Golden Hour, traduzindo Hora Ouro, é o termo utilizado para denominar a primeira hora de vida do bebê após o seu nascimento. O clampeamento tardio do cordão umbilical, a promoção e manutenção do contato pele a pele e o início precoce do aleitamento materno exclusivo, ainda na Golden Hour, são três cuidados simples e baseados em evidências científicas que promovem inúmeros benefícios para díade mãe e bebê, inclusive são comprovadamente um fator de proteção contra mortalidade neonatal.
O Ministério da Saúde recomenda que ao nascer, os bebês com boa vitalidade devem ser colocados em contato pele a pele sobre o abdômen ou tórax de suas mães, em decúbito ventral, durante a primeira hora de vida. A cabeça do recém nascido deve ser protegida com uma touca e um cobertor seco e aquecido deve ser colocado sobre o bebê, o abdômen ou o tórax da mãe. A promoção do contato pele a pele auxilia na termorregulação do bebê, adaptação da vida extrauterina, colonização da pele do recém nascido e promove uma oportunidade ímpar para o início da amamentação precoce.
Bebês ativos e reativos, ao nascerem vivenciam um estado de alerta durante a primeira hora de vida devido a ação de catecolaminas liberadas durante o trabalho de parto. Quando são colocados sobre o abdômen ou tórax da mãe, são capazes de rastejar e buscar o seio materno e iniciar movimentos de sucção. Esse comportamento biológico do bebê é conhecido como Breast Crawl.
Benefícios da golden hour
Bebês amamentados na primeira hora de vida possuem 22% menor risco de mortalidade, se comparados com bebês que não vivenciaram esse momento com suas mães. Um estudo conduzido na Índia evidenciou que o risco de mortalidade neonatal aumentou em 78% em bebês que iniciaram o aleitamento materno tardiamente, ou seja, após as primeiras 24 horas de vida.
Esse fator de proteção do aleitamento materno na Golden Hour parece ter relação com os aspectos imunológicos e probióticos do leite materno. Com a aquisição de bactérias saprófitas que colonizam o trato intestinal e fatores imunológicos bioativos como a Imunoglobulina A, ambos presentes no colostro, o recém nascido diminui os riscos infecciosos e, consequentemente, a mortalidade por essas causas.
Além disso, estudos demonstraram que o colostro de mulheres, cujos bebês são prematuros, possuem maior concentração de interleucinas e fatores de crescimento (TGFβ1),se comparado ao colostro de mães de bebês a termo. A amamentação ainda na sala de parto também está relacionada a maiores taxas de aleitamento materno e aleitamento materno exclusivo aos seis meses.
Para a mulher, amamentar na primeira hora após o parto favorece a descida do leite e diminui os riscos de hemorragia, uma vez que há estimulação da liberação de ocitocina, que tem a função tanto de ejeção de leite quanto de contração uterina. Além disso, é possível observar outros benefícios como fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê, redução do estresse materno e menor risco de depressão pós-parto.
Uma vez que a amamentação precoce tem associação direta com maiores taxas de aleitamento materno e aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses, é importante destacar também os benefícios a longo prazo para a saúde da mãe e bebê: Proteção contra doenças infecciosas e alérgicas, promoção do desenvolvimento craniofacial, proteção contra morte súbita, melhor desenvolvimento motor, proteção contra câncer de mama, ovário e endométrio nas mulheres, maior perda de peso, etc.
Diante da gama de benefícios que tais práticas baseadas em evidências conferem para a saúde da mulher e seu bebê, a equipe de enfermagem tem fundamental importância para que a assistência na sala de parto garantam a realização desses cuidados, devendo ser adiado todo e qualquer procedimento que separe o binômio mãe e bebê, como banho e avaliação antropométrica.
Referências bibliográficas
- Boccolini CS, et al. Breastfeeding during the first hour of life and neonatal mortality. J Pediatr (Rio J). 2013;89(2):131−136
- Brasil. Ministério da Saúde. Além da sobrevivência: práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. – 1. ed., 1. reimp. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 50p.
- Brasil, Ministério da Saúde. Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Secretaria de atenção a saúde. Brasília, DF, 2010.