Fração atribuível da sífilis congênita devido à falta de pré-natal

Embora a sífilis congênita seja uma doença evitável, sua incidência tem aumentado no Brasil nos últimos anos. Confira mais sobre o tema.

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A sífilis congênita foi descrita em 1954 como uma doença que ainda existia, mas que estava diminuindo rapidamente na incidência, que era destrutiva para os jovens e facilmente evitada e que sua importância dificilmente poderia ser superestimada. Entretanto, embora a sífilis congênita seja uma doença evitável, sua incidência tem aumentado no Brasil.

Em 2016, 37.436 casos de sífilis materna e 20.474 de sífilis congênita foram notificados no Brasil, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Entre 2010 e 2016, a taxa de infecção aumentou de 2,4 para 6,8 casos por 1000 nascidos vivos, provavelmente como consequência do aumento da taxa de detecção de sífilis em mulheres grávidas (de 3,7 para 12,4 casos por 1.000 nascidos vivos).

No Estado de São Paulo, foram registrados 24.108 casos de SC no período de 1987 a 2015. Segundo dados do “Boletim Epidemiológico da Sífilis” publicado em 2016, além do aumento das taxas de incidência de sífilis congênita no Brasil, a mortalidade infantil por essa doença deve ser seriamente considerada. A incidência de sífilis congênita em crianças menores de 1 ano aumentou de 1,7 casos por 1.000 nascidos vivos em 2004 para 6,5 casos por 1.000 nascidos vivos em 2015. Já a mortalidade infantil por sífilis aumentou de 2,4 por 1.000 nascidos vivos em 2005 para 7,4 por 1.000 nascidos vivos em 2015.

paciente segurando bebe com sífilis congênita

Sífilis congênita devido à falta de pré-natal

Desta forma, com o objetivo de determinar a fração atribuível de sífilis congênita devido à falta de pré-natal entre as mulheres expostas no Estado de São Paulo, Martinez e colaboradores (2019) realizaram o estudo Attributable fraction of congenital syphilis due to the lack of prenatal care, publicado em maio na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

Metodologia

Neste estudo ecológico, foi utilizado um modelo espaço-temporal bayesiano para estimar a fração atribuível de casos de sífilis congênita devido à falta de pré-natal registrados entre 2010 e 2015 no estado de São Paulo.

Resultados

  •  Para os recém-nascidos (RN) de mães que não realizaram o pré-natal, as taxas médias de incidência de sífilis congênita em 2010 e 2016 foram de 26,6 casos por 1.000 (9,9-62,0) e 77,7 por 1000 (29,2-181,3) nascidos vivos, respectivamente;
  • Nos recém-nascidos de mães que realizaram pré-natal, as taxas médias de incidência de sífilis congênita em 2010 e 2016 foram de 1,2 casos por 1.000 (0,5-2,4) e 5,6 por 1000 (2,7-11,2) nascidos vivos, respectivamente;
  • Para o ano de 2010, estima-se que 87 a 97% dos novos casos de sífilis congênita eram atribuíveis à falta de pré-natal. Para o ano de 2016, esses valores variaram de 79,4 a 95,3%;
  • Com base nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), Martinez e colaboradores (2019) observaram que a proporção de gestantes que realizaram pelo menos uma consulta pré-natal permaneceu aproximadamente constante durante todo o período do estudo em todos os departamentos regionais de saúde do Estado. Para todo o Estado de São Paulo, essas proporções foram de 98,9% em 2010, 98,7% em 2012 e 99,0% em 2016;
  • A taxa de incidência de sífilis congênita aumentou em ambos os grupos, entre as mulheres que fizeram ou não fizeram o pré-natal.

Conclusões

Martinez e colaboradores (2019) destacam que os resultados obtidos com este estudo sugerem que outros fatores, e não apenas a realização do pré-natal, podem estar associados ao rápido aumento da incidência da doença, e estes fatores precisam ser investigados em estudos futuros.

Alguns autores relacionaram a presença de sífilis congênita com variáveis como escolaridade materna e etnia, mas essas características podem não ser suficientes para explicar o aumento da incidência nos últimos anos. Outra explicação poderia ser o aumento da taxa de notificação pelos prestadores de cuidados de saúde. No entanto, este estudo enfatiza que uma proporção significativa de casos de sífilis congênita pode ser evitada se a cobertura do pré-natal for ampliada.

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Referências bibliográficas:

  • MARTINEZ, E. G. et al. Attributable fraction of congenital syphilis due to the lack of prenatal care. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.52,.e20180532, 2019.

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