Fatores de risco para hipotermia perioperatória

Durante anestesias em cirúrgia, constatou-se que 20% dos pacientes apresentam hipotermia no período perioperatório. Quais fatores influenciam?

O organismo humano possui um sistema termorregulador que mantém a temperatura corporal em torno de 37 °C a fim de manter o metabolismo basal eficaz. Durante um procedimento anestésico cirúrgico, foi constatado que 20% dos pacientes apresentam hipotermia no período perioperatório, principalmente causada pela ação direta das drogas anestésicas e pelo resfriamento do ambiente cirúrgico, e que 60% evoluem para hipotermia no período pós-operatório.

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Hipotermia pós-operatória pode ter sua causa em efeitos dos medicamentos anestésicos

Causas para hipotermia

As drogas anestésicas atuam no centro de termorregulação, inibindo respostas ao frio como vasoconstrição e tremores musculares. Além de possuírem ação vasodilatadora. Quando ocorre o fim da anestesia, a interrupção da infusão das drogas e a diminuição da concentração das mesmas no SNC faz com que o mecanismo de termorregulação tenda a voltar ao normal, porém muitas drogas possuem efeito residual e meia vida longa, fazendo com que se prolongue a eficácia do mecanismo de regulação.

A hipotermia é considerada quando se atinge temperaturas abaixo de 36 °C e pode ser leve (34 °C -36 °C), moderada (30 °C-34 °C) ou grave (abaixo de 30 °C). E leva a diversas complicações pós-operatórias como alterações cardiovasculares, coagulopatias, aumento do risco de infecção, alterações hidroeletrolíticas, entre outras.

Apesar de todas essas evidências, ainda não é de costume utilizar rotineiramente monitorização para aferição de temperatura durante os procedimentos cirúrgicos. O diagnóstico precoce e utilização de medidas de aquecimento durante o ato cirúrgico é fundamental para que se evite complicações futuras.

Fatores de risco

Dentre os fatores de risco para a hipotermia os mais importantes estão relacionados a própria técnica anestésica. Estudos demonstraram que técnicas combinadas como anestesia geral e bloqueio de neuroeixo concomitante são mais propícias a desencadear hipotermia do que técnicas isoladas. Sendo a anestesia geral a de menor risco. Isso se deve a combinação dos efeitos diretos das drogas no centro termorregulador somado a ação vasoconstritora dos bloqueios espinhais.

O uso de opioides também tem íntima relação com a hipotermia intraoperatória, uma vez que agem no hipotálamo, quando administrados por via venosa, exercendo efeitos farmacológicos nos receptores mu do centro termorregulador assim como através dos receptores kappa periféricos da medula espinhal em bloqueios de neuroeixo.

A idade também é um fator de risco para a hipotermia. Pacientes idosos possuem uma resposta ineficaz ao calor, resposta vasoconstritora diminuída, menos massa muscular assim como menor capacidade de produzir calor.

Fatores relacionados a cirurgia como tempo cirúrgico prolongado, cirurgias abertas, sangramento, maior exposição ao ambiente frio e mecanismos de irrigação contínua no pós-operatório, contribuem para o estabelecimento de hipotermia e sua perpetuação no período pós operatório.

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Sendo assim, a diminuição dos fatores de risco somados a aferição de rotina da temperatura nos pacientes cirúrgicos, principalmente durante a primeira hora do procedimento cirúrgico é fundamental para se evitar a queda da temperatura durante a cirurgia e consequentemente evitar as complicações pós-operatórias relacionadas a hipotermia. Uso de cobertores e colchões térmicos, infusões aquecidas e aumento da temperatura do ambiente cirúrgico são medidas de suporte eficazes para manter o paciente aquecido. Essas medidas também devem ser mantidas durante o tempo em que o paciente permanece no SRPA, uma vez que grande parte dos pacientes apresenta, queda da temperatura no período pós operatório também.

Referências bibliográficas:

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