy and breast cancer risk: individual participant meta-analysis of the worldwide epidemiological evidence. 2019;394:1159-68. doi:10.1016/S0140- 6736(19)31709-X

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