Arboviroses e Covid-19 no Brasil: um combo preocupante

Covid-19 é a primeira opção diagnóstica em pacientes que chegam com febre na emergência, mas existem outras possibilidades. Saiba mais.

“Paciente de 38 anos, sem comorbidades prévias, comparece à emergência com queixa de febre há 2 dias, cefaleia e mialgia. Foi solicitado o swab nasal para Covid-19 e o hemograma estava sem alterações. Recebeu alta com orientações. 

Após 4 dias, o paciente retorna com rash maculopapular pruriginoso em tronco e membros, Hemograma com hematócrito de 49%, hemoglobina de 16,6g/dL, leucócitos 6 mil/µL e plaquetas 50000/µL. PCR para Covid negativo.

O caso ocorreu em Manaus, área endêmica para diversas arboviroses. A sorologia revelou que se tratava de um caso de Dengue. Felizmente, o paciente recebeu hidratação e evoluiu com melhora da plaquetopenia em alguns dias, sem maiores complicações.”

Quiz: lactente, dois anos, tosse e febre. O que é? 

Em tempos de pandemia, obviamente a Covid-19 vai sempre ser uma das primeiras opções diagnósticas em pacientes que chegam com febre na emergência. Porém, as outras doenças continuam acontecendo e não podemos nos esquecer de colher uma boa história, examinar e fazer os diagnósticos diferenciais. 

febre e covid-19: nem sempre são sinônimos

Arboviroses e Covid-19

O Brasil está localizado em uma área geográfica tropical com doenças arboviroses relevantes, o que traz a preocupação com relação à sobreposição de curvas de arbovírus e Covid-19, que sobrecarregam nosso sistema de saúde pública. Além disso, Dengue, Zika, Chikungunya e Covid-19 acabam tendo características clínicas semelhantes, o que pode retardar o diagnóstico e dificultar a correta abordagem dos casos. 

Outro ponto que podemos destacar são resultados falso‐positivos em testes sorológicos para dengue, que posteriormente foram confirmados como Covid‐19. Este combo de doenças demanda atenção urgente, uma vez que culminam em impactos graves e devastadores no sistema de saúde. O médico no plantão, principalmente em áreas endêmicas, precisa estar atento para realizar o diagnóstico diferencial.

Vale lembrar, que para as arboviroses, como dengue que pode evoluir para casos graves, deve-se estar bastante atento a sinais de hemorragia, choque e caprichar na hidratação. Já para Covid-19, a preocupação maior é com a evolução para quadro de insuficiência respiratória. A abordagem precoce de forma correta pode ser o diferencial para o desfecho dos casos. 

Pode ocorrer a coinfecção entre arboviroses e Covid-19?

Além do diagnóstico diferencial, sempre existe a possibilidade de coinfecções pela Covid-19 e arboviroses, como foi descrito em alguns artigos já publicados. 

Coinfecções com diferentes patógenos podem resultar em consequências complexas e imprevisíveis sobre a gravidade. A literatura sugere que as coinfecções com gripe e dengue podem estar associadas a maior gravidade. As primeiras 24 a 48 horas são importantes devido aos sinais semelhantes antes da diferenciação clínica das diferentes doenças.

Como diferenciar todas essas síndromes febris?

No contexto da cocirculação de vírus potencialmente fatais, é fundamental colher uma boa história e fazer um exame físico pensando nos diagnósticos diferenciais. É importante também solicitar um diagnóstico laboratorial combinado (Covid-19-dengue-zika-chikungunya) para pacientes ambulatoriais e pelo menos um laboratório básico, incluindo hemograma completo, enzimas hepáticas, proteína C reativa, proteína sérica, creatinina e eletrólitos. 

Vale lembrar também que devemos ficar atentos aos sinais de alarme tanto nos pacientes em consultas ambulatoriais quanto nos acompanhamentos por telemedicina. Quais seriam eles? Em geral, vamos nos preocupar com os pacientes que apresentem dispneia, cianose, dor abdominal intensa e contínua; vômitos persistentes; hipotensão postural e/ou lipotímia; hepatomegalia dolorosa; hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena); sonolância e/ou irritabilidade; diminuição da diurese; diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia; aumento repentino do hematócrito; queda abrupta de plaquetas; desconforto respiratório. Ou seja, juntamos os alarmes da Covid-19 com os alarmes das arboviroses.

Adaptado de: Nacher M, Douine M, Gaillet M, et al. Simultaneous dengue and COVID-19 epidemics: Difficult days ahead?. PLoS Negl Trop Dis. 2020;14(8):e0008426. Published 2020 Aug 14. doi:10.1371/journal.pntd.0008426

Mensagem prática:

  • Nem tudo que dá febre é Covid-19. Devemos ficar atentos aos diagnósticos diferenciais, principalmente em áreas endêmicas de arboviroses.
  •  Existe a possibilidade de coinfecções pela Covid-19 e  arboviroses.
  • Devemos ficar atentos aos sinais de alarme nos pacientes. Uma boa estratégia é focar tanto nos sinais de alarme do Covid quanto das arboviroses.

  

Referências bibliográficas: 

  • Ridwan R. COVID-19 and dengue: a deadly duo. Trop Doct. 2020 Jul;50(3):270-272. Epub 2020 Jun 26. PMID: 32588763. doi: 10.1177/0049475520936874
  • Nacher M, Douine M, Gaillet M, et al. Simultaneous dengue and COVID-19 epidemics: Difficult days ahead?. PLoS Negl Trop Dis. 2020;14(8):e0008426. Published 2020 Aug 14. doi:10.1371/journal.pntd.0008426
  • Ribeiro VST, Telles JP, Tuon FF. Arboviral diseases and COVID-19 in Brazil: Concerns regarding climatic, sanitation, and endemic scenario. J Med Virol. 2020 Nov;92(11):2390-2391. Epub 2020 Jun 16. PMID: 32462677; PMCID: PMC7283674. doi:10.1002/jmv.26079
  • Equipe de Comunicação da Sala de Situação em Saúde. UnB Notícias. 22/02/2021. Disponível em: https://www.noticias.unb.br/125-saude/4786-arboviroses-precisam-de-atencao-no-pais

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