Explantação de próteses mamárias: existe benefício?

Desde o início do uso de implantes mamários de silicone, admitia-se que alguns pacientes poderiam desenvolver sintomas relacionados à presença da prótese.

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Desde o início do uso de implantes mamários de silicone nos anos 60, admitia-se que alguns pacientes poderiam desenvolver sintomas relacionados à presença da prótese. Até hoje esse tema é atual e causa polêmica, especialmente depois da descrição do linfoma de células anaplásicas ligado ao implante.

Alguns pacientes com implante podem desenvolver sintomas inespecíficos como artralgia, mialgia, fadiga, olho seco, distúrbios de memória, insônia, dificuldade de concentração, síndrome de Raynaud, intestino irritável, alergias e doenças autoimunes. Esse conjunto de sintomas recebe nomes variados: siliconose, doença adjuvante da mama e mais recentemente ASIA devido à síndrome de incompatibilidade do implante de silicone (SIIS).

Na busca para melhorar os sintomas desses pacientes a explantação é sugerida, mas esse procedimento melhora os sintomas? Fizemos uma pesquisa na literatura em artigos no PubMEd, Medline e Embase.

médico explicando os prós e contras da explantação de próteses mamárias

Explantação de prótese mamárias

Chan et al. descreveram um paciente com artralgias e fadiga, que surgiram 7 anos após o aumento da mama com implantes mamários de silicone. A triagem laboratorial mostrou marcadores inflamatórios aumentados, como taxa de sedimentação elevada, anticorpos ANA positivos e anti-cardiolipina IgG. Foi feito o diagnóstico de uma doença inflamatória não especificada e iniciado o tratamento com metotrexato e esteroides. O ultrassom da mama mostrou um implante esquerdo com ruptura. A paciente optou por substituir os implantes mamários por novos preenchidos com gel de silicone. Logo após a cirurgia, ela desenvolveu uma erupção cutânea. Posteriormente, os implantes mamários foram removidos. Dez semanas depois, o metotrexato e a prednisolona puderam ser interrompidos e a paciente apresentou resolução completa de seus sintomas e resposta inflamatória.

Jara et al. apresentaram um relato de caso e discutiram outros três pacientes que desenvolveram a doença de Still após o implante de silicone. Todos os quatro pacientes foram submetidos à remoção do implante e apresentaram melhora. No entanto, todos  receberam terapia adicional, como esteroides, imunoglobulinas intravenosas, azatioprina ou metotrexato. Três dos quatro pacientes permaneceram dependentes de esteroides durante o seguimento a longo prazo.

Vasey et al. apresentaram 50 pacientes com implantes mamários de silicone com achados como fadiga, mialgias, artralgias e linfadenopatia. Destes, 33 mulheres foram submetidas à remoção do implante. Durante um período de observação de 14 meses, as queixas não mudaram nos 17 pacientes sem explante, enquanto nos pacientes com explante, 24 mulheres melhoraram (sem sintomas), 8 não mudaram e, em apenas um os sintomas pioraram após acompanhamento médio de 22 meses.

Rohrich et al. avaliaram prospectivamente a eficácia do explante de implantes mamários de silicone em 38 mulheres com queixas como artralgia e fadiga. A autoavaliação do estado de saúde foi realizada no pré-operatório e 6 semanas e 6 meses no pós-operatório. Além disso, o clínico geral avaliou o estado de saúde dos pacientes. Após o explante, os pacientes apresentaram melhora da artralgia, além de aumento da vitalidade, saúde mental e satisfação da área corporal quando comparadas às medidas pré-operatórias.

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Conclusão

Se o silicone pode provocar uma resposta inflamatória ou autoimune tem sido objeto de debate desde a introdução dos implantes mamários de silicone. Não há evidências conclusivas que comprovem que os implantes de silicone são seguros ou não, assim como não há comprovação de que a simples retirada dos implantes melhore esses sintomas gerais sem terapia adjuvante. Além disso, a prevalência exata de queixas em pacientes com implantes mamários de silicone é desconhecida.

Vários estudos implicaram que não há risco aumentado de desenvolver doenças autoimunes após a inserção de implantes mamários de silicone. Portanto, a FDA suspendeu a proibição desses implantes em 2004. O crescente diagnóstico da síndrome ASIA e do linfoma de células anaplásicas ligados à capsula dos implantes (BIA-ALCL) tem despertado interesse da comunidade científica internacional e preocupação dos pacientes. Removendo o estímulo nociceptivo com a retirada dos implantes pode explicar a melhora de alguns sintomas provocados por preocupação extrema com a presença das próteses.

Embora não exista nenhuma recomendação médica para retirada de implantes mamários, essa solicitação tem sido frequente em nossa clínica.

Não há muitos trabalhos sobre o tratamento cirúrgico pós-explantação, porque os casos são muito diferentes e uma avaliação individual é imprescindível para discutir técnicas de reconstrução da mama após a remoção dos implantes, a real necessidade de removê-los e possíveis consequências psicológicas dessa cirurgia.

Bom senso é fundamental e muita cautela deve ser empregada até que mais estudos conclusivos sejam publicados.

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