Existe relação entre saúde mental e o controle da asma em crianças com asma grave?

Um estudo avaliou a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão em crianças em um ambulatório multidisciplinar de asma grave.

A asma é a doença respiratória crônica mais comum da infância. Apesar de a asma grave representar apenas 5-10% dos casos, ela impacta em uma morbidade e custo de saúde significativamente maiores. Sabe-se que está frequentemente associada a comorbidades e que a presença de doenças psiquiátricas está relacionada ao aumento da gravidade de sintomas e pior qualidade de vida em crianças asmáticas.

Um estudo recente, publicado na Pediatric Pulmonology, avaliou a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão em crianças do ambulatório multidisciplinar de asma grave do Boston Children’s Hospital, e sua associação com o controle da asma e a função pulmonar.

criança usando bombinha de asma grave

Controle da asma grave e saúde mental

O ambulatório recebe pacientes encaminhados por alergista ou pneumologista pediátricos ou por intensivista após internação por crise asmática ameaçadora à vida. Foram incluídos pacientes com idade a partir de 4 anos.

Métodos

Todas as crianças que compareceram ao ambulatório de Março de 2017 a Dezembro de 2019 foram encorajados a completar um questionário de controle dos sintomas de asma – Asthma Control Test (ACT) ou sua versão para crianças (cACT) – e a um questionário de rastreio de depressão e ansiedade (Patient Health Questionnaire – PHQ-4).

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No ACT, o paciente responde a cinco perguntas sobre como percebeu sua asma nas quatro semanas anteriores, com cinco alternativas para cada pergunta:

  1. A asma prejudicou suas atividades no trabalho/escola/casa?
  2. Como está o controle da sua asma?
  3. Quantas vezes você teve falta de ar?
  4. A asma acordou você à noite ou mais cedo do que de costume?
  5. Quantas vezes você usou o remédio para inalação de alívio?

A pontuação final pode variar de 5 a 25. Considera-se a asma controlada quando a pontuação é > 9.

Já no PHQ-4, o paciente responde a quatro perguntas sobre com que frequência nas últimas duas semanas:

  1. Sentiu-se nervoso, ansioso ou muito tenso?
  2. Sentiu não ser capaz de impedir ou controlar as preocupações?
  3. Sentiu-se pra baixo, deprimido ou sem perspectiva?
  4. Sentiu pouco interesse ou pouco prazer em fazer as coisas?

Cada item é pontuado de 0 a 3 conforme a frequência dos sintomas. Consideram-se normais resultados totais de 0 a 2.

Os pacientes foram também submetidos à espirometria para avaliação da função pulmonar.

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Resultados e conclusões

Foram coletados dados de 93 visitas de 43 pacientes, com idade média de 11,7 anos. Ao menos um sintoma de ansiedade ou depressão foi identificado em 58% dos participantes, e 18,6% tiveram PHQ-4>2.

Não houve diferença na distribuição de escores de ACT entre os sexos. No entanto, a média do ACT para meninas com PHQ4 > 2 foi 7 pontos mais baixa que em meninas com PHQ-4 ≤ 2 (p=0,01). A mesma diferença não foi verificada em meninos. Além disso, o ACT médio de meninos com PHQ-4>2 foi 4,2 pontos maior que de meninas com PHQ-4>2 (p=0,03). Desta forma, o estudo sugere que, em crianças com asma grave, exista uma diferença da relação entre transtornos psicológicos e a percepção do controle da asma entre os sexos.

Apenas no sexo feminino a presença de sintomas de ansiedade/depressão se correlacionou com pior controle percebido da asma. Apesar de outros estudos já terem sugerido um papel hormonal na diferença de função pulmonar e controle da asma em adolescentes com asma grave, os mecanismos pelos quais os diferentes sexos podem influenciar a relação de asma-saúde mental ainda não são claros.

Ao avaliar a função pulmonar, não houve correlação significativa dos escores de PHQ-4 com sinais de obstrução do fluxo aéreo (volume expiratório forçado no primeiro segundo/capacidade vital forçada – VEF1/CVF), apesar de uma associação não esperada deste escore com o VEF1. Isto sugere que a ansiedade e a depressão afetem principalmente a percepção do controle da asma. Sabe-se que pacientes asmáticos com ansiedade/depressão apresentam mais visitas à emergência e podem ter percepção alterada de dispneia.

No entanto, há um efeito bidirecional das duas patologias, uma vez que a asma pode desencadear pensamentos ansiosos, que impactam o autocuidado e estimulam a hiperventilação, levando a um ciclo vicioso. Além disso, hoje as pesquisas descrevem diferentes fenótipos da asma, sendo possível que alguns estejam relacionados a maior risco de ansiedade e depressão.

Portanto, devemos estar atentos às doenças psiquiátricas como comorbidades potencialmente modificáveis na asma grave ou de difícil controle. O diagnóstico e tratamento de ansiedade e depressão nestes pacientes podem ser favoráveis para a qualidade de vida, não só pelo benefício para saúde mental, quanto por melhorar a percepção e controle dos sintomas de asma.

Referência bibliográfica:

  • Griffiths D, Giancola LM, Welsh K, MacGlashing K, Thayer C, Gunnlaugsson S, Stamataidis NP, Sierra GC, Hammond A, Greco KF, Simoneau T, Baxi SN, Gaffin JM. Asthma Control and Psychological Health in Pediatric Severe Asthma. Pediatr Pulmonol. 2020 Oct 15. doi: 10.1002/ppul.25120. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ppul.25120?af=R

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