EuroElso 2019: incidência de complicações neurológicas na ECMO

As complicações neurológicas em pacientes submetidos a ECMO venoarterial são, portanto, comuns e associadas a uma sobrevida pobre.

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O congresso EuroElso 2019, organizado pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO), foi realizado recentemente em Barcelona. As complicações neurológicas da oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) foram grandes destaques da programação do congresso.

Um estudo bastante comentado foi o Neurologic Complications of Extracorporeal Membrane Oxygenation, dos autores Deena Nasr e Alejandro Rabinstein. Neste estudo, publicado em 2015, uma grande base de dados multicêntrica, a Nationwide Inpatient Sample (NIS) do Healthcare Cost and Utilization Project (HCUP) da Agência de Pesquisa e Qualidade em Assistência à Saúde foi utilizada. Esta base de dados representa 20% de todas as altas hospitalares de hospitais não federais nos Estados Unidos. Os pacientes incluídos neste estudo foram selecionados de acordo com o código do procedimento da Classificação Internacional de Doenças 9ª Revisão (CID-9) para ECMO (3965).

Todos os pacientes que receberam ECMO entre 2001 e 2011 foram selecionados a partir desta base de dados. No total, 23.951 pacientes foram incluídos no estudo. O número de pacientes recebendo ECMO aumentou de 1.613 em 2001 para 3.597 pacientes em 2011. O número de pacientes pediátricos recebendo ECMO aumentou de 1.027 a 1.434 neste mesmo período, enquanto o número de pacientes adultos com ECMO aumentou de 309 para 2004. Os dados da idade estavam disponíveis para 21.304 pacientes, que tinham 18,5 ± 56,3 anos, 7.741 (36,3%) tinham menos de 1 mês e 8.398 pacientes (39,4%) tinham ≥ 18 anos.

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A indicação mais comum foi cardiopatia congênita (n = 11.712, 48,9%) seguida por insuficiência respiratória (n = 11.407, 47,6%) e choque (n = 7.369, 30,8%). As indicações mais comuns por faixa etária foram cardiopatia congênita em pacientes com idade <1 mês (86,8%) e com idade entre 1 mês e 1 ano (71,0%). Parada respiratória foi a indicação mais comum em pacientes entre 1 e 17 anos (70,5%), 18 a 64 anos (77,0%) e ≥ 65 anos (66,6%). Dos 23.951 pacientes, 2.604 (10,9%) sofreram complicações neurológicas: convulsão (4,1%), acidente vascular cerebral (AVC) (4,1%), ou hemorragia intracraniana (HIC) (3,6%).

Quando comparados com pacientes sem complicações neurológicas, os pacientes que apresentaram ACV isquêmico agudo tiveram taxas significativamente mais altas de institucionalização (12,2% vs. 6,8%, p<0,0001) e um tempo médio de permanência hospitalar significativamente maior (41,6 dias vs. 31,9 dias, p <0,0001). Pacientes com HIC tiveram taxas significativamente maiores de institucionalização (9,5% vs. 6,8%, p= 0,007), taxas de mortalidade significativamente maiores (59,7% vs. 50,0%, p<0,0001) e um tempo médio de permanência hospitalar significativamente maior (41,8 dias vs. 31,9 dias) em comparação com pacientes sem complicações neurológicas. Estes desfechos não diferiram significativamente entre pacientes com crises convulsivas e pacientes sem complicações neurológicas.

Outro estudo bastante interessante foi o de Lorusso et al. (2016) – In-Hospital Neurologic Complications in Adult Patients Undergoing Venoarterial Extracorporeal Membrane Oxygenation: Results from the Extracorporeal Life Support Organization Registry. O objetivo deste estudo foi elucidar a epidemiologia, perfis de complicações, desfechos hospitalares e fatores predisponentes de complicações do sistema nervoso central (SNC) que ocorrem durante a ECMO venoarterial em adultos. Os autores conduziram uma análise retrospectiva dos registros de 230 centros de ECMO com suporte da ELSO, de 1992 a 2013. Foram incluídos pacientes com mais de 16 anos de idade. Foram avaliados registros de 4.522 pacientes.

A ECMO venoarterial foi utilizada para disfunção cardíaca em 3.005 pacientes (66,5%), ressuscitação cardiopulmonar em 877 pacientes (19,4%) e insuficiência respiratória em 640 pacientes (14,1%). Complicações neurológicas ocorreram em 682 pacientes (15,1%) e incluíram morte encefálica em 358 pacientes (7,9%), infarto cerebral em 161 pacientes (3,6%), convulsões em 83 pacientes (1,8%) e hemorragia cerebral em 80 pacientes (1,8 %). Múltiplas complicações do SNC no mesmo paciente ocorreram em 70 casos. A mortalidade hospitalar em pacientes com complicações do SNC foi de 89%, em comparação com 57% em pacientes sem estas complicações (p <0,001). Neste estudo, a idade, a parada cardíaca, o uso de inotrópicos e a hipoglicemia mostraram-se associados a complicações do SNC.

As complicações neurológicas em pacientes submetidos a ECMO venoarterial são, portanto, comuns e associadas a uma sobrevida pobre. Dessa forma, durante a abordagem de pacientes em ECMO, toda a equipe envolvida na assistência deve estar ciente destas complicações e de que possíveis fatores locais e sistêmicos podem agir no SNC de modo a induzir ou predispor para tais eventos adversos.

Confira outras publicações da EuroElso 2019

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Referências:

  • Nasr DM, Rabinstein AA. Neurologic Complications of Extracorporeal Membrane Oxygenation. J Clin Neurol 2015;11(4):383-389.
  • Lorusso R, et al. In-Hospital Neurologic Complications in Adult Patients Undergoing Venoarterial Extracorporeal Membrane Oxygenation: Results From the Extracorporeal Life Support Organization Registry. Crit Care Med. 2016;44(10):e964–e972.
  • Lorusso R. Extracorporeal life support and neurologic complications: still a long way to go. J Thorac Dis. 2017;9(10):E954–E956.

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