Existe benefício no tratamento cirúrgico da radiculopatia lombar?

A radiculopatia lombar, também conhecida como ciática, é uma síndrome dolorosa por irradiação acometendo o território de uma raiz nervosa.

A radiculopatia lombar, também conhecida como ciática, é uma síndrome dolorosa por irradiação acometendo o território de uma raiz nervosa. Pode cursar com déficit sensitivo ou motor ou mesmo apenas dor.

A compressão radicular ocorre mais frequentemente por hérnias de disco ou alterações degenerativas na região lombar embora também possa ser causada por processos infecciosos, neoplásicos, inflamatórios, doenças vasculares ou alterações congênitas.

A prevalência desta condição varia de 1,6-13,4% sendo maior em homens entre 45-64 anos embora possa ocorrer em outras idades. É uma causa frequente de atendimento médico.

O tratamento pode envolver manejo cirúrgico para tratar da causa subjacente ou uso de métodos não cirúrgicos para tratamento sintomático.

médicos cirurgiões realizando cirurgia para radiculopatia lombar

Radiculopatia lombar

Recentemente, uma revisão sistemática publicada analisou estudos entre 2007-2019 comparando resultados da abordagem cirúrgica e do tratamento conservador da radiculopatia lombar.

Foram selecionados artigos nas plataformas PubMed, Cochrane e clinicaltrials.gov. Os critérios de inclusão utilizados foram estudos em língua Inglesa, ensaios clínicos controlados ou randomizados envolvendo etiologia não relacionada a infecções, neoplasias, lesões traumáticas ou congênitas.

Leia também: Lombalgia: atualização sobre o manejo de pacientes com dor lombar

Foram analisadas as seguintes intervenções cirúrgicas: discectomia, laminectomia, laminotomia, foraminectomia, nucleotomia, nucleoplastia envolvendo micro acessos ou acessos minimamente invasivos. As estratégias conservadoras avaliadas foram: fisioterapia, tratamento farmacológico, manipulação espinhal, tratamento quiroprático e estratégias combinadas.

Os estudos selecionados envolviam avaliação da melhora da dor, melhora funcional, sintomas neurológicos, retorno ao trabalho, qualidade de vida, complicações pós cirúrgicas, reoperações, segurança, custos de tratamento e uso de opioides.

Os parâmetros selecionados foram avaliados em curto (menos de 12 semanas), médio e longo prazo (mais de 52 semanas).

Resultados

Foram encontradas 1954 citações, das quais após revisão de título e resumo foram excluídos 1717, e 225 após revisão completa do texto, sobrando 12 artigos referentes a oito estudos. Dos trabalhos selecionados sete abordavam eficácia, sete segurança e três custos de tratamento.

Os resultados revisados evidenciaram melhora dos parâmetros em curto a médio prazo com as estratégias cirúrgicas, mas não evidenciaram diferenças a longo prazo. A cirurgia reduziu a dor nas pernas em 6-26 pontos a mais do que intervenções não cirúrgicas medidas numa escala visual analógica de 0 a 100 pontos de dor considerando até 26 semanas de acompanhamento. Diferenças entre os grupos não persistiram em um ano ou mais.

Melhorias na função física e incapacidade foram pequenas a curto e médio prazo e semelhantes no longo prazo. As diferenças na Qualidade de vida não foram encontradas a curto e médio prazo, e foram inconsistentes a longo prazo (evidência insuficiente). Sintomas neurológicos e retorno ao trabalho não foram diferentes em nenhum momento.

Veja mais: Dor lombar na sala de emergência: indicações de imagem

As estratégias cirúrgicas se mostram seguras. As principais complicações envolveram lesões durais, entretanto, a incidência destas complicações é baixa e complicações maiores envolvendo mortes não ocorreram nos estudos. A eficácia de custos do tratamento cirúrgico foi intermediária podendo não ser efetiva para o paciente, o custo médio por ano de vida ajustado à qualidade foi de U$51.150-86.322.

Existem limitações na revisão analisada. Dos estudos utilizados, cinco apresentam alto risco de viés incluindo métodos inadequados de ocultação aleatória ou de alocação, falta de cegamento, atrito e crossover.

Em resumo , as estratégias cirúrgicas se mostraram eficientes a curto e médio prazo para melhora da dor, mas não a longo prazo. Os demais parâmetros analisados apresentaram pouca diferença quanto as estratégias comparadas. A cirurgia se mostrou segura e com custo intermediário a ser avaliado como benéfico ou não pelo usuário.

Referências bibliográficas:

  • Clark, R., Weber, R.P. & Kahwati, L. Surgical Management of Lumbar Radiculopathy: a Systematic Review. J GEN INTERN MED (2019) doi:10.1007/s11606-019-05476-8
  • Hsu PS, Armon C, Levin K. Acute Lumosacral Radiculopathy: Pathophysiology, Clinical Features, and Diagnosis. Waltham, MA: UpToDate Inc.; 2017.
  • Konstantinou K, Dunn KM. Sciatica: review of epidemiological studies and prevalence estimates. Spine. 2008;33(22):2464-2472.
  • Tosteson AN, Skinner JS, Tosteson TD, et al. The cost effectiveness of surgical versus nonoperative treatment for lumbar disc herniation over two years: evidence from the Spine Patient Outcomes Research Trial (SPORT). Spine. 2008;33(19):2108-2115.
  • van den Hout WB, Peul WC, Koes BW, Brand R, Kievit J, Thomeer RT. Prolonged conservative care versus early surgery in patients with sciatica from lumbar disc herniation: cost utility analysis alongside a randomised controlled trial. BMJ (Clinical Research ed). 2008;336(7657):1351-1354.
  • Anderson JL, Heidenreich PA, Barnett PG, et al. ACC/AHA statement on cost/value methodology in clinical practice guidelines and performance measures: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Performance Measures and Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2014;129(22):2329-2345.
  • Neumann PJ, Cohen JT, Weinstein MC. Updating costeffectiveness—the curious resilience of the $50,000-per-QALY threshold. The New England Journal of Medicine. 2014;371(9):796-797. 25.
  • National Guideline Centre. National Institute for Health and Care Excellence: Clinical Guidelines. In: Low Back Pain and Sciatica in Over 16 s: Assessment and Management. London: National Institute for Health and Care Excellence; 2016.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.