Exame para investigação de câncer de tireoide evitou mais de 50% de cirurgias diagnósticas

Procedimento tem o objetivo de reduzir intervenções desnecessárias, mas não substitui tratamento cirúrgico.

Um novo método apresentado na revista The Lancet Discovery Science, capítulo eBioMedicine, ajudou a evitar 52% de cirurgias em um grupo de mais de 400 pacientes com nódulos de difícil classificação. 

“O diagnóstico de câncer em nódulos de tireoide Bethesda III/IV é desafiador, pois a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) tem limitações e esses casos, geralmente, requerem cirurgia diagnóstica. Como 77% desses nódulos não são malignos, um teste diagnóstico que identifique com precisão nódulos benignos da tireóide pode reduzir as taxas de cirurgias potencialmente desnecessárias”, disse o estudo. 

Os pesquisadores brasileiros avaliaram o desenvolvimento e a validação de um classificador de tireóide baseado em microRNA (mir-THYpe) um teste genético com alta sensibilidade e especificidade, que oferece mais informações sobre as características do nódulo a partir do mesmo material colhido por punção. 

O procedimento pode ser realizado diretamente a partir de lâminas de esfregaço de FNA com o objetivo de apoiar as decisões clínicas e reduzir as taxas de cirurgia. 

“Em casos de câncer de tireoide é realmente necessário fazer um procedimento. O problema é quando realizamos uma cirurgia apenas para ter a certeza de um diagnóstico diferente. Ocorre com frequência de o nódulo ser benigno, mas aí o indivíduo já perdeu a glândula”, avaliou o primeiro autor do estudo, Marcos Tadeu Santos, CEO e fundador da Onkos Diagnósticos Moleculares, em entrevista ao Portal UOL. 

Já esse novo exame é um classificador de tireoide baseado em microRNA, um teste genético que oferece mais informações sobre as características do nódulo a partir do mesmo material colhido por punção. 

médica avaliando tireoide de paciente com possível câncer

Como foi realizado o estudo 

Foi realizado um estudo multicêntrico, prospectivo e do mundo real. Testes moleculares foram realizados com amostras de punção aspirativa por agulha fina (PAAF) preparadas em 128 laboratórios de citopatologia. 

Os pacientes sem indicação de cirurgia foram acompanhados de março de 2018 até a cirurgia ou até março de 2020. O diagnóstico final de amostras de tecido tireoidiano foi obtido a partir de laudos anatomopatológicos pós-cirúrgicos. 

Um total de 435 pacientes (440 nódulos) classificados como Bethesda III/IV foram acompanhados. A taxa de cirurgias evitadas foi de 52,5% para todas as cirurgias e 74,6% para cirurgias potencialmente desnecessárias. 

O teste alcançou 89,3% de sensibilidade, 81,65% de especificidade, 66,2% de valor preditivo positivo e 95% de valor preditivo negativo. O teste apoiou 92,3% das decisões clínicas. 

Segundo Marcos Santos, um ponto importante é que esse exame se concentra em apontar os nódulos benignos, pois não pode haver erro em relação aos malignos. A expectativa é que esse tipo de análise laboratorial contribua para minimizar tratamentos mais agressivos ou cirurgias mais abrangentes. 

Pelo laboratório da Onkos é possível realizar o exame por R$ 4.500. Alguns planos de saúde estão cobrindo o procedimento visando a redução dos custos com exames desnecessários. O próximo passo é conseguir que a técnica seja aprovada e disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Tireoide 

A tireoide é uma pequena glândula em formato de borboleta que fica em frente dos anéis da traquéia, entre o pomo de adão e a base do pescoço, pesando entre 15 e 25 gramas no adulto. Está fixada à laringe por um tecido conjuntivo e se movimenta com a deglutição. 

O órgão produz os hormônios tireoidianos (T3 e T4), responsáveis por diversos controles do organismo, como o armazenamento e a utilização de iodo e cálcio, os batimentos cardíacos, os movimentos intestinais, a capacidade de concentração do cérebro, o tônus da musculatura, a regulação dos ciclos menstruais, do humor e da respiração celular. 

Geralmente, a partir da punção, 60% dos pacientes recebem o resultado benigno, porém em torno de 20% a 30% desses exames deixam margem para dúvida, sendo necessária uma cirurgia.   

“O teste de microRNA se baseia na elucidação de biópsias de nódulos de tireóides, que por método convencional não consegue estabelecer o diagnóstico. Temos, então, duas situações bem específicas: quando a análise citológica da PAAF é classificada como Bethesda III (nódulo com atipias indeterminadas) ou mesmo um Bethesda IV (tumor folicular, podendo benigno/adenoma ou maligno/carcinoma). Nos dois casos, tanto no Bethesda III quanto no Bethesda IV, a cirurgia (tireoidectomia) seguido pela análise anatomopatológica é a única forma de esclarecer esse diagnóstico. E é exatamente nesses casos que o teste genético baseado em microRNA entra em ação, uma vez que consegue acertar o diagnóstico com uma porcentagem muito alta”, disse o coordenador do serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Albert Sabin, Diego Rocha Moreira, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Exame não substitui procedimento cirúrgico

De acordo com o especialista, a grande vantagem do teste genético microRNA é poupar o paciente de uma cirurgia desnecessária. Porém, se o teste mantiver o diagnóstico de câncer, o paciente deverá ser submetido à cirurgia, mesmo depois de ter investido um valor alto na realização do exame. 

Outra questão é que, mesmo sendo um nódulo benigno, o paciente ainda pode continuar com a indicação cirúrgica por outros motivos, como o tamanho ou mesmo sintomas compressivos. 

“No consultório temos utilizado o teste genético de microRNA para pacientes com PAAF Bethesda III/IV que são relutantes à cirurgia ou que têm alto risco cirúrgico, mas que por questões clínicas de base não estão aptos a um procedimento cirúrgico. Assim, podemos evitar a cirurgia que naquele momento pode não ser a melhor opção terapêutica para o paciente”, explicou Diego Moreira.

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