Explorando emoções e percepções do paciente

Na terceira publicação da série Comunicação Médica, abordamos a importância da valorização das emoções na relação médico e paciente.

Em um contato entre o médico e o paciente, a interação entre ambos é o ponto singular do processo do cuidado na medicina. Seja no ambiente turbulento de uma emergência seja no conforto de um consultório — a medicina se faz presente, fluindo pelo diálogo e troca de emoções entre médico e paciente. 

 

A queixa principal do paciente pode não ser relacionada à sua doença 

Na busca por ajuda, o paciente muitas vezes traz um turbilhão de emoções, por vezes desconexas, que podem ser a queixa principal da consulta. Não raramente elas compõem para o paciente um sofrimento tão grande quanto a alteração orgânica que está gerando os sintomas clínicos. 

Um grande problema pode ocorrer quando essas emoções deixam de ser valorizadas em uma consulta. Inicialmente fragiliza a formação do vínculo, o que culmina no sentimento de incerteza do paciente sobre a capacidade de cuidado e atenção daquele médico com suas necessidades de saúde. Isso pode evoluir com o afastamento entre os dois e a consequente desvalorização das recomendações e intervenções terapêuticas propostas pelo médico. 

É fácil notar as consequências drásticas que um problema na formação de vínculo pode gerar. Valorizar as emoções e percepções que o paciente traz sobre seu adoecimento são essenciais para realmente extrair o que ele mais precisa ao procurar atendimento. 

Saiba mais: Representações sociais dos sentimentos vivenciados pela pessoa com neoplasia

 

Um exemplo real para ilustrar o contexto das emoções

Uma jovem de 23 anos procura atendimento muito ansiosa pois tinha medo de que algumas de suas manchas de pele pudessem ser um melanoma. Na história e no exame clínico dermatológico são evidenciadas apenas lesões simples, sem gravidade. No entanto, aprofundando o vínculo ficou perceptível que o contexto emocional da jovem estava abalado pela perda recente de uma vizinha que foi diagnosticada com melanoma.

Em sua trajetória, ela já havia passado por mais de três médicos, que afirmavam o caráter benigno das lesões, mas que não aprofundaram o contexto emocional que gerava tensão – por consequência, não foi gerado nenhum vínculo. Essa questão foi resolvida após breve conversa sobre o contexto clínico do melanoma que a vizinha apresentou e como isso não se encaixava na sua história e nos seus sintomas. 

No caso dessa paciente, o centro de sua queixa e procura médica não eram simplesmente as lesões cutâneas, mas sim sua percepção e emoções de temor e gravidade por conhecer um caso grave. Caso essa percepção não fosse explorada e entendida, não seria possível um diálogo para esclarecer e, muito menos, para aliviar o medo que sentia. 

 

Mensagem final

Fica evidente como explorar as emoções e percepções do paciente é essencial na entrevista clínica. No entanto, não existe uma “receita de bolo” para que o processo seja bem sucedido. É fundamental basear o atendimento em uma relação empática, deixando claro que está interessado e se preocupa com a história do paciente, além de realizar uma escuta atenta, permitindo que o próprio paciente expresse seus anseios e subjetividades.

Durante esse diálogo, deve ser dada atenção para a linguagem corporal, se expressando de forma objetiva e clara, reforçando para o paciente que percebeu suas dores e emoções e que está pronto para ajudar no que for preciso. Basta mostrar que está disposto a curar, aliviar e consolar. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Decety J. Empathy in Medicine: What It Is, and How Much We Really Need It. Am J Med. 2020 May;133(5):561-566. doi: 10.1016/j.amjmed.2019.12.012. Epub 2020 Jan 15. PMID: 31954114.
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