Estudos descritivos e observacionais definem tratamento? 

Uma breve análise sobre os diferentes tipos de estudos e suas classificações e o questionamento: a pergunta da pesquisa pode ser respondida?

Ao desenhar um estudo, ou ao analisar um artigo publicado, existem algumas premissas que norteiam a função, o objetivo, as possibilidades e as fragilidades que aquele desenho de estudo é capaz de inferir. Existem várias formas de classificar os desenhos de estudos existentes: dimensão temporal (longitudinal, transversal); posição dos indivíduos (individuado, agregado); posição dos investigadores (observacional, experimental). Devemos sempre nos questionar: será que a pergunta da pesquisa pode ser respondida pelo tipo de estudo utilizado?

Tipos de estudos

Basicamente, existem três tipos diferentes de estudos:

  1. Estudos descritivos
  2. Estudos analíticos observacionais
  3. Estudos analíticos experimentais

Os estudos descritivos, os relatos e séries de casos, por exemplo, têm como objetivo registrar experiências e observações, despertando ideias e sugestões a serem testadas. A partir dessas ideias, podem ser desenhados estudos para testar as hipóteses levantadas. Nenhuma sociedade científica vai atualizar um protocolo de tratamento somente com base em relatos de caso, por exemplo.

Um estudo do tipo analítico observacional, como uma coorte ou um caso controle, tem como objetivo observar fenômenos, buscar causas, associar fatores de risco. Da mesma forma, apenas criam hipóteses, mas não conseguem assegurar causalidade. Assim, se possível, não devem ser usados para promover uma mudança no tratamento de doenças.

Estudos analíticos experimentais, como ensaios clínicos, têm por objetivo avaliar a eficácia de uma intervenção ou de um tratamento. É o melhor desenho de estudo para testar medicamentos, sendo insuperável em seus aspectos teóricos e práticos para provar uma relação causal.

Isso é básico, é a natureza de cada desenho de estudo, cada um nasceu para responder um tipo específico de pergunta. Não se pode inferir a eficácia de um tratamento a partir de um estudo observacional. Isso foge ao seu propósito, assim como ele não tem poder estatístico e metodológico para responder essa pergunta.

O estudo ideal para testar intervenções, como por exemplo, uma medicação para uma determinada doença, é o ensaio clínico randomizado controlado. Esse desenho envolve um grupo intervenção e um grupo controle apresentando, a priori, rígidos critérios de inclusão e exclusão, randomização aleatória para os grupos, assim como muitas outras estratégias para minimizar fatores confundidores (pareamento, estratificação, cegamento, etc.).

O tipo de estudo é somente o começo da análise de um trabalho científico. Muitos outros pontos interferem na qualidade da publicação: metodologia, população incluída, forma de cálculo do tamanho da amostra, instrumentos de pesquisa, validação, estatística, dentre outros detalhes.

Para complementar, trago os quatro princípios que regem a bioética:

    • BENEFICIÊNCIA
    • NÃO MALEFICÊNCIA (ou seja, não basta apenas fazer o bem, mas precisamos também não fazer)
    • JUSTIÇA
    • AUTONOMIA

No nosso meio, onde a informação e desinformação brigam diariamente, é importante lembrar do Artigo 113 do código de ética médica, disponível no site do Conselho Federal de Medicina, que diz:

“É proibido divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente.”

Resumindo:

  • Estudos descritivos e estudos analíticos observacionais não servem para testar medicamentos ou tratamentos;
  • O desenho de estudo padrão para avaliar o tratamento para uma determinada doença é o ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO CONTROLADO;
  • Nós, profissionais de saúde, devemos ter compromisso com a ciência e com a ética em todas as nossas ações.

Referências bibliográficas:

  • Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.
  • HOCHMAN, Bernardo et al. Desenhos de pesquisa. Acta Cirúrgica Brasileira, v. 20, p. 2-9, 2005.
  • Código de Ética Médica: Resolução CFM nº 2.217, de 27 de setembro de 2018. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf
  • CRATO, Aline Nascimento et al. Como realizar uma análise crítica de um artigo científico. Arquivos em Odontologia, v. 40, n. 1, p. 5-18, 2004.

 

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