Exercícios físicos realizados de maneira remota funcionam nas doenças reumáticas inflamatórias?

Um estudo avaliou a eficácia de ACC e PEFP realizados de maneira remota para pacientes com doenças reumáticas inflamatórias e fadiga.

Dentre as doenças que fazem parte do grupo das doenças reumáticas inflamatórias, temos a artrite reumatoide, artrite psoriásica, espondiloartrites axiais e lúpus eritematoso sistêmico. A fadiga é um sintoma comum entre todas elas e pode ser extremamente limitante, comprometendo de maneira significativa a qualidade de vida dos pacientes acometidos. 

Uma revisão sistemática da Cochrane demonstrou que intervenções não-farmacológicas, como abordagens cognitivo-comportamentais e exercícios físicos, são capazes de reduzir esse sintoma nos pacientes com artrite reumatoide. No entanto, existe uma grande dificuldade de implementação dessas medidas em larga escala por diferentes motivos, especialmente pela dificuldade de realização de sessões presenciais, com necessidade de deslocamento dos pacientes. Além disso, para agravar ainda mais esse cenário, a pandemia de covid-19 limitou sobremaneira esse tipo de tratamento presencial.

Com base nisso, Bachmair et al. desenvolveram um estudo para avaliar a eficácia de abordagens cognitivo-comportamentais (ACC) e de programas de exercícios físicos personalizados (PEFP) realizados de maneira remota, via telefone, para pacientes com doenças reumáticas inflamatórias e fadiga.

doenças reumáticas

Métodos

Trata-se de um estudo multicêntrico, randomizado, controlado e aberto, realizado em seis centros secundários de reumatologia na Inglaterra e Escócia. Para serem incluídos, os pacientes deveriam ter 18 anos ou mais, com diagnóstico de doença reumática inflamatória e apresentar fadiga persistente (> três meses) e clinicamente significativa (seis ou mais pontos em uma escala visual analógica de fadiga de 0 a 10, nos últimos sete dias). Foram excluídos pacientes com doença instável (troca de terapia imunossupressora nos últimos três meses), presença de causa médica reversível e capaz de justificar a fadiga (por exemplo, anemia grave) e presença de condição médica capaz de limitar as intervenções (por exemplo, doença cardíaca grave). 

Os participantes foram randomizados na proporção 1:1:1 para receber as seguintes intervenções: ACC remota + terapia padrão, PEFP remota + terapia padrão e terapia padrão isolada. Os objetivos co-primários foram a variação na escala de fadiga de Chalder e escala de gravidade de fadiga (FSS). Vários desfechos secundários foram analisados. A amostra foi calculada em 375 participantes no total, já contabilizando as potenciais perdas (número necessário de 300 para poder de 90%). 

Os protocolos adotados foram publicados previamente em outro estudo. O tempo de acompanhamento total foi de 56 semanas. 

Resultados

Foram incluídos 367 participantes (124 no PEFP, 121 no ACC e 122 no grupo terapia padrão), em sua maioria do sexo feminino (75%) com idade média de 57,5 (desvio padrão 12,7) anos. A fadiga na escala visual analógica foi de 7,4 para o PEFP e 7,3 nos outros dois grupos. Após as perdas, o número de participantes foi superior aos 300 programados para um poder de 90%. 

Ambos os grupos PEFP e ACC remotos resultaram em melhores escores de fadiga medidos pelo Chalder (PFEP: diferença média ajustada –3,03 [IC97,5% –5,05 a –1,02], p=0,0007; ACC: diferença média ajustada –2,36 [–4,28 to –0,44], p=0,0058) e pelo FSS (PFEP: diferença média ajustada –0,64 [–0,95 a –0,33], p<0,0001; ACC: diferença média ajustada –0,58 [–0,87 a –0,28], p<0,0001), quando comparados com a terapia padrão, na semana 56 de seguimento.

Leia também: É possível utilizar aplicativos de smartphone para avaliar pacientes com artrite reumatoide?

Comentários

Esse estudo traz resultados interessantes, demonstrando que intervenções psicológicas e programa de exercício personalizado oferecido via telefone é capaz de melhorar a fadiga em pacientes com doenças reumáticas. As diferenças observadas foram tanto estatística quanto clinicamente significativas. 

Em um cenário crescente de teleatendimentos no Brasil, esse tipo de abordagem pode ser oferecido de maneira segura e eficaz. Isso pode nos auxiliar muito na maior adesão dos pacientes a esse tipo de terapia não farmacológica, melhorando os desfechos relatados pelos pacientes. 

No entanto, devemos estar atentos para as limitações desse métodos ao oferecê-los aos nossos pacientes.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bachmair E-M, Martin K, Aucott L, et al. Remotely delivered cognitive behavioural and personalised exercise interventions for fatigue severity and impact in inflammatory rheumatic diseases (LIFT): a multicentre, randomised, controlled, open-label, parallel-group trial. Lancet Rheumatol. 2022;4:e534-45. 

Especialidades