Experiências de licença maternidade de mães médicas

Com o aumento na proporção de mulheres médicas, os fatores que envolvem a saída e o retorno delas de uma licença maternidade requerem uma atenção cuidadosa.

Com o aumento substancial na proporção de mulheres que se formam em Medicina, os fatores que envolvem a saída e o retorno delas de uma licença maternidade requerem uma atenção cuidadosa.

No caso de Clarissa Gutiérrez Carvalho, professora de pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tirou seis meses de licença em decorrência de complicações da gestação gemelar, que resultaram em um parto prematuro, o saldo do retorno foi positivo.

“Gosto de trabalhar no que faço, de estar em contato com os meus colegas de profissão, com meus alunos, do desafio intelectual do dia a dia. Como sou servidora federal, tive direito a licença integral, e não fui prejudicada quando retornei ao meu emprego”, conta Clarissa Carvalho.

Na opinião de Clarissa, o tempo de licença maternidade não foi suficiente devido às características pessoais do seu caso. “Acredito que uma gestação de gêmeos deveria ter direito a ganhar o dobro de tempo de uma licença maternidade comum, pois são bebês completamente diferentes e que exigem mais por terem sido prematuros”, diz a pediatra.

Para a médica, o lado do negativo do retorno ao trabalho é a dependência da babá para cuidar dos bebês e o fato de atuar em uma unidade com crianças muito doentes. “Com isso, acabo levando um pouco dessa carga mental para casa e, talvez, neurotizando os meus filhos. Além disso, é complicado ter que, eventualmente, recusar trabalhos e reuniões ser em horário em que fico sem babá”, relata Clarissa Carvalho.

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Já para a cardiologista Rachel Mattos, que tem um consultório particular e atua com rotina médica de um serviço de cardiologia da unidade coronariana de um hospital particular, o retorno ao trabalho após quatro meses e meio de licença maternidade foi mais complicado por ter que interromper o aleitamento exclusivo de leite materno.

“Além de ter que organizar a logística da bebê em casa, tive que interromper o aleitamento exclusivo de leite materno, fazer a adaptação da bebê com a babá, além da questão do leite dos horários. Na primeira gravidez, consegui ficar seis meses em casa e coloquei meu filho em uma creche, o que facilitou na questão do horário”, conta Rachel Mattos

A cardiologista destaca a falta de um lugar para tirar o leite e armazená-lo, comprometendo a produção de leite durante o horário de trabalho.

 

Outra questão complicada é a cobrança que a médica sente em ter que participar de eventos, de palestras e de se atualizar, e nesse retorno, com uma bebê ainda pequena, não está conseguindo fazer.

“Além de todas essas dificuldades, o médico não consegue ficar de licença totalmente, não é verdade? Isso porque temos que dar suporte aos nossos pacientes por telefone, quando precisam. Durante essa licença maternidade, tive até que visitar um paciente em estado grave no hospital”, diz Rachel Mattos, que reduziu sua carga horária em 40% depois da primeira gravidez.

Estudo avalia experiências de médicas na licença maternidade

Um estudo publicado recentemente no Journal of the American Medical Association (JAMA) Network realizou uma avaliação das experiências de médicas que tiraram licença maternidade e depois retornaram ao trabalho.

A pesquisa foi desenvolvida usando um processo com um painel de especialistas para caracterizar as licenças médicas de mães e experiências de retorno ao trabalho, abrangendo experiências negativas e positivas de mães médicas para cada criança que elas conceberam ou adotaram após a escola médica para identificar áreas de mudança e estratégias para apoiar com êxito os pais médicos.

Metodologia aplicada

Este estudo transversal de uma pesquisa nacional dos Estados Unidos, avaliando as experiências de 844 mães médicas, foi administrado eletronicamente via REDCap de 2 de setembro a 20 de dezembro de 2018.

Dos 1.465 participantes potencialmente elegíveis da pesquisa, 844 (57,6%) foram verificados como participantes únicos com pesquisas completas. A média de idade (DP) foi de 35,8 (5,2) anos (variando de 27 a 67 anos), com a maioria das mulheres (826 [97,9%]) atualmente praticando e 138 mulheres (16,4%) atualmente em um programa de residência. Os participantes foram incluídos em 19 grupos de subespecialidades. Das mulheres pesquisadas, 619 (73,3%) consideraram que o tempo de férias era insuficiente. A maioria (751 [89,0%]) teria preferido 11 semanas a 6 meses de férias versus as 5 a 12 semanas (geralmente não pagas) mais comumente disponíveis.

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As experiências negativas relatadas com mais frequência ao retornar ao trabalho foram associadas à falta de instalações para bombeamento de mama, com variação de 12 de 78 [15,4%] no terceiro filho a 272 de 844 [32,2%] no primeiro filho e tempo de mama bombeamento (alcance, 27 de 78 [34. 6%] para o terceiro filho, de 407 de 844 [48,2%] para o primeiro filho, dificuldade em obter assistência à infância (por exemplo, para o primeiro filho, 298 de 844 [35,3%]) e discriminação (por exemplo, para o primeiro filho) 152 de 844 [18,0%]). A experiência positiva mais comum foi apoio emocional (por exemplo, para o primeiro filho, 504 de 844 [59,7%], principalmente de colegas.

Conclusões

Foi mostrado que um número substancial de mulheres médicas trabalhando em uma variedade de especialidades em todos os níveis de treinamento nos Estados Unidos precisava e desejava mais apoio à maternidade sair e voltar ao trabalho.

O apoio no nível institucional, como licença remunerada, tempo adequado para bombear a mama sem penalidade, assistência infantil no local e flexibilidade de horários, provavelmente forneceria a maior assistência direta para ajudar as mães médicas a prosperarem em suas carreiras.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referência bibliográfica:

  • Juengst SB, et al. Family Leave and Return-to-Work Experiences of Physician Mothers. JAMA Netw Open. 2019;2(10):e1913054. doi:10.1001/jamanetworkopen.2019.13054

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