Giardíase (infecção por Giardia lamblia)

Giardia lamblia é um protozoário flagelado que habita o trato gastrointestinal, sendo capaz de causar doença em humanos.

Giardia lamblia – também denominado como G. duodenalis ou G. intestinalis — é um protozoário flagelado que habita o trato gastrointestinal, principalmente duodeno e intestino, sendo capaz de causar doença em humanos.

O ciclo de vida da G. lamblia envolve duas etapas: o trofozoíta, que é a forma de vida livre, e o cisto. A infecção ocorre após ingestão de cistos, com inóculo que pode ser tão pequeno quanto 10 a 15 cistos. Os cistos eclodem e liberam os trofozoítos, que colonizam e proliferam por divisão binária nas partes proximais do intestino delgado, especialmente duodeno e jejuno, aderindo-se aos enterócitos. Disfunção da barreira epitelial e apoptose são mecanismos implicados como possíveis mecanismos patogênicos causados pelo parasita.

Maior suscetibilidade a giardíase já foi vista em indivíduos com cirurgia prévia de estômago e redução da acidez gástrica. Pacientes com AIDS geralmente não tem sintomas mais grave, mas podem ter doença refratária ao tratamento.

Diferentes genótipos de G. lamblia têm diferentes capacidades de causar infecção sintomática, mas a associação de genótipos específicos com doença ainda exige análises de isolados de múltiplas partes do mundo.

Leia também: Quais os agentes etiológicos causam diarreia aguda?

Giardíase (infecção por Giardia lamblia)

Sintomatologia Giardíase

Após a ingestão dos cistos, o período de incubação é de aproximadamente 1 a 2 semanas. Entretanto, infecção por G. lamblia pode variar desde portadores assintomáticos, a diarreia aguda autolimitada, a uma síndrome crônica com diarreia, má absorção e perda ponderal.

Muitos dos indivíduos sintomáticos consegue clarear a infecção de forma espontânea, mas a maioria desenvolve quadro diarreico que pode durar algumas semanas. A giardíase sintomática é caracterizada por início agudo de diarreia, cólica abdominal, meteorismo, flatulência e distensão abdominal. Astenia, náuseas e anorexia são comuns. Mais raramente, podem ocorrer vômitos, febre e tenesmo.

Inicialmente, a diarreia pode ser profusa e líquida, mas posteriormente as fezes tornam-se gordurosas e mau cheirosas. A média de evacuações é alta, podendo chegar até nove por dia. A presença de pus, sangue ou polimorfonucleares nas fezes sugere um diagnóstico alternativo.

Uma característica importante para distinguir a giardíase de outras causas de diarreia é seu tempo prolongado, geralmente com duração de mais de uma semana. Perda ponderal é comum e pode ser significativa, com perda de cerca de 4kg em mais de 50% dos casos. Manifestações extra intestinais são incomuns, mas podem incluir urticária, rash cutâneo, artrite reativa, queixas oculares, doença biliar ou infecção gástrica. A última só ocorre na presença de acloridria.

A maioria das pessoas infectadas apresenta um curso benigno. Entretanto, uma porção da população – especialmente crianças menores do que 5 anos e gestantes – pode desenvolver doença grave, com depleção de volume, e necessitar de hospitalização.

Os indivíduos que desenvolvem diarreia crônica podem apresentar astenia intensa, lassidão, cefaleia e desconforto epigástrico ou abdominal difuso que geralmente piora com alimentação. As fezes podem ser gordurosas, mau cheirosas ou espumosas e amareladas, com evacuações frequentes e de pequeno volume. Perda de peso é comum e a diarreia pode alternar com períodos de constipação ou de evacuação normal. Má absorção pode ocorrer em vários graus e intolerância a lactose pode persistir por semanas após o tratamento.

Diagnóstico Giardíase 

O diagnóstico deve ser considerado em todos os pacientes com história de diarreia prolongada, principalmente se associada com má absorção e perda de peso.

O método mais tradicional de diagnóstico é o exame microscópico de fezes, com pesquisa de ovos e trofozoítas. Entretanto, métodos mais modernos têm sido utilizados já há alguns anos, principalmente detecção por imunofluorescência ou ensaios enzimáticos e não enzimáticos de detecção de antígeno.

A detecção de G. lamblia pelo método microscópico varia de 60 – 80% com exame de 1 amostra de fezes, podendo aumentar pata 90% quando são analisadas 3 amostras. Ensaios para detecção de antígeno têm uma sensibilidade de 85 – 95% e especificidade de 90 – 100%. Métodos moleculares de identificação por PCR também são utilizados, com alta sensibilidade.

Entre os diagnósticos diferenciais, devem ser consideradas outras síndromes diarreicas causadas por vírus, bactérias não invasivas e protozoários, como Cryptosporidium spp. e Cyclospora cayetanensis.

Tratamento Giardíase 

Os antiparasitários de escolha para o tratamento de giardíase são tinidazol, metronidazol e nitazoxanida. Todos podem ser utilizados nas populações adulta e pediátrica, mas devem ser evitados em gestantes no primeiro trimestre.

Antiparasitário Adultos Crianças
Tinidazol 2 g, dose única 50 mg/kg, dose única (dose máxima de 2g)
Metronidazol 250 mg, 8/8h, por 5 a 7 dias 5 mg/kg, 8/8h, por 7 dias
Nitazoxanida 500 mg, 8/8h, por 3 dias 12 – 47 meses: 100 mg, 12/12h, por 3 dias

4 – 11 anos: 200 mg, 12/12h, por 3 dias

 

Tinidazol e metronidazol têm eficácias semelhantes: 90% e 80 a 95%, respectivamente. O perfil de eventos adversos também é similar entre as duas drogas, incluindo gosto metálico, náuseas, vertigem, cefaleia e, mais raramente, neutropenia, neuropatia periférica e crises convulsivas. A eficácia da nitazoxanida é estimada entre 65 a 85% e desconforto abdominal é o principal evento adverso.

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Prevenção Giardíase 

A prevenção contra giardíase consiste prioritariamente em cuidados com tratamento e acondicionamento da água usada pela população e cuidados individuais de higiene pessoal. Ferver a água antes do consumo é um método eficiente para eliminar G. lamblia. Alimentos crus que podem ter sido lavados ou manipulados com água contaminada devem ser evitados.

Referências bibliográficas:

  • Hill, DR, Nash, TE. Giardia lamblia. In: Bennet, JE, Dolin, R, Blaser, MJ. Mandell, Douglas, and Bennett’s Principles and Practice of Infectious Diseases. 8ª ed. Saunders, 2015. p. 3154-3160.

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